Você está aqui

Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

27 de nov. de 2017

Educação No Cárcere: apenada vence concurso de redação no Piauí

“Me senti desafiada, porque achava que não conseguiria escrever uma redação com esse tema”

diz Fernanda Lima, reeducanda da Penitenciária Feminina de Teresina que venceu a terceira edição do concurso de redação promovido pela Defensoria Pública da União (DPU), que teve como tema “Menos grades e Mais Direitos”. 

O concurso era exclusivo para alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino regular, mas, neste ano, incluiu pessoas privadas de liberdade nas penitenciárias do país. Além de incentivar a leitura e escrita, o concurso é uma oportunidade de mostrar os conhecimentos adquiridos no campo educacional. 

“Quase não acreditei no resultado. Foi muito desafiador fazer uma redação com esse tema, porque, se eu estivesse lá fora, não saberia como escrever. E, aqui no presídio, eu tive a responsabilidade de escrever sobre o que eu e minhas colegas de cela passam e precisam”. - Fernanda Lima - apenada. 

O concurso teve 6.607 redações inscritas, das quais 5.044 foram de reeducandos do sistema prisional. O Piauí inscreveu 20 detentos – sendo 15 da Penitenciária Feminina de Teresina e 5 da Colônia Agrícola Penal Major César. Fernanda está presa há quatro meses e participa de projetos de ressocialização realizados na unidade. Os classificados em primeiro lugar no concurso de redação ganharão um tablet – o prêmio será entregue no dia em que deixarem a prisão – e as respectivas unidades prisionais receberão uma premiação no valor de R$ 10 mil, para serem aplicados em equipamentos e projetos que contribuam para a educação dos detentos. 

Na Penitenciária Feminina, Fernanda Lima participa do programa Mulheres Mil – desenvolvido pelas
secretarias de Estado da Educação e de Justiça e que visa à capacitação profissional de detentas – e está no preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quero fazer Enfermagem”, conta. 


A coordenadora de Ensino Prisional, Jussyara Valente, destaca que “vimos que concorrer a esse prêmio seria uma oportunidade de mostrar os conhecimentos adquiridos pelos reeducandos em sala de aula, além de ser uma forma de motivar e mostrar a importância da educação na humanização do sistema prisional”. 

Na visão da secretária de Educação, Rejane Dias, o Piauí vive um processo de valorização das mulheres e que “o esforço do Governo do Estado é qualificar as reeducandas do sistema prisional, com cursos profissionalizantes, educação básica e dando suporte para que ingressem no ensino superior”.  O secretário de Justiça, Daniel Oliveira, observa que os investimentos em educação no sistema prisional têm proporcionado resultados relevantes. De acordo com a Secretaria de Justiça, pelo menos 36% de detentos estudam, hoje, nos presídios, e houve um crescimento de 292% no número de presos estudando, nos últimos três anos.

“Acreditamos que a educação é capaz de mudar a realidade dessas pessoas, afastando-as da criminalidade e colocando-as no caminho da cidadania. Portanto, nosso intuito é oferecer oportunidades de ensino, trabalho e assegurar direitos, para que elas possam, de fato, mudar de vida”. Daniel Oliveira - Secretário de Justiça


Fonte: Secretaria de Justiça do Piauí

7 de nov. de 2017

Depoimento: A rotina de um bibliotecário prisional americano

Por Andrew Hart, Ohio (EUA)

Andrew Hart, Bibliotecário
Quando alguém menciona algo relacionado a uma biblioteca da prisão, alguns podem imaginar uma sala pequena e escura dentro das entranhas do cárcere e ter até a visão de um bibliotecário cansado, trabalhando entre material antigo e desatualizado, apenados que se arrastam entre as obras das estantes, guardas que alertam para qualquer sinal de problema. Pelo menos, foi assim que imaginei uma biblioteca prisional. Mas isso foi antes de trabalhar em uma por dois anos.

Eu diria a qualquer um que ser bibliotecário da prisão é a atuação de bibliotecário mais difícil, mais gratificante, mais triste, mais feliz, desafiadora, visionária, frustrante e interessante. Eu diria a mim mesmo: "Se você pode sobreviver a esta biblioteca, você pode sobreviver a qualquer biblioteca". As bibliotecas prisionais vêm com uma parcela apertada de desafios, mas, por outro lado, apresentam oportunidades que não são encontradas em nenhum outro lugar na profissão de bibliotecário. A missão de uma biblioteca da prisão é fornecer recursos educacionais e recreativos aos presos. Isso pode assumir a forma de livros, jornais, revistas, filmes e programação de bibliotecas. A esperança é que isso ajude no processo de reabilitação e, o mais importante, fornecer um meio de subterfúgio e distração para que os internos permaneçam sem problemas. Cabeça vazia e mãos soltas é oficina do diabo na prisão.

