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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

8 de mar. de 2015

DIA DO BIBLIOTECÁRIO


DIA DO BIBLIOTECÁRIO


3 de mar. de 2015

BIBLIOTECA ALTERNATIVA: onde, como e por quê?


Sociedade Alternativa, como já cantava nosso lendário Raul Seixas, sexo alternativo, academia alternativa, medicina alternativa... Vivemos numa época em que o alternativo é quase sinônimo de modismo. O individuo já não possuí tempo pra nada, aliás, viver hoje em dia já consome o próprio tempo. Se em anos não muito distantes, cursar uma simples universidade era sinônimo de obter o diploma e ir à busca da carreira desejada, hoje o título acadêmico do bacharelado é apenas o primeiro degrau e chegar ao doutorado talvez seja a meta de só aí começar os degraus de onde se almeja chegar. Estes são, infelizmente, o reflexo de um mundo competitivo, onde sobrevive quem souber ser mais alternativo.


O sujeito que, antes ao fim do dia, conseguia ler um livro, se não por hábito, ao menos para relaxar, agora mergulha no advanço tecnológico e suas horas são em frente à tela de um computador, onde a leitura de outrora, com páginas físicas, agora nada é além de palavras virtuais.

Visitar biblioteca? Só se for indispensável para algum trabalho ou pesquisa acadêmica.  Já o João, o Pedro e a Teresa, aqueles indivíduos do povo, que em algumas raras vezes tentaram adentrar um biblioteca, foram impelidos nesta tentativa porque algum bibliotecário muito técnico os orientou a não folhear os livros ou mesmo tirá-los do lugar sem o devido auxilio. Estes casos não são tão raros e muitos deste modo acabaram constrangidos e até mesmo inclinados a não mais frequentar uma biblioteca.

Entra então a leitura alternativa, aquela que vai onde o leitor esta, que busca o seu leitor sem que este necessite ir até o livro. Mas e o que são Bibliotecas Alternativas de fato?  O termo Biblioteca Alternativa, foi cunhado por Almeida Junior[1] (2003), a partir de suas observações quanto a propostas de espaços informacionais surgidos, principalmente, nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Definiam-se como espaços diferenciados das bibliotecas públicas, uma vez que consideravam estas últimas como reprodutoras do pensamento das classes dominantes. O termo "alternativas" foi empregado pelo autor como uma forma de tornar claro o caráter eminentemente político que embasava as atividades e ações da maioria desses espaços. Refutava, dessa maneira, termos anteriormente empregados, como "Bibliotecas Especiais" que, no seu entender, buscavam amenizar os questionamentos apresentados por esses novos espaços.



[1] ALMEIDA JR., O. F. Bibliotecas públicas: avaliação de serviços. Londrina: EDUEL, 2008.
Livros distribuídos em alas infantis
dos hospitais da cidade de Rio Grande - RS
Será que a Biblioteconomia está preparada para atender este usuário alternativo, dentro desta conotação de Biblioteca Alternativa? Pessoalmente eu diria que ainda estamos longe disso, embora tenhamos muitos profissionais da informação aguerridos neste novo contexto de Biblioteconomia Social. Mas é preciso ainda muito trabalho conscientizador para que de fato se possa em fim compreender que a atuação do profissional bibliotecário vai muito além de somente organizar o acervo desses espaços de leitura, como afirma Rabelo[2] (1987). Deve ser diferente nas bibliotecas populares em relação à biblioteca pública Buscando uma verdadeira biblioteca popular, é preciso que o bibliotecário, enquanto agente, se coloque diante das camadas populares como um incentivador, um catalisador e não alguém que exerça algum tipo de dominação. Dominação traduzida, por exemplo, em direcionar a biblioteca para determinados serviços ou prioridades. Para tal é preciso que este profissional tenha ciência de que não lida apenas com a classificação de obras, mas acima de tudo com a classificação de saberes, fazendo valer o seu papel de agente de educação e acima de tudo, um mediador da informação.

