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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

19 de dez. de 2015

Sim, a “Biblioteca da Prisão pode ser muito boa” - Resposta para o Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos

Presidente da Suprema Corte dos EUA, John G. Roberts Jr

O Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, John G. Roberts Jr, ficou surpreso ao constatar que os prisioneiros federais americanos estavam elaborando suas próprias defesas sem ajuda de advogados. Ao questionar sobre como haviam conseguido este feito, a resposta foi direta e sucinta: “Biblioteca da Prisão”. Ele riu sem acreditar e rebateu: “A biblioteca deve ser muito boa”.

A responsável pela “boa biblioteca” é Valerie Schultz, coordenadora da biblioteca do Departamento de Correção e Reabilitação da Califórnia. A biblioteca é encarregada de assegurar que os presos tenham acesso aos tribunais porque, na concepção de Valerie, apesar de serem criminosos condenados, os presos possuem direitos civis e humanos.

Ainda segundo Valerie, na biblioteca os presos contam com diversas obras jurídicas, os livros de direito tomam grande parte das estantes dentro do espaço literário. A biblioteca também dispõe de computadores que podem ser usados para pesquisar a jurisprudência e as regras dos tribunais, bem como um jornal diário jurídico.

Além disso, a biblioteca fornece papel e envelopes para a apresentação de documentos judiciais. Detalhe é que  tudo é confeccionado pelos presos, inclusive o papel feito com material reciclável. Os documentos são numerados, envelopados e saem da biblioteca já com selo direto para o Tribunal de Justiça, fazendo do apenado o seu próprio advogado, além de tornar este trabalho em remição de pena.

A biblioteca ainda conta com o trabalho fixo de três presos assistentes, que trabalham como auxiliares de Valerie, ganhando 24 centavos por hora e ela ressalta: “Estes auxiliares de biblioteca adquiriram novos hábitos e habilidades, eles podem aplicar isso em qualquer emprego depois de saírem da prisão, tais como pontualidade, responsabilidade, autodisciplina, higiene adequada, trabalho em equipe e, talvez o mais importante, o convívio social, já que atendem mais 300 leitores/advogados por dia, lidando com indivíduos de todos os tipos”.

O orçamento anual é investido em aquisições de livros que originam da "lista de desejos da biblioteca", elaborada pelos presos. O acervo também é composto por doações de livros dos detentos, seus familiares e comunidade e soma mais de 10.000 obras.O governo paga assinaturas de 30 títulos de revistas e fornece as coleções de enciclopédias, dicionários e outros livros de referência.

E a biblioteca vai além, oferecendo programas de produção literária, recursos de preparação para a condicional e um boletim trimestral, escritos e compilados pelos membros de um grupo de presos escritores que se reúne semanalmente dentro da biblioteca.

Valerie, sarcasticamente, manda um recado ao Presidente da Suprema Corte Roberts: “Será que nossa biblioteca não é suficientemente boa?” Ela cita ainda: “Biblioteca prisional é um lugar de leitura, escrita, aprendizado e apoio. É um oásis de normalidade em um deserto, muitas vezes intenso, privativo de liberdade. É limpa, calma e acolhedora. Não temos a mais recente tecnologia, mas nós fazemos todos os esforços para ser uma valiosa mina de informações. Se não sabemos algo, se não temos um recurso necessário, vamos buscá-lo. Às vezes me deparo com homens que nunca visitaram uma biblioteca antes de ir para a prisão, que nunca leram um livro. Vejo homens tentando reparar seus erros, usando as ferramentas de educação como reabilitação. O trabalho é duro, mas sou recompensada diariamente quando vejo o bem que pode ser feito em uma biblioteca muito boa".

Por fim, Valerie faz um convite ao Presidente da Suprema Corte: “Considere isso como um convite aberto, de um trabalhador do governo para outro, venha nos visitar e veja por si mesmo”.


21 de out. de 2015

BIBLIOTECAS PRISIONAIS: o que você sabe sobre isso?






