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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

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5 de mai. de 2020

Primeiro Doutorado sobre Bibliotecas Prisionais


No Brasil, a criação de Bibliotecas Prisionais é legitimada por meio da Lei de Execuções Penais (LEP – Lei Federal nº 7.210 de 11 de Julho de 1984) que diz em seu art. 21, Capítulo V, que: 

“Cada estabelecimento penal deve ser dotado de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”. 

Quatro anos mais tarde, o direito a informação é assegurado a todo e qualquer cidadão, conforme a Constituição Brasileira de 1988, prescrito no Artigo 5º, inciso XIV, o que solidifica ainda mais a LEP das Bibliotecas Prisionais, corroborando para que todo o individuo brasileiro, inclusive os encarcerados, tenham acesso à informação.

Passadas mais de três décadas, em 2017, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) deu voz e representatividade para as unidades de informação no cárcere, ao montar a primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP). Foram trinta e três anos de negligenciamento biblioteconômico e, não obstante ao descaso do governo, apenas agora temos a primeira Tese, no Brasil, sobre a temática.

O Doutor - Ciro Monteiro é Agente Penitenciário, foi Diretor substituto do setor educacional do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP); Formado em História (UNESP), Biblioteconomia (USP), Mestre em Ciência da Informação (UNESP) e Doutor em Ciência da Informação (UNESP). Ele também faz parte da CBBP, convite que lhe foi feito ainda dentro do “Primeiro Fórum Brasileiro de Bibliotecas Prisionais”, ano passado. Sua linha de pesquisa partiu da sua própria experiência com os livros e a leitura intramuros das prisões e abarcou justamente os espaços de leitura na prisão. A Tese foi defendida no final do ano passado, 19 de novembro. Segundo o próprio Ciro, é preciso refletir sobre as possibilidades de atuação do bibliotecário no interior do cárcere. 

E ele conta um pouco se sua trajetória: 

Fui funcionário da prisão por 10 anos, atuando diariamente como mediador de leitura, estruturação de bibliotecas e projetos de incentivo à leitura e produção do conhecimento. A prisão é também nosso espaço de atuação. Deixo um trechinho do meu diário de campo para despertar curiosidade em vocês:

"Hoje algo que emociona qualquer pessoa vinculada à ideia de educação como forma de transformação da humanidade, tomou conta do meu ser. Era final do dia e ainda faltava coletar assinatura dos presos em documento que autorizava o setor de educação a publicar suas poesias para o evento Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, o qual a unidade foi convidada a participar e levar a produção de poesia dos educandos feitas por meio do projeto Rompendo as grades com poesia”. 


A ideia, discorre Ciro, era fazer um varal de poesia com as melhores poesias que foram depositadas na “caixa de poesia” para serem expostas no evento. 

"Fui até o pavilhão onde estavam todos os presos soltos e falei o nome de quais educandos tiveram a poesia selecionada. A reação foi impressionante. O caminho do educando até chegar para assinar o documento que estava em minha mão na porta do pavilhão, lembrava a passagem de um astro de futebol. Os demais reclusos gritavam, batiam palmas e passavam a mão na cabeça do contemplado. Toda essa glória por conta da produção de conhecimento é o que mais satisfaz o coração de um educador". 



Atualmente, Ciro é coordenador da  Biblioteca Pública Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto (SP. Ele pediu exoneração do Sistema Penitenciário para se voltar exclusivamente nos fazeres bibliotecários dedicados ao social, com atividade totalmente inclusivas. "Aqui fizemos chá das pretas, rodas de preconceitos na literatura e conferência sobre pessoas com deficiência...", relata Ciro. 


Em março deste ano, Ciro organizou um evento em comemoração ao dia do bibliotecário, 12 de março: "Livro, Leitura e Biblioteca na Prisão". Levou para ministrar fala, um egresso do sistema prisional e o atual monitor (reeducando) da sala de leitura do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP), Florindo Cassimiro Junior. 

Florindo Cassimiro Junior

"Ele é um monitor excelente, que faz um ótimo trabalho", afirma Ciro, acrescentando que o reeducando atualmente cursa graduação de Biblioteconomia (secundarista) na modalidade Ensino a Distância (EAD).