Segundo Favero[3] (1983), um dos autores que adotou essa perspectiva teórica em sua reflexão sobre a cultura, tendo definido com grande propriedade o conceito em seu trabalho sobre cultura popular e educação. De acordo com o autor:
                                                      Cultura é tudo o que o homem acrescenta à natureza; tudo o que não está inscrito no determinismo da natureza e que aí é incluído pela ação humana. Distinguem-se na cultura os seus produtos: instrumentos, linguagem, ciência, a vida em sociedade; e os modos de agir e pensar comuns a uma determinada sociedade, que tornam possíveis a essa sociedade a criação da cultura. (FAVERO, 1983 p.78).

Não há como conceber uma Biblioteca Alternativa sem antes agregar os valores culturais que esta invoca. Voltamos então a lembra a formação do bibliotecário como agente cultural.  Flusser[4] (1982) afirma que ela deve se dar em basicamente três eixos complementares: a formação técnica, a humanística e a prática, consideradas como necessárias para que o profissional busque uma atuação através de contatos com públicos de diferentes contextos e realidades.

Se espera do agente cultural bibliotecário que seja uma pessoa com várias especializações, habilidades e qualidades excepcionais; o que se requer é um profissional versátil e com uma visão abrangente de cultura, alguém que tenha uma aguda consciência dos valores culturais e, sobretudo, um compromisso social com a profissão, disposto a: 
                                     [...] incorporar na prática cotidiana da biblioteconomia a dimensão da procura, para que a biblioteca se transforme em um instrumento dinâmico e dialógico, contribuindo assim para uma democratização cultural. (FLUSSER 1982, p.236).

Penso então que já esteja mais do que na hora do profissional Bibliotecário utilizar o que em verdade lhe torna único em sua atuação profissional: a informação. Os mecanismos de busca hoje são outros bem mais dinâmicos, a web absorveu os leitores de tal modo, que nas bibliotecas tradicionais vemos mais prateleiras em poeiradas e corredores vazios do que mesmo usuário que foi buscar uma obra tão somente na gana de ler um livro. O caminho talvez esteja na junção destas duas praticas: Cultura e Informação. Ou seja, Bibliotecas Alternativas para levar ao leitor a leitura que lhe cabe naquele local e momento.
Livros distribuídos em alas infantis 
dos hospitais da cidade de Rio Grande - RS
     
Ora, são tantos os locais onde há possibilidade real de levar uma biblioteca alternativa que enumerar seria encher páginas cansativas de opções. Mas vamos como cidadã e Bibliotecária, com os olhos aguçados e famintos pela cultura e acima de tudo com a mente voltada para uma Biblioteconomia Social, eu viajei na lembrança por vários pontos da cidade e por mais ousados que os mesmos me fossem, pensei: “Não, qualquer lugar não cabe para a cultura, pois ela deve ser moldada, absorvida e acima de tudo enraizada no futuro leitor e este deve ter como priori um local demasiado em número de pessoas e com tempo ocioso de tal modo em que a leitura lhe seja aprazível e consoladora”.

O livro atuando como Biblioterapia

Somos reféns de horas intermináveis e cansativas na espera de atendimento nos pronto-atendimentos dos hospitais de emergência. Acredite, são por vezes mais de três horas de espera para por fim ser atendido. O público, neste caso, pacientes, é dos mais variados, de crianças, idosos e adultos. Mas todos com uma peculiaridade que os torna únicos: Povo. Sim... Quando uso este termo me refiro no sentido de que são pessoas sem acesso a um plano de saúde, pessoas simples e humildes, cujos quais eu já observei até lendo panfletos de supermercado, para que assim o tempo lhes passe sem ter que ficar olhando as horas mortas na ânsia de serem chamados.

