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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

21 de fev. de 2017

Ela é Professora de Língua Portuguesa, com Pós em Literatura e desenvolve um projeto de leitura dentro de presídio em Teresina (PI)

Lidiane Barbosa, Professora de Língua Portuguesa, com pós-graduação em Literatura Brasileira e Portuguesa, têm ajudado a mudar a rotina das detentas da Penitenciária Feminina de Teresina. Atualmente ela cursa Pedagogia na UFPI. Mas para ter como frequentar a Universidade, Lidiane recebe da Secretaria de Justiça e Direitos Humanos um regime especial e transporte para realizar o curso. Sabem por quê? Porque ela também é uma apenada. 

Nos últimos anos, Lidiane Barbosa, condenada a 16 anos de reclusão, incentiva as companheiras de cela na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ela trabalhou 19 anos como professora na rede pública de Fortaleza, foi para Teresina e ficou detida depois que o marido foi encontrado morto, embora afirme que ele se matou, a justiça entendeu que a esposa era a responsável pelo assassinato do marido.

“Meu marido se matou. Não existem provas contra mim. Eu fui absolvida, depois condenada. Meu advogado perdeu prazo para recorrer e acabei sendo recolhida. É uma situação complicada, mas tento todo dia passar para elas que não desistam dos estudos. Incentivo a ler e agora a fazer o Enem”.

Ao ter sua liberdade privada, Lidiane Barbosa decidiu que enquanto estivesse presa mudaria a realidade da Penitenciária Feminina de Teresina. Repassaria os conhecimentos adquiridos para as presas que desejassem aprender. Lidiane desenvolveu um projeto de leitura dentro do presídio. Ela é a responsável pela biblioteca do local e duas vezes por semana percorre os pavilhões fazendo empréstimo dos livros.

“Antes de começar o projeto, sempre falava da importância da leitura e dos estudos para elas (detentas). Até que passei a ser a responsável pela biblioteca. Então, comecei a catalogar os livros e emprestá-los. Coloco num caderno o dia que elas pegam as obras e marco o dia de devolução”, explicou a professora.

O incentivo à leitura foi mais além. Lidiane conversou com as presas sobre a importância do Enem e convenceu muitas a prestar o exame e passou a corrigir as redações das companheiras.

“Temos aulas através do Programa Mais Saber da Secretaria de Educação, entretanto, algumas meninas estudam dentro de suas celas. Estas acreditam que o Enem trará uma mudança de vida quando saírem daqui. Umas pensam em se formar e ter uma vida digno”, relatou.

Uma destas presas é Ronnayra Cardoso, 24 anos, presa por tráfico de drogas na cidade de Barras, no Norte do Piauí, e transferida para Teresina. Mãe de três filhos, a jovem diz que por um momento de fraqueza caiu no crime e agora desejar sair da cadeia como uma mulher de bem. Ela desabafa:

“Lá fora fiz só até a 8ª série do ensino fundamental. Quero dar uma vida mais digna para meus filhos, por isso estou estudando aqui dentro. A Lidiane me ajudou muito neste processo. Ainda não fui sentenciada, mas espero sair logo do presídio”.



Fonte: JL/G1PI

14 de fev. de 2017

Alunas de Biblioteconomia implantam Biblioteca em Penitenciária de Porto Velho, Rondônia

Alunas do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Rondônia (Unir), transformaram a atividade de estágio profissional obrigatório em ação social que resultou na implantação de biblioteca na Penitenciária Estadual Feminina de Porto Velho, Rondônia. O projeto começou em março do ano passado e nasceu pela iniciativa da Diretora Administrativa da Instituição Penal – há 11 anos e então graduanda de Biblioteconomia, Cristiane Garcia Bures, e ela nos relata sobre este feito:

Sou agente penitenciária, lotada na Penitenciária Estadual feminina, da capital de Rondônia. Quando estava no sétimo período, tive esse sonho de apresentar uma biblioteca para as reeducandas, já pensando em atender a Lei 12.244/2010, pois há uma escola aqui, acolher a produção de resenhas, conforme recomendação Nº44 do CNJ, e por fim, gerar o conhecimento, as práticas da biblioteconomia, pois seria um grande aprendizado para quem participasse dessa criação... Então sonharam comigo a Diretora de Segurança e também acadêmica de biblioteconomia à época, Auricelia Gouvea, e o Professor Marcos Hubner (professor de Estágio Supervisionado e chefe do departamento de Biblioteconomia da UNIR) que me incentivaram e me apoiaram nessa jornada.