Acompanhe amanhã no Mural Interativo do Bibliotecário, mais uma edição do projeto BIBLIOTECONOMIA SOCIAL com a bibliotecária Cátia Lindemann. PARTICIPEM AQUI...

16 de out. de 2015

Obras de Grandes Autores para Download




O Blog Harmonia do Eu elaborou uma lista maravilhosa de grandes autores para Download. Você pode encontrar várias obras de Foucault, dentre eles Vigiar e Punir, além de consagrados autores, tais como: Freud, Jung, Karl Marx, Lênin, Durkheim, Rousseau, Hegel, Kant e vários outros.

Ainda que livros em PDF não tenham o mesmo prazer, para não dizer romantismo da obra física, é uma boa opção para quem precisa de acesso rápido e pratico sobre determinados assuntos. Além disso, é tudo grátis. Basta baixar e mergulhar na leitura. Vale a pena conferir. Acesse aqui...

15 de out. de 2015

Quando Universitários Prisioneiros Derrotaram Universitários de Harvard em Campeonato de Debates nos EUA

Carl Snyder, presidiário durante o debate.
Prisão de Segurança Máxima, Napanoch (Estados Unidos, Nova Iorque) – No palco do anfiteatro é promovido um debate entre três detentos (condenados há vários anos de prisão) e três Universitários de uma das instituições de ensino mais conceituada do mundo: Harvard. Após uma hora de amplo confronto discursivo, os juízes decretam o veredito: Os presos ganharam.

A plateia, compostas por outros apenados, aplaudiu em pé... Não acreditam que aquilo fosse possível. Mas foi!!!

O debate foi promovido pelo programa chamado Iniciativa Prison Bard, responsável por inserir os presos na Universidade desde 2001, com índice de menos de 2% dentro da reincidência ao crime por parte alunos-apenados. 

Os presos foram instruídos a fazer o argumento de que “As escolas públicas nos Estados-Membros devem ter a possibilidade de recusar a matrícula de estudantes sem documentos.” E assim o fizeram, com sucesso, pelo raciocínio que estudantes excluídos do sistema escolar público seriam mais bem servidos por escolas particulares. Crianças em situação irregular não são devidamente ensinadas nas escolas públicas, que se tornam “fábricas de abandono”.

Universitários de Harvard
Os alunos de Harvard não responderam a todas as questões e tão pouco conseguiram confrontar os contextos levantados pelos presos. Segundo eles, os presos os pegaram desprevenidos, pois não contavam com a preparação dos prisioneiros no que tange a assuntos sobre Cultura e principalmente Educação, pois não esperavam tantas linhas de raciocínio e argumentos tão bem articulados. Mas intenção do debate era justamente fazer um embate, em nível universitário, dos presos com os melhores alunos de Harvard, que até então jamais haviam perdido em outra conferência discursiva.

Da esquerda, presidiários Carl Snyder, Dyjuan Tatro e Carlos Polanco depois de vencer o debate.
FOTO: PETER FOLEY PARA THE WALL STREET JOURNAL
DETALHE: Os presos não tem acesso a Internet e somente lhes são oferecidos livros e artigos, que chega demorar semanas até estarem disponíveis, pois a instituição não conta com a presença de uma Biblioteca e sim apenas uma sala de leitura.

Ms. Nugent, uma das três juízas, disse que pode até parecer tentadora a ideia de favorecer a equipe de prisioneiros, mas eles precisam justificar os seus votos um ao outro, com base em regras e normas específicas. Segundo ela: “A capacidade acadêmica dos presos é impressionante”.

Infelizmente, esta vitória tão importante dos presos chamou mais atenção pela curiosidade do que mesmo pela bandeira da Educação no Cárcere. De acordo com Alex Hall, (31 anos, preso por homicídio), a intenção deles era atrair inspirar outros presos a estudar, mostrando o quanto a Educação é capaz de mudar suas vidas e para isso contavam com o apoio da Sociedade. No entanto, para o senso comum, o foco mais atrativo era saber que “tipo de crime cometeram os presos que ganharam dos estudantes de Harvard”. 