Crianças internadas recebendo livros
Outro cenário dos hospitais são a clinica médica de internação. Ainda me fazendo valer como experiência deste espaço, afirmo o quão interminável são as horas mortas quando se está na espera de um paciente internado no Centro de Tratamento Intensivo – CTI. Por mais de 20 dias eu fiquei à espera de meu pai sair de um lugar destes... Sentada naqueles bancos totalmente desconfortáveis e lendo até aqueles jornaizinhos que o povo da igreja distribui dentro do hospital. Uma vez que meu velho saiu do CTI, foram mais 25 dias de internação no leito hospitalar. 

Como filha única, eu não tinha como me dar ao luxo de sair, ir a minha casa buscar algum livro... Sem contar que depois de alguns dias num local destes, onde o ponteiro do relógio parece travar, a gente passa a observar tudo, talvez em busca de um passatempo mental. Notei que vários pacientes não possuem acompanhantes em tempo integral e outros nem isso. Ficam a olhar para o teto, contam gota por gota do soro que lhes adentra as veias e o olhar perdido é o semblante de todos.
                                                         Com a leitura terapêutica o leitor se distancia de sua própria dor e também é capaz de expressar seus sentimentos e ideias, possibilitando uma percepção mais aguçada de sua situação de vida. A partir daí desenvolve-se ainda uma forma de pensar criativa e crítica. Ler também diminui o sentimento de solidão, e estimula uma maior empatia com outras pessoas. (CALDIN, 2010)
Profissionais como psicólogos, educadores, bibliotecários e assistentes sociais, quando bem preparados e treinados, podem aplicar a terapia por meio de livros. Portanto, afirmo que a tarefa é árdua, mas jamais impossível. Basta usar de argumentos consistentes, embasados em pesquisas e apoio da Academia Médica, sob o respaldo do olhar bibliotecário e aí sim teremos como de fato dar um alento literário. 
Mãe esperando atendimento médico para a filha,
esta já com livro que ganhou nas mãos.
Lembro que já existe um projeto de Lei com parecer favorável a implantação obrigatória de Bibliotecas dentro das dependências hospitalares.  A Câmara dos Deputados analisa proposta que estabelece o uso da biblioterapia, ou seja, a terapia por meio da leitura, nos hospitais públicos e naqueles contratados ou conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida está prevista no Projeto de Lei 4186/12, do deputado Giovani Cherini (PDT-RS).
 Uma Biblioteca Alternativa dentro de hospitais, que venha a congratular tanto os pacientes, quanto os seus acompanhantes, tendo como foco a cura da mente, enquanto o corpo aguarda para ser curado.

Livros que foram distribuídos nos hospitais.
O nome que dou à isso é BIBLIOTECONOMIA SOCIAL

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA JR., O. F. Bibliotecas públicas: avaliação de serviços. Londrina: EDUEL, 2008.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Acesso em 30 nov. 2013. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=551578

CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo: Porto de Ideias, 2010.

FAVERO, O, org. Cultura popular e educação; memória dos anos 60. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
FLUSSER, V. A biblioteca como um instrumento de ação cultural. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.12, n.2, p.145-169, set.1983.

RABELLO, O. C. P. Da biblioteca pública à biblioteca popular. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.16, n.1, p.19-42, mar.1987. 





[1] ALMEIDA JR., O. F. Bibliotecas públicas: avaliação de serviços. Londrina: EDUEL, 2008.

[2] RABELLO, O. C. P. Da biblioteca pública à biblioteca popular. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.16, n.1, p.19-42, mar.1987. 
[3] FAVERO, O, org. Cultura popular e educação; memória dos anos 60. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
[4] FLUSSER, V. A biblioteca como um instrumento de ação cultural. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.12, n.2, p.145-169, set.1983.
[5] CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo: Porto de Ideias, 2010.

Matéria do Bom Dia Rio Grande


Matéria do jornal Bom Dia Rio Grande sobre a biblioteca prisional na Penitenciária Estadual do Rio Grande (PERG). 

Biblioteca Prisional - Entrevista com os presos


TV FURG - Programa MULTIFOCO nº 75 
BLOCO 02 - 22/11/2013