Todos os que em todo o mundo, a nível nacional e local, têm poder de decisão e a comunidade de bibliotecários em geral são instados a implementar os princípios expressos neste Manifesto., esta frase do Manifesto da IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Públicas me impactou, então pensei: Não posso fazer este curso e não mudar nada ao meu redor.

Sobre o Começo: Em março de 2016, eu e as acadêmicas Geane, Iasmim e Jenifer demos inicio ao nosso estágio, supervisionado pela professora Bibliotecária Maria Rosa, organizamos todo o acervo, classificando, carimbando e etc., pois a biblioteca começou do zero, nesse período recebemos muitas doações de livros, pois eram poucos os disponíveis. Hoje tem sido um sucesso, os dados são impressionantes, no primeiro mês de funcionamento foram emprestados aproximadamente 100 livros, fiz desse projeto tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso - TCC. 

Sobre as dificuldades a cerca do projeto: Para alcançar nosso objetivo não foi fácil, por ser dentro de uma unidade prisional, esbarramos com muitas dificuldades, que conseguimos vencer devido o apoio incondicional da Direção do Presídio, caso contrário o projeto estaria parado. Não é fácil, mais os depoimentos das reeducandas sobre a leitura, fez valer a pena! 


Sobre a Biblioteca hoje: Enquanto eu estiver por lá, a biblioteca funcionará a todo vapor! Mas não é fácil manter, porque sempre vai ter alguém querendo a sala (espaço físico), afirmando não ter importância uma biblioteca. Algumas presas ja leram mais 20 livros em 2016, isso me inspira. A leitura muda tudo, elas mudaram o comportamento, o vocabulário e a escrita, são produzidas em média 16 resenhas por mês. Na biblioteca ficamos nos e as presas somente, sem agentes, elas entram lá e falam: acabei de sair da cadeia e estou na biblioteca, muitas delas nunca entraram em uma. Elas ficam encantadas com o tratamento, se precisam de algo, uma pesquisa, por exemplo, se não tiver o livros, procuramos na internet e ninguém sai com um “não”. 

Das quatro, então discentes de Biblioteconomia, além de Cristiane, outra também é agente penitenciário: Auricelia Gouveia, diretora de segurança há seis anos, na mesma Unidade Prisional, e ela nos conta mais sobre o projeto: 

"A Cris teve a ideia de montar o projeto e olha, foi um sucesso! O projeto continua e as presas amam ir à biblioteca, tem umas que leem bastante. Após a leitura do livro elas podem fazer uma resenha crítica e se conseguirem desenvolver com clareza e dentro das normas, elas ganham remição extra pela leitura."

Sobre apoio do Curso: Tivemos a ajuda e apoio incondicional do professor de Catalogação, Marcos Hubner. Ele ajudou a organizar a biblioteca e nos deu todo o suporte necessário dentro do curso. Já o meu TCC eu discorri sobre a Lei 12.244/2010 - As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei. 

Aproveitamos o tema de monografia da Auricelia para ressaltar que esta Lei (12.244/2010) de certa forma pode e deve abranger o cárcere, já que fala da presença de bibliotecas em instituições de ensino e existe a incumbência legal de ações socioeducativas nas prisões, estabelecendo como obrigatoriedade a presença das bibliotecas na prerrogativa de assim haver condições para realizar os estudos e pesquisas dos apenados durante o ensino prisional. 

Sobre o Cárcere: Infelizmente o público carcerário é visto como o lixo da sociedade, querem ressocializar sem socializá-los, uma dificuldade enorme, nossos colegas às vezes dificultam o trabalho, pois não acreditam em mudança desse público. Minha chefe sempre diz que temos que acreditar no ser humano... Vamos unindo forças, nossa biblioteca é a prova que com pouco esforço e força de vontade conseguimos ir mudando um pouco e divulgando a importância do bibliotecário, da leitura e da biblioteca. 