Lembrando sempre que: “Não há outra solução no combate da criminalidade senão os caminhos da Educação”.

Matéria na integra, Leia aqui...



8 de out. de 2015

Bibliotecas Prisionais não são Fábricas de Milagres


Avi Steinberg é autor do livro "Running the Books: The Adventures of an Accidental Prison Librarian". Na obra ele escreve sobre sua experiência como bibliotecário dentro de uma Instituição Penal  em Suffolk County House of Correction at South Bay, localizada em Boston, EUA. 

Escrito há cinco anos atrás (2010), os relatos de Steinberg são completamente atuais, principalmente no que tange sobre a importância de Bibliotecas dentro das prisões. 

Ele cita, por exemplo, que "Bibliotecas prisionais não são fábricas de milagres, o dia a dia está longe de ser inspirador dentro do cárcere... No entanto, observar presos fazendo fila para entrar na biblioteca e ver que os valores encontrados nos livros iam sendo passados para os filhos, tornava tudo de fato construtivo, provando que o papel da biblioteca atrás das grades estava formando algo potencialmente duradouro".

Quer saber mais sobre as experiências deste bibliotecário na prisão? Leia aqui... 






2 de out. de 2015

BorrachaLioteca - Entre Pneus e Livros


Não importa o local em que estão os livros... Mas sim que estejam disponíveis à comunidade. Foi pensando assim que o apaixonado por literatura, Marcos Túlio Damascena criou, na borracharia do pai, uma biblioteca que atende a periferia de Sabará (MG).

Marcos Túlio e o pai, dono da Borracharia e agora Borrachalioteca
Em atividade desde o ano de 2002, anteriormente à criação do Instituto, a Borrachalioteca tem como objetivos o fomento à prática da leitura, a difusão cultural e o aprimoramento humano. Integra a Associação de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte, tendo amplo diálogo com os principais organismos de fomento à leitura do país, tendo colaboradores espalhados por todo o país e no exterior.


O acervo da Borrachalioteca é composto por aproximadamente 10.000 obras, dentre as quais romances, livros didáticos e paradidáticos de diversos níveis, enciclopédias, dicionários, publicações científicas, “gibis” e livros infantis, cuja manutenção é realizada por agentes voluntários, em espaço mantido através de recursos próprios.

Nas tantas atividades desenvolvidas, destacam-se: disponibilização de acervo literário à comunidade (cerca de 10000 títulos), acolhimento de visitantes, participação em eventos culturais e educacionais e realização de apresentações artísticas em geral (contação de histórias, teatro, música etc.). Embora carente de recursos materiais e infra-estrutura, realiza um importante trabalho de formação de leitores e difusão literária, voltado para públicos de todas as classes sociais e faixas etárias.

Em reconhecimento a suas ações de incentivo à leitura, recebeu do Ministério da Cultura, da Educação e da Fundação Santillana , o 1º lugar no Prêmio "Viva Leitura 2007",  na categoria que engloba as bibliotecas públicas, privadas e comunitárias.

Em janeiro de 2010, a Borrachalioteca inaugurou a biblioteca "A Libertação pela Leitura" que funciona dentro do Presídio Municipal de Sabará. 

Que esta iniciativa sirva de inspiração e exemplo, comprovando de que não é preciso muito para levar informação e cultura às comunidades, basta querer e arregaçar as mangas. Acompanhe, ajude, divulgue o trabalho deste belíssimo projeto... Você os encontra no Facebook e também no Blog Borrachalioteca

FONTE: Borrachalioteca de Sabará

30 de set. de 2015

Porque sonhar é preciso... Sempre!!!

Eu sou uma mistura das palavras do Edson Nery da Fonseca com as menções do Fernando Pessoa, tipo isso:
“Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada biblioteconomia... À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”

Larguei o mundo das artes e fui à busca do sonho da Biblioteconomia. Na minha concepção, este era o caminho para levar a informação aos excluídos da sociedade, aos locais em que o livro não estava. Cheguei à Biblio com um projeto para implantar uma biblioteca no cárcere e a Biblio não achou isso nada bonito. Foi complicado, tantos nãos, mas não desisti. Consegui e hoje a biblioteca da penitenciária da cidade é realidade. Fiz o mesmo com uma escola da periferia que também não tinha biblioteca, montei espaços de leitura nos hospitais da cidade, casas para recuperação de dependentes químicos. 