Para grande parte dos bibliotecários, a Biblioteconomia Social é redundância, afinal, a Biblioteconomia por si só é social. No entanto, embora tenha nascido completamente humanista e com viés erudito, pós o tecnicismo Deweyniano, que visava apenas a organização das obras do conhecimento, nós perdemos a nossa nascente, para não dizer a identidade. Simplificando, no sentido figurado, seria como alguém dizer seu nome sem citar o sobrenome. Ora, quantas pessoas de mesmo nome têm por aí? Então é necessário inserir o sobrenome, para então dar a origem evolutiva de nossa história. Da mesma forma acontece com a Biblioteconomia. Atribuindo o “Social”, conotamos a essência, almejando exclusivamente mostrar que a técnica bibliotecária não pode ser avessa ao social e sim parceira, andando lado a lado. Não exercemos, em tese, nossa aplicabilidade bibliotecária para os pares e sim para o leitor. Eis a base da Biblioteconomia Social: um fazer bibliotecário voltado ao povo e pelo povo, principalmente aos excluídos da sociedade, às comunidades em vulnerabilidade social. E este é o trabalho do Ciro Monteiro que nos enche tanto de orgulho e admiração.

E sim, a representatividade das Bibliotecas Prisionais tem um "Doutô SimSenhô ". Orgulho define. Inspiremo-nos! 

Apenados utilizando a Biblioteca Prisional



21 de fev. de 2018

Do lixo ao crime: a história de um ex-presidiário argentino que agora volta para a prisão, mas na condição de professor universitário.




























Um menino de 9 anos caminha apressadamente pelas ruas, com uma mão, empurra um carrinho sujo de bebê, mas dentro não há uma criança, apenas sacos de lixo. Aquele menino cresceu na pobreza dos lixões, alimentando-se de restos, pedindo dinheiro nas esquinas dos semáforos. 
O menino é o Argentino Waldemar Cubilla, hoje homem feito com 35 anos, ele relembra: 

"Subíamos na montanha do lixo para procurar sapatos, descartados de uma fábrica próxima. Eram calçados com defeitos, procuramos um par ou um pé parecido com outro, a gente costurava e calçava na hora. Depois juntávamos papéis, plásticos ou metais para vender, mas também salsichas... Ah, quando encontramos salsichas no lixo, fazíamos a festa, era alimento comemorado.” 

Quando a adolescência chegou, 
"alguns se tornaram especialistas em sobreviver na miséria, outros eram mais covardes e, assim, saímos para roubar. Eu tinha 15 anos quando comecei a sair com uma arma, e se você procurar uma explicação racional, você não possui. 
Eu só dizia para mim mesmo: não mereço viver assim, não quero estar mais na pobreza extrema”. 
Waldemar, no entanto, continuou a ir à escola. 

"Se eu soubesse que eu tinha que ir à escola tal hora, organizava o assalto de antemão para que eu não faltasse. Muitas vezes eu voltava para roubar e retornava para a escola. Se você abrisse minha mochila, encontraria suprimentos, livros e uma arma”. 

Nessa altura da vida, Waldemar já era o fornecedor armas e roubava, em média, três carros por dia. 

Aos 17 anos ele foi preso pela primeira vez e passou algum tempo em uma instituição para menores infratores, destino da maioria daqueles meninos criados no lixo. Em dezembro de 2001, no ápice da crise econômica, a pobreza que ameaçava o povo de "La Cárcova", ele voltou ao crime. Pouco tempo depois estaria preso na prisão de segurança máxima do General Alvear, faltava-lhe um ano para terminar o ensino médio. 

"Passei 4 anos numa cela sem fazer nada". Somente quando foi transferido para Sierra Chica, ele decidiu terminar seus estudos. Mas ele estava a 350 quilômetros de sua casa e não recebeu o certificado para provar que restava apenas o último ano do ensino médio: precisou fazer tudo novamente. Foi neste contexto que ele viu uma cena que o deixou tal como um menino na frente de uma loja de brinquedos: haviam prisioneiros com nível superior, foram eles que lhe emprestaram um livro de Sociologia e desenvolveram nele o gosto pela leitura. 