Um dia normal na biblioteca prisional consistia nos seguintes afazeres: abrir e fechar a biblioteca várias vezes durante o dia enquanto supervisionava cerca de quinze apenados trabalhadores da biblioteca; pedidos, recebimentos e inventários; respondendo cartas dos presos à biblioteca; segregação de visitas; encomendas de periódicos e livros de direito; selecionar doações de livros; esvaziar caixas de empréstimos de livros; responder perguntas de referência; prestação de relatórios; solução de problemas de TI; criação de programação mensal e etc. Como vocês podem ver, esta é uma agenda bastante atribulada e é típica para a maioria dos bibliotecários prisionais. 

Talvez um dos maiores obstáculos para um bibliotecário prisional seja a verba pública para a mesma. Na maioria das vezes, a biblioteca da prisão não faz parte das prioridades governamentais e é negligenciada. As doações de livros são a alma de uma biblioteca prisional. Uma parceria com editoras é uma ótima maneira para uma biblioteca prisional obter livros e substituir o material desatualizado que obstrua as prateleiras. Quando recebia delas as doações de livros, era como manhã de Natal na biblioteca. Os presos apreciavam meus esforços na tentativa de fornecer material novo e a administração prisional gostava das doações porque economizavam dinheiro. Manter obras atuais e novas melhora a imagem da biblioteca para os presos e a torna convidativa.

Na prisão há um lema: "A segurança é priori." Antes de trabalhar em uma, eu tive que me capacitar em como lidar com situações e pessoas dentro do contexto de segurança prisional. O aspecto mais dramático do meu trabalho foi monitorar os internos que visitavam a biblioteca e, ao mesmo tempo, responder perguntas de referência, realizar pesquisas legais e auxiliar os clientes (eu sempre me referi aos internos como clientes quando na biblioteca da prisão). Aprendi a olhar os dois lados ao mesmo tempo e a ser observador de tudo em minha volta. De vez em quando eu parava um agente penitenciário e pedia explicações sobre como identificar uma pessoa suspeita, por exemplo. Em certas ocasiões eu tinha que levantar a voz e outras eu tive que esvaziar toda a biblioteca devido ao mau comportamento.

As oportunidades criativas são abundantes em uma biblioteca da prisão. Workshops, clubes de livros e projetos de serviços comunitários são bem-vindos e necessários. Uma das melhores coisas sobre o meu trabalho foi o prazer imediato que experimentei quando ajudei um preso a encontrar as informações de que precisava ou quando os internos se aproximaram de um workshop e me diziam ter aprendido algo novo naquele dia. Fornecer serviços educacionais, criativos e significativos é primordial. Meu objetivo era encontrar soluções baratas, que incluíam a criação de slideshows e folhetos sobre uma variedade de tópicos, incluindo genealogia, direitos autorais / escrita e astrobiologia - uma recente área de pesquisa científica que busca compreender a origem, evolução, futuro e distribuição da vida na Terra e no Universo (o meu favorito). Eu também supervisionei um programa de serviço comunitário em que os internos receberam certificados para escreverem cartas de encorajamento aos soldados na guerra. 

Os serviços oferecidos pela biblioteca da prisão podem parecer insignificantes, no entanto, em sua maior parte, os internos buscam frequentar a biblioteca na intenção de sair de suas celas e experimentar mudanças na paisagem local. A biblioteca fornece um espaço de encontro para os presos conversarem e conhecerem aqueles que compartilham de interesses comuns. Não era raro que os apenados me explicassem suas histórias de vida; como chegaram à sua situação atual e suas esperanças para o futuro. Naqueles tempos, eu oferecia dicas de livros que correspondiam à sua situação e circunstâncias da vida.

Durante os deveres diários de um bibliotecário prisional, está a seleção de obras para empréstimos aos presos, contudo, vários títulos não são permitidos por uma questão de política institucional. A censura é uma dura realidade para os bibliotecários prisionais e contra a própria ética da nossa profissão. No entanto, a segurança é primordial e, na prisão, alguns direitos foram despojados, incluindo o direito a determinadas obras. 

Se você tem interesse em alguma parceria com a biblioteca prisional de sua cidade, não tenha medo de buscar isso e oferecer assistência. Acreditem em mim, os bibliotecários da prisão recebem toda e qualquer ajuda que possam obter. As bibliotecas prisionais não são masmorras como eu descrevi no início do artigo, mas lugares de aprendizagem, recreação e reabilitação. Um livro pode literalmente mudar uma vida na prisão, eu já constatei isso! Considere a parceria com o sistema prisional do seu estado e ajude a mudar o mundo aqui fora mudando vidas lá dentro.

Aqui estão algumas observações  feitas na biblioteca prisional: 

Autores populares: James Patterson, Louis L'Amour, Patricia Cornwell, JK Rowling, David Baldacci, William Johnstone, Jim Butcher, Stephen King, Dan Brown, Dean Koontz.

Tópicos Populares: Qualquer coisa do Naruto, administração de empresas, autoajuda, cozinha, crochê, línguas, super-heróis.

Pergunta mais comum: "Você pode me ajudar a obter uma estratégia de negócios?"

Pergunta de referência mais inusitada: "Qual é o tempo de gestação para um ratinho de estimação?"

Momento favorito: a hora de recitar poesia na biblioteca.

Pedido de obra mais estranha: um livro sobre agricultura de enguias.

Inesperado: Os presos roubando canetas, embora estivessem amarradas à mesa.