Sim, esta é a minha Biblioteconomia, o meu jeito de assimilar a área, uma Biblioteconomia Social, que agrega valores dentro das comunidades que poucos se atrevem a entrar. Mas quando levei isso para a pesquisa cientifica, descobri então que sequer o termo “Biblioteconomia Social” existia no Brasil e conceito só obtive com autores fora do país. Aquilo que eu fazia não existia até então... Como pode? Por isso, pretensiosamente, me encontro tanto nas palavras no saudoso e sábio Edson Nery da Fonseca. Dentro da contemporaneidade, talvez seja preciso conceber a técnica bibliotecária, mencionando também a responsabilidade social que a cerca. 

Devemos tratar e disseminar a informação, mas também de levar esta informação a quem não tem acesso a ela, transformando a nossa Biblioteconomia em ponte para o acesso a educação, afinal não classificamos e catalogamos apenas os livros, mas o saber acima de tudo.

8 de mar. de 2015

DIA DO BIBLIOTECÁRIO


DIA DO BIBLIOTECÁRIO


3 de mar. de 2015

BIBLIOTECA ALTERNATIVA: onde, como e por quê?


Sociedade Alternativa, como já cantava nosso lendário Raul Seixas, sexo alternativo, academia alternativa, medicina alternativa... Vivemos numa época em que o alternativo é quase sinônimo de modismo. O individuo já não possuí tempo pra nada, aliás, viver hoje em dia já consome o próprio tempo. Se em anos não muito distantes, cursar uma simples universidade era sinônimo de obter o diploma e ir à busca da carreira desejada, hoje o título acadêmico do bacharelado é apenas o primeiro degrau e chegar ao doutorado talvez seja a meta de só aí começar os degraus de onde se almeja chegar. Estes são, infelizmente, o reflexo de um mundo competitivo, onde sobrevive quem souber ser mais alternativo.


O sujeito que, antes ao fim do dia, conseguia ler um livro, se não por hábito, ao menos para relaxar, agora mergulha no advanço tecnológico e suas horas são em frente à tela de um computador, onde a leitura de outrora, com páginas físicas, agora nada é além de palavras virtuais.

Visitar biblioteca? Só se for indispensável para algum trabalho ou pesquisa acadêmica.  Já o João, o Pedro e a Teresa, aqueles indivíduos do povo, que em algumas raras vezes tentaram adentrar um biblioteca, foram impelidos nesta tentativa porque algum bibliotecário muito técnico os orientou a não folhear os livros ou mesmo tirá-los do lugar sem o devido auxilio. Estes casos não são tão raros e muitos deste modo acabaram constrangidos e até mesmo inclinados a não mais frequentar uma biblioteca.

Entra então a leitura alternativa, aquela que vai onde o leitor esta, que busca o seu leitor sem que este necessite ir até o livro. Mas e o que são Bibliotecas Alternativas de fato?  O termo Biblioteca Alternativa, foi cunhado por Almeida Junior[1] (2003), a partir de suas observações quanto a propostas de espaços informacionais surgidos, principalmente, nas décadas de 1960, 1970 e 1980. Definiam-se como espaços diferenciados das bibliotecas públicas, uma vez que consideravam estas últimas como reprodutoras do pensamento das classes dominantes. O termo "alternativas" foi empregado pelo autor como uma forma de tornar claro o caráter eminentemente político que embasava as atividades e ações da maioria desses espaços. Refutava, dessa maneira, termos anteriormente empregados, como "Bibliotecas Especiais" que, no seu entender, buscavam amenizar os questionamentos apresentados por esses novos espaços.