Aos 23 anos, quando ganhou a liberdade e retornou ao seu povoado, matriculou-se no campus de San Isidro da Universidade de Keneddy para estudar Direito. 

“Eu fiz dois anos de curso. Mas, era uma instituição privada e eu não conseguia pagar mais, então passei a cometer crimes novamente para continuar bancando a faculdade."

Waldemar, então, foi preso novamente, ainda que fosse um dos melhores alunos, com média geral de 8 em todas as disciplinas. De volta a prisão, a ironia fica por conta desta estar localizada justamente em meio aos dois mundos tão familiares de Waldemar: atrás dos muros, a Universidade e o lixão em que ele passou toda a sua infância. Ele relembra:

"Não pude ficar indiferente, ao observar pelas janelas da cela, de um lado os meninos brincando no lixão e no outro o campus universitário . Então enviei uma carta ao reitor da Universidade Nacional de San Martín, muito simples, e lhe disse que havia alguns prisioneiros na republica argentina e que eles tinham direito à Educação. 
E ele me ouviu, assim, em 2008, CUSAM nasceu , que é o projeto de “Universidade dentro da prisão”. 

E foi assim que Waldemar passou a cursar Sociologia, junto de outros prisioneiros e também agentes penitenciários. Em pouco passou a cuidar da Biblioteca Prisional: 

"Eu me tornei bibliotecário da prisão, a biblioteca era um lugar fundamental na minha vida", diz ele. Enquanto estava na prisão, Eros nasceu, seu primeiro filho, que deve seu nome ao que Waldemar sentiu quando leu o "Banquete" de Platão. Depois ele teve outro filho - "Jano", um nome que apareceu lendo "The look of Janus", um pensador alemão. Ainda na prisão, Wlademar formou-se em Sociologia com a nota mais alta dos alunos, inclusive dos colegas do campus universitário, pessoas que jamais estiverem numa prisão. Hoje Waldemar faz doutorado em Sociologia. 

A primeira coisa que ele fez, dois meses depois de ter recuperado a liberdade, foi montar uma biblioteca fora da prisão e definir uma meta: 

" Que nenhum de nós caia na armadilha do crime" . 

Ele fez tudo em parceria com Checho, um jovem que chegou à prisão enquanto Waldemar era bibliotecário do cárcere. 


"Ele chegou morto, à beira da morte, buscou na leitura dentro da biblioteca prisional e nos estudos uma inspiração para seguir vivendo. A biblioteca serve como reflexão sobre essas coisas".

A biblioteca do lixão foi montada em janeiro de 2012, depois de Waldemar ter passado 9 anos na prisão. Localizada na entrada da cidade, a biblioteca comunitária recebeu o nome de "La Carcova". DETALHE: a biblioteca foi é construída sob o lixo empilhado no local de sua infância, espaço em que muitos outros pequenos habitam, passando pelo mesmo dilema que ele viveu um dia. 


"A biblioteca tornou-se uma esperança, não é mais um espaço literário no meio do caminho, mas sim a esperança de quem deseja mudar sua vida por meio da Educação."


Waldemar lembra que um lema dos presos, ao ganharem a liberdade, consiste em não olhar para trás. Não por medo de se tornarem uma estátua de sal, mas não para retornar. Este ano, no entanto, ele olhará para trás e voltará para a prisão. Desta vez sem algemas ou sob custódia, mas na condição de "professor de Sociologia para os condenados na prisão . "

Fonte Original: infobae.com




23 de out. de 2017

Ex-presidiário ministra palestra ao lado de professor universitário no maior e mais importante congresso da área de Biblioteconomia

Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação – Itamar chega nervoso, pergunta se pode mesmo falar sobre sua história, da trajetória que o levou do submundo criminoso às salas de aula na condição de professor. Eu apenas disse a ele: “Seja você mesmo, esqueça a cientificidade e mostre que os livros atrás das grades podem sim fazer a diferença”

Itamar Xavier de Camargo
Ele começou sua fala e eu assumo, chorei copiosamente, afinal, em cada descrição de sua história, vinha à mente os tantos “Itamares” que temos nas prisões brasileiras, impossível não lembrar o meu trabalho a frente da biblioteca prisional e naquele palco pensar: “Sim, chegamos ao principal evento da Biblioteconomia, dos bibliotecários e das bibliotecas. Já não somos invisíveis ou negligenciados”.