Sobre apenada graduanda de Biblioteconomia - O trabalho realizado pelas alunas foi tão inspirador que motivou uma apenada a enveredar no curso de Biblioteconomia. Auricelia nos relata, emocionada: O nome dela é Diocleia dos Santos, ela chegou pra mim e disse: 

- Dona Auricelia, qual o curso que a senhora cursa? 

- Biblioteconomia. 

- Taí, vou me inscrever nesse curso. 

E se inscreveu e foi aprovada, hoje está no quinto semestre. Ela também concluiu o curso de Pedagogia – à distância, iniciou dentro da prisão, saia escoltada uma vez ao mês para as aulas presenciais da faculdade. O Estado não deu uma contrapartida no tocante ao financeiro, ela pagava tudo referente ao curso. Já tentamos uma parceria com a UNIR, pois muitas delas são aprovadas no Enem, sugeri cursos técnicos a distancia, mas até agora não obtivemos êxito, relata Auricelia. 

Soubemos do feito destas – então, graduandas de Biblioteconomia exatamente por meio do professor Marcos L F Hübner, que acreditou na iniciativa da Cris e junto das alunas tornou o projeto de biblioteca prisional em uma realidade que hoje já colhe resultados, tanto no âmbito jurídico (remição de pena por meio da leitura), quanto na agregação social para nossa área. E o professor de Biblioteconomia, Marcos, nos fala mais sobre o projeto: 

Sou professor aqui na Federal de Rondônia. A ideia foi da aluna, que também é Diretora do Presídio Feminino, a Cristiane Garcia. Deu muito certo, ao contrário do que ela imaginava. Algo que eu sempre disse para os alunos: Construa espaços no qual o usuário seja tratado com dignidade, que o usuário virá.  Eu acredito no poder do livro e da leitura, aprendi isso com minha mãe. Sou filho de uma empregada doméstica analfabeta, que ressaltou a importância do Livro. 

Sobre Biblioteconomia Social: Neste semestre tenho dois orientandos que estão trabalhando a questão do envolvimento do bibliotecário nas questões sociais, a sua responsabilidade social, o que, aliás, é esquecido em nossa formação. Preocupam-se muito com Gestão da Informação e acabam por esquecer-se das bibliotecas (Escolares, Públicas e Populares) e principalmente do usuário final. Temos de cutucar o velho tecnicismo. E olha só, a ironia do mundo, sou professor de Catalogação. Eu amo a nossa profissão, e procuro deixar claro para os alunos, que o principal em uma Biblioteca, ou Unidade de Informação, como gostam os modernos, é, nada além dele, o usuário. Uma biblioteca bem organizada, mesmo sem nenhum recurso tecnológico é um sinal de respeito ao nosso usuário. 

Sobre a extensão do projeto para outras instituições penais: Nosso próximo passo será a organização da biblioteca do Presídio Federal. No qual há presos muito famosos rs.

Cristiane Garcia e Auricelia Gouvea
Cristiane Garcia colou grau em agosto de 2016 e Auricelia agora, em fevereiro de 2017. Temos hoje duas bibliotecárias que - antes mesmo da conclusão de curso, souberam dar aplicabilidade ao juramento da Biblioteconomia, corroborando para que tenhamos de fato a “preservação do cunho liberal e humanista” da nossa área. 

A biblioteca prisional da Penitenciária Estadual Feminina de Porto Velho hoje é uma realidade porque dentro da ineficácia governamental em fazer valer o que já é lei, essas alunas foram lá em fizeram, comprovando que basta boa vontade e uma dose de disposição para levar os livros às unidades penais. Encerramos esta matéria com a menção citada pela Cristiane, na época aluna e hoje formada em Biblioteconomia: 

"Não posso fazer este curso e não mudar nada ao meu redor"

Isso é Biblioteconomia Social. Inspiremo-nos!


Fonte: Relatos feitos pelas próprias alunas  para este espaço de discussão e disseminação de Biblioteconomia Social, bem como o depoimento do professor Marcos. Todos os registros de imagens são do arquivo pessoal de Cristiane Garcia.