[1] ALMEIDA JR., O. F. Bibliotecas públicas: avaliação de serviços. Londrina: EDUEL, 2008.
Livros distribuídos em alas infantis
dos hospitais da cidade de Rio Grande - RS
Será que a Biblioteconomia está preparada para atender este usuário alternativo, dentro desta conotação de Biblioteca Alternativa? Pessoalmente eu diria que ainda estamos longe disso, embora tenhamos muitos profissionais da informação aguerridos neste novo contexto de Biblioteconomia Social. Mas é preciso ainda muito trabalho conscientizador para que de fato se possa em fim compreender que a atuação do profissional bibliotecário vai muito além de somente organizar o acervo desses espaços de leitura, como afirma Rabelo[2] (1987). Deve ser diferente nas bibliotecas populares em relação à biblioteca pública Buscando uma verdadeira biblioteca popular, é preciso que o bibliotecário, enquanto agente, se coloque diante das camadas populares como um incentivador, um catalisador e não alguém que exerça algum tipo de dominação. Dominação traduzida, por exemplo, em direcionar a biblioteca para determinados serviços ou prioridades. Para tal é preciso que este profissional tenha ciência de que não lida apenas com a classificação de obras, mas acima de tudo com a classificação de saberes, fazendo valer o seu papel de agente de educação e acima de tudo, um mediador da informação.

Segundo Favero[3] (1983), um dos autores que adotou essa perspectiva teórica em sua reflexão sobre a cultura, tendo definido com grande propriedade o conceito em seu trabalho sobre cultura popular e educação. De acordo com o autor:
                                                      Cultura é tudo o que o homem acrescenta à natureza; tudo o que não está inscrito no determinismo da natureza e que aí é incluído pela ação humana. Distinguem-se na cultura os seus produtos: instrumentos, linguagem, ciência, a vida em sociedade; e os modos de agir e pensar comuns a uma determinada sociedade, que tornam possíveis a essa sociedade a criação da cultura. (FAVERO, 1983 p.78).

Não há como conceber uma Biblioteca Alternativa sem antes agregar os valores culturais que esta invoca. Voltamos então a lembra a formação do bibliotecário como agente cultural.  Flusser[4] (1982) afirma que ela deve se dar em basicamente três eixos complementares: a formação técnica, a humanística e a prática, consideradas como necessárias para que o profissional busque uma atuação através de contatos com públicos de diferentes contextos e realidades.

Se espera do agente cultural bibliotecário que seja uma pessoa com várias especializações, habilidades e qualidades excepcionais; o que se requer é um profissional versátil e com uma visão abrangente de cultura, alguém que tenha uma aguda consciência dos valores culturais e, sobretudo, um compromisso social com a profissão, disposto a: 
                                     [...] incorporar na prática cotidiana da biblioteconomia a dimensão da procura, para que a biblioteca se transforme em um instrumento dinâmico e dialógico, contribuindo assim para uma democratização cultural. (FLUSSER 1982, p.236).

Penso então que já esteja mais do que na hora do profissional Bibliotecário utilizar o que em verdade lhe torna único em sua atuação profissional: a informação. Os mecanismos de busca hoje são outros bem mais dinâmicos, a web absorveu os leitores de tal modo, que nas bibliotecas tradicionais vemos mais prateleiras em poeiradas e corredores vazios do que mesmo usuário que foi buscar uma obra tão somente na gana de ler um livro. O caminho talvez esteja na junção destas duas praticas: Cultura e Informação. Ou seja, Bibliotecas Alternativas para levar ao leitor a leitura que lhe cabe naquele local e momento.
Livros distribuídos em alas infantis 
dos hospitais da cidade de Rio Grande - RS
     
Ora, são tantos os locais onde há possibilidade real de levar uma biblioteca alternativa que enumerar seria encher páginas cansativas de opções. Mas vamos como cidadã e Bibliotecária, com os olhos aguçados e famintos pela cultura e acima de tudo com a mente voltada para uma Biblioteconomia Social, eu viajei na lembrança por vários pontos da cidade e por mais ousados que os mesmos me fossem, pensei: “Não, qualquer lugar não cabe para a cultura, pois ela deve ser moldada, absorvida e acima de tudo enraizada no futuro leitor e este deve ter como priori um local demasiado em número de pessoas e com tempo ocioso de tal modo em que a leitura lhe seja aprazível e consoladora”.