O Itamar Xavier de Camargo dedica sua vida a fazer com que as pessoas tenham acesso à cultura, arte e informação. Ele, melhor do que ninguém sabe da importância que isso tem na vida de cada um, pois trilhou um árduo caminho, da infância pobre na periferia de São Paulo, passando pela violência, crime e depois o cárcere, até se tornar um semeador de livros e formar bibliotecas comunitárias em áreas carentes de Presidente Prudente. Sua trajetória de vida é um exemplo do poder de transformação pelo conhecimento e da determinação de um homem e sua luta na busca de sair de uma situação sem qualquer perspectiva de futuro. Quer saber mais sobre o Itamar? Leia seu livro “A Verdade que Liberta”


Professor Jonathas Carvalho
Logo após a emocionada fala de Itamar, tivemos o professor Jonathas Carvalho, do curso de biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Mestre e Doutor em Ciência da Informação que há anos vem debatendo a questão da importância das Bibliotecas Prisionais e buscando inseri-las também dentro da formação do futuro bibliotecário. De acordo com o professor Jonathas:

“Mais do que uma ampliação de mercado, o reconhecimento da atuação pedagógica da Biblioteconomia em presídios é uma expressão altiva e ativa do trabalho social da área do conhecimento em questão”. 
Leia na íntegra um artigo completo do professor sobre o tema. 

Jonathas encerra sua palestra chamando a academia de Biblioteconomia para o engajamento desta pauta, ressaltando que as Bibliotecas Prisionais são tão bibliotecas quanto as bibliotecas escolares ou universitárias, por exemplo. Bem, pessoalmente sou suspeita para falar deste Mestre, uma vez usei inúmeras falas dele em vários de meus projetos de Biblioteconomia Social e em especial nas bibliotecas prisionais. Tê-lo junto do Itamar, criador e criação, foi realmente emoção que palavras não descrevem. 

Workshop

Workshop
Num segundo momento, aconteceu outra reflexão sobre o assunto, com a presença do Itamar e da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), dentro do “Workshop” que discutia o papel das Bibliotecas Prisionais: utopia ou realidade dentro do cenário brasileiro? 

Com a participação de bibliotecários, professores e estudantes de Biblioteconomia. Deparamo-nos com relatos maravilhosos de pessoas engajadas em projetos dentro do sistema penal, bibliotecas e pesquisas, além da participação de profissionais de outras áreas, como foi o caso dos Assistentes Sociais e Pedagogos. Sabemos que não é utopia, no entanto, ainda longe de ser uma realidade nacional. 

Cleide Fernandes (SNBP/MG); Catia Lindemann (Presidente da CBBP);
Guilherme Relvas (DLLLB); Renata Costa (SNBP/RJ)
Assim, aos poucos, vamos ganhando força e formando parcerias para que, de fato, as unidades de informação no cárcere possam ser aplicabilidade e não tão somente lei no papel. Para tal, ainda no CBBD, realizamos diálogo e obtivemos o apoio do atual Diretor do Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) do Ministério da Cultura (MinC), Guilherme Relvas. Do mesmo modo aconteceu com o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Rio de Janeiro, sob coordenação de Renata Costa, que já efetua projetos de remição da pena por meio da leitura nas penitenciárias do Estado do Rio e atua diretamente na supervisão das bibliotecas prisionais do RJ. Por fim e não menos valiosa, obtivemos outra ponte, desta vez no Estado de Minas Gerais. Trata-se da bibliotecária Cleide Fernandes, diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais de MG.

