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19 de dez. de 2015

Sim, a “Biblioteca da Prisão pode ser muito boa” - Resposta para o Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos

Presidente da Suprema Corte dos EUA, John G. Roberts Jr

O Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, John G. Roberts Jr, ficou surpreso ao constatar que os prisioneiros federais americanos estavam elaborando suas próprias defesas sem ajuda de advogados. Ao questionar sobre como haviam conseguido este feito, a resposta foi direta e sucinta: “Biblioteca da Prisão”. Ele riu sem acreditar e rebateu: “A biblioteca deve ser muito boa”.

A responsável pela “boa biblioteca” é Valerie Schultz, coordenadora da biblioteca do Departamento de Correção e Reabilitação da Califórnia. A biblioteca é encarregada de assegurar que os presos tenham acesso aos tribunais porque, na concepção de Valerie, apesar de serem criminosos condenados, os presos possuem direitos civis e humanos.

Ainda segundo Valerie, na biblioteca os presos contam com diversas obras jurídicas, os livros de direito tomam grande parte das estantes dentro do espaço literário. A biblioteca também dispõe de computadores que podem ser usados para pesquisar a jurisprudência e as regras dos tribunais, bem como um jornal diário jurídico.

Além disso, a biblioteca fornece papel e envelopes para a apresentação de documentos judiciais. Detalhe é que  tudo é confeccionado pelos presos, inclusive o papel feito com material reciclável. Os documentos são numerados, envelopados e saem da biblioteca já com selo direto para o Tribunal de Justiça, fazendo do apenado o seu próprio advogado, além de tornar este trabalho em remição de pena.

A biblioteca ainda conta com o trabalho fixo de três presos assistentes, que trabalham como auxiliares de Valerie, ganhando 24 centavos por hora e ela ressalta: “Estes auxiliares de biblioteca adquiriram novos hábitos e habilidades, eles podem aplicar isso em qualquer emprego depois de saírem da prisão, tais como pontualidade, responsabilidade, autodisciplina, higiene adequada, trabalho em equipe e, talvez o mais importante, o convívio social, já que atendem mais 300 leitores/advogados por dia, lidando com indivíduos de todos os tipos”.

O orçamento anual é investido em aquisições de livros que originam da "lista de desejos da biblioteca", elaborada pelos presos. O acervo também é composto por doações de livros dos detentos, seus familiares e comunidade e soma mais de 10.000 obras.O governo paga assinaturas de 30 títulos de revistas e fornece as coleções de enciclopédias, dicionários e outros livros de referência.

E a biblioteca vai além, oferecendo programas de produção literária, recursos de preparação para a condicional e um boletim trimestral, escritos e compilados pelos membros de um grupo de presos escritores que se reúne semanalmente dentro da biblioteca.

Valerie, sarcasticamente, manda um recado ao Presidente da Suprema Corte Roberts: “Será que nossa biblioteca não é suficientemente boa?” Ela cita ainda: “Biblioteca prisional é um lugar de leitura, escrita, aprendizado e apoio. É um oásis de normalidade em um deserto, muitas vezes intenso, privativo de liberdade. É limpa, calma e acolhedora. Não temos a mais recente tecnologia, mas nós fazemos todos os esforços para ser uma valiosa mina de informações. Se não sabemos algo, se não temos um recurso necessário, vamos buscá-lo. Às vezes me deparo com homens que nunca visitaram uma biblioteca antes de ir para a prisão, que nunca leram um livro. Vejo homens tentando reparar seus erros, usando as ferramentas de educação como reabilitação. O trabalho é duro, mas sou recompensada diariamente quando vejo o bem que pode ser feito em uma biblioteca muito boa".

Por fim, Valerie faz um convite ao Presidente da Suprema Corte: “Considere isso como um convite aberto, de um trabalhador do governo para outro, venha nos visitar e veja por si mesmo”.


2 comentários:

Muito interessante essa iniciativa americana

Muito interessante essa iniciativa americana

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