O livro atuando como Biblioterapia

Somos reféns de horas intermináveis e cansativas na espera de atendimento nos pronto-atendimentos dos hospitais de emergência. Acredite, são por vezes mais de três horas de espera para por fim ser atendido. O público, neste caso, pacientes, é dos mais variados, de crianças, idosos e adultos. Mas todos com uma peculiaridade que os torna únicos: Povo. Sim... Quando uso este termo me refiro no sentido de que são pessoas sem acesso a um plano de saúde, pessoas simples e humildes, cujos quais eu já observei até lendo panfletos de supermercado, para que assim o tempo lhes passe sem ter que ficar olhando as horas mortas na ânsia de serem chamados.

Crianças internadas recebendo livros
Outro cenário dos hospitais são a clinica médica de internação. Ainda me fazendo valer como experiência deste espaço, afirmo o quão interminável são as horas mortas quando se está na espera de um paciente internado no Centro de Tratamento Intensivo – CTI. Por mais de 20 dias eu fiquei à espera de meu pai sair de um lugar destes... Sentada naqueles bancos totalmente desconfortáveis e lendo até aqueles jornaizinhos que o povo da igreja distribui dentro do hospital. Uma vez que meu velho saiu do CTI, foram mais 25 dias de internação no leito hospitalar. 

Como filha única, eu não tinha como me dar ao luxo de sair, ir a minha casa buscar algum livro... Sem contar que depois de alguns dias num local destes, onde o ponteiro do relógio parece travar, a gente passa a observar tudo, talvez em busca de um passatempo mental. Notei que vários pacientes não possuem acompanhantes em tempo integral e outros nem isso. Ficam a olhar para o teto, contam gota por gota do soro que lhes adentra as veias e o olhar perdido é o semblante de todos.
                                                         Com a leitura terapêutica o leitor se distancia de sua própria dor e também é capaz de expressar seus sentimentos e ideias, possibilitando uma percepção mais aguçada de sua situação de vida. A partir daí desenvolve-se ainda uma forma de pensar criativa e crítica. Ler também diminui o sentimento de solidão, e estimula uma maior empatia com outras pessoas. (CALDIN, 2010)
Profissionais como psicólogos, educadores, bibliotecários e assistentes sociais, quando bem preparados e treinados, podem aplicar a terapia por meio de livros. Portanto, afirmo que a tarefa é árdua, mas jamais impossível. Basta usar de argumentos consistentes, embasados em pesquisas e apoio da Academia Médica, sob o respaldo do olhar bibliotecário e aí sim teremos como de fato dar um alento literário. 
Mãe esperando atendimento médico para a filha,
esta já com livro que ganhou nas mãos.
Lembro que já existe um projeto de Lei com parecer favorável a implantação obrigatória de Bibliotecas dentro das dependências hospitalares.  A Câmara dos Deputados analisa proposta que estabelece o uso da biblioterapia, ou seja, a terapia por meio da leitura, nos hospitais públicos e naqueles contratados ou conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida está prevista no Projeto de Lei 4186/12, do deputado Giovani Cherini (PDT-RS).
 Uma Biblioteca Alternativa dentro de hospitais, que venha a congratular tanto os pacientes, quanto os seus acompanhantes, tendo como foco a cura da mente, enquanto o corpo aguarda para ser curado.

Livros que foram distribuídos nos hospitais.
O nome que dou à isso é BIBLIOTECONOMIA SOCIAL

REFERÊNCIAS:

ALMEIDA JR., O. F. Bibliotecas públicas: avaliação de serviços. Londrina: EDUEL, 2008.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Acesso em 30 nov. 2013. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=551578

CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo: Porto de Ideias, 2010.

FAVERO, O, org. Cultura popular e educação; memória dos anos 60. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
FLUSSER, V. A biblioteca como um instrumento de ação cultural. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.12, n.2, p.145-169, set.1983.