Foi assim que as bibliotecas prisionais  ganharam espaço neste que é o principal evento da área de Biblioteconomia. Pela primeira vez na história, em décadas de realização, tivemos os livros na rotina intramuros das prisões como pauta de discussão. Em suma, comprovamos que 2017 foi literalmente o ano de “renascimento” das Bibliotecas Prisionais. Digo renascer porque em verdade elas já completaram 33 anos, mas apenas agora se tornaram visíveis e foco de atenção, tanto da academia quanto da sociedade – neste caso de modo mais módico e discreto. Mas seguimos nossa luta pelas Bibliotecas Prisionais, agora mais
fortalecidos, bradando que as mesmas não são assistencialismo, mas prerrogativa prevista em lei.

Carlos Wellington (CBBP/MA); Adriana Ferrari (Presidente da FEBAB);
Catia Lindemann (CBBP/RS)
Fica nossa gratidão a  Adriana Ferrari, presidente da Federação Brasileira das Associações de Bibliotecários (FEBAB), entidade que além de ser a responsável pelo CBBD, também montou a primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), oportunizando representatividade para que estas pudessem verdadeiramente ter voz e inserção dentro da área de Biblioteconomia e no país como um todo. Agora é respirar e seguir em frente porque a luta continua. Inspiremo-nos!

25 de mar. de 2017

Lançada a Primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais - CBBP

No Brasil, a criação de bibliotecas prisionais é legitimada por meio da Lei de Execuções Penais (LEP – Lei Federal nº 7.210 de 11 de Julho de 1984) que diz em seu art. 21, Capítulo V, que: “Cada estabelecimento penal deve ser dotado de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”.


Apenados Lendo na Biblioteca Prisional/Fonte: Arquivo Pessoal/Catia Lindemann

Preocupada com a ausência de debates e reflexões concernentes à temática das bibliotecas prisionais e tendo como respaldo a relevância pertinente que envolve as unidades de informação presentes no cárcere, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) reuniu profissionais bibliotecários com atuação em instituições penais brasileiras para formar Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), respeitando os critérios de envolvimento, comprometimento e acima de tudo atuação dentro das bibliotecas prisionais. Neste sentido, a formação inicial conta então com a presença dos bibliotecários Catia Lindemann (como Presidente da Comissão), Carlos Wellington Martins, Cristiane Garcia, Daniella Pizarro e a representante Discente de Biblioteconomia Flávia Petterson

A iniciativa nasceu da Presidente da FEBAB, Adriana Ferrari, bibliotecária com vários projetos aplicados no cárcere, buscando sempre levar a informação para os intramuros prisionais. Adriana explica:

Fonte: Arquivo Pessoal/Adriana Ferrai
"Esta comissão nasceu da premente necessidade de discutir e informar mais sobre o tema aos bibliotecários 
e equipes de bibliotecas. 
É um assunto importante para a FEBAB e temos a certeza de que podemos contribuir e enriquecer debates e ações 
dentro de tudo que envolve as 
Bibliotecas Prisionais."

A Presidente da FEBAB também esclarece que o objetivo geral desta empreitada será "Promover as bibliotecas e a presença do bibliotecário nas unidades penais, a fim de assegurar o direito à educação e ao desenvolvimento humano dos apenados, respeitando e fazendo cumprir a legislação vigente no país."

MISSÃO 
Segundo a CBBP, a intenção é:

Dar ao Brasil uma representatividade oficial no que tange as bibliotecas prisionais, por meio da disponibilização de fontes de informação concernentes a temática das bibliotecas de estabelecimentos penitenciários,  alinhando as diretrizes já existentes no âmbito da biblioteconomia com a legislação vigente no país. 

O Manifesto da IFLA/UNESCO[1] sobre bibliotecas públicas 1994 entende que o acesso à informação é fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade como um todo. Neste sentido, encoraja as autoridades nacionais e locais a comprometerem-se no desenvolvimento das bibliotecas públicas, que devem oferecer serviços para todos, sem distinção de idade, cor, raça, religião ou condição social, inclusive pessoas privadas de liberdade. Ao final, o Manifesto faz um convite à comunidade de bibliotecários para que seus princípios sejam implementados. Considerando as discursões atuais sobre as bibliotecas de estabelecimentos penitenciários, bem como a possibilidade de remição da pena através da leitura, ao criar a Comissão Brasileira deBibliotecas Prisionais, a FEBAB busca cumprir com os princípios estabelecidos no Manifesto.