RABELLO, O. C. P. Da biblioteca pública à biblioteca popular. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.16, n.1, p.19-42, mar.1987. 





[1] ALMEIDA JR., O. F. Bibliotecas públicas: avaliação de serviços. Londrina: EDUEL, 2008.

[2] RABELLO, O. C. P. Da biblioteca pública à biblioteca popular. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.16, n.1, p.19-42, mar.1987. 
[3] FAVERO, O, org. Cultura popular e educação; memória dos anos 60. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
[4] FLUSSER, V. A biblioteca como um instrumento de ação cultural. R. Esc. Bibliotecon. UFMG, Belo Horizonte, v.12, n.2, p.145-169, set.1983.
[5] CALDIN, Clarice Fortkamp. Biblioterapia: um cuidado com o ser. São Paulo: Porto de Ideias, 2010.

Matéria do Bom Dia Rio Grande


Matéria do jornal Bom Dia Rio Grande sobre a biblioteca prisional na Penitenciária Estadual do Rio Grande (PERG). 

Biblioteca Prisional - Entrevista com os presos


TV FURG - Programa MULTIFOCO nº 75 
BLOCO 02 - 22/11/2013 

28 de fev. de 2015

Entrevista TV FURG





Explanação sobre o que é Biblioteca no Cárcere, função e missão do bibliotecário dentro do contexto carcerário.

26 de fev. de 2015

Biblioteca chega a Penitenciária Estadual de Rio Grande



Jornal do Almoço - Biblioteca chega a Penitenciária Estadual de Rio Grande (globo.tv)

24 de fev. de 2015

LETRAMENTO E O CONTEXTO SOCIAL DO BIBLIOTECÁRIO

A Responsabilidade Social do Bibliotecário Profissional. Excelente explanação, Palavras objetivas e Diretas que abordam Uma Reflexão Sobre o Fazer da Técnica bibliotecária.

Letramento informacional - BibMargarida

6 de fev. de 2015

Biblioteca no Cárcere


Para os que desejam saber mais sobre o caminho percorrido até realizar o sonho de implantar uma biblioteca na cadeia e sobre como nasceu o Projeto "Janela Literária", deixo-lhes uma entrevista que dei em 2013 à Monitoria Científica FaBCI / FESPSP, sob inquirimento da querida amiga (ressaltando que na época não nos conhecíamos) Juliana Maria. Aliás, este projeto, além de atender o seu propósito, também proporcionou que eu o apresentasse por diversas regiões do país e em novembro de 2014, quando fui para SP apresentá-lo no CONIC, tive a felicidade e o prazer de conhecer a Juliana, Jornalista e aluna de Biblioteconomia. 


Bibliotecas em presídios: vencendo o preconceito e o medo

Biblioteconomia Social


Obter o título de bacharel em Biblioteconomia, dentro de uma Ciência Social Aplicada,  área com o respaldo técnico do conhecimento e aceitar esta verdade como única, sempre me causou inquietude ao longo do curso.
Ora, para o senso comum, o bibliotecário é um profissional que lida somente com a técnica de organização das obras do conhecimento, fica sempre uma imagem do individuo estereotipado das bibliotecas. Em minha concepção, a biblioteconomia e mais que fazer isso, ou mais deve ser.
A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social, lembrando que dentro da contemporaneidade, talvez seja preciso conceber uma técnica bibliotecária, mencionando a responsabilidade social que a cerca. Devemos tratar e disseminar a informação, mas também levar a informação a quem não tem ingresso a ela, transformando a nossa biblioteconomia em ponte para o acesso a educação, afinal não classificamos e catalogamos apenas os livros, mas o saberes acima de tudo.
A biblioteconomia transforma o bibliotecário único enquanto profissional referência da informação e pela experiência acadêmica vivida ao longo do curso, participando de modo ativo de projetos sociais de cunho bibliotecário, aprendi que não há como aplicar o social, se não houver uma eximia técnica, mas conceber uma técnica sem o respaldo social requer uma boa discussão cientifica
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