A intenção da Comissão é seguir em sintonia com a Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA), que através da publicação “Ferramenta para o planejamento, implementação e avaliação de serviços de biblioteca prisional[2]” estabelece diretrizes que orientam e amparam os bibliotecários inseridos neste contexto em tudo o que se refere a estas unidades de informação. Cabe ressaltar que tais diretrizes foram reconhecidas e corroboradas pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A IFLA recomenda que as mesmas sejam aplicadas em países onde exista a obrigatoriedade de biblioteca no cárcere, no entanto, observa que países em que exista uma Federação de Biblioteconomia, como é o caso do Brasil, esta pode subsidiar suas próprias diretrizes ou ainda, adotar e incrementar as já existentes. Do mesmo modo, a Associação Americana de Bibliotecas (ALA), também mantem uma comissão[3] destinada a todos os assuntos que envolvem bibliotecas prisionais, apresentando suas próprias diretrizes através das publicações "Library Standards for adult correctional institutions” e “Library Standards for Juvenile Correctional Facilities[4]”; além oferecer capacitação aos profissionais da informação (bibliotecários) para que possam atuar nas bibliotecas intramuros do cárcere, uma vez que estas possuem suas especificidades únicas.
Leia mais sobre... 

[1] Manifesto da IFLA/UNESCO (http://www.ifla.org/files/assets/public-libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.pdf)

[2] Diretrizes da IFLA para Bibliotecas Prisionais (http://www.ifla.org/publications/ifla-professional-reports-92)

[3] Associação de Agências de Bibliotecas Especializadas e Cooperativas – ASCLA (http://www.ala.org/ascla/)

[4] Diretrizes da ALA para Bibliotecas Prisionais (http://www.ala.org/ascla/search/site/prison?f%5B0%5D=hash%3Altox0g)

2 de out. de 2015

BorrachaLioteca - Entre Pneus e Livros


Não importa o local em que estão os livros... Mas sim que estejam disponíveis à comunidade. Foi pensando assim que o apaixonado por literatura, Marcos Túlio Damascena criou, na borracharia do pai, uma biblioteca que atende a periferia de Sabará (MG).

Marcos Túlio e o pai, dono da Borracharia e agora Borrachalioteca
Em atividade desde o ano de 2002, anteriormente à criação do Instituto, a Borrachalioteca tem como objetivos o fomento à prática da leitura, a difusão cultural e o aprimoramento humano. Integra a Associação de Bibliotecas Comunitárias da Região Metropolitana de Belo Horizonte, tendo amplo diálogo com os principais organismos de fomento à leitura do país, tendo colaboradores espalhados por todo o país e no exterior.


O acervo da Borrachalioteca é composto por aproximadamente 10.000 obras, dentre as quais romances, livros didáticos e paradidáticos de diversos níveis, enciclopédias, dicionários, publicações científicas, “gibis” e livros infantis, cuja manutenção é realizada por agentes voluntários, em espaço mantido através de recursos próprios.

Nas tantas atividades desenvolvidas, destacam-se: disponibilização de acervo literário à comunidade (cerca de 10000 títulos), acolhimento de visitantes, participação em eventos culturais e educacionais e realização de apresentações artísticas em geral (contação de histórias, teatro, música etc.). Embora carente de recursos materiais e infra-estrutura, realiza um importante trabalho de formação de leitores e difusão literária, voltado para públicos de todas as classes sociais e faixas etárias.

Em reconhecimento a suas ações de incentivo à leitura, recebeu do Ministério da Cultura, da Educação e da Fundação Santillana , o 1º lugar no Prêmio "Viva Leitura 2007",  na categoria que engloba as bibliotecas públicas, privadas e comunitárias.

Em janeiro de 2010, a Borrachalioteca inaugurou a biblioteca "A Libertação pela Leitura" que funciona dentro do Presídio Municipal de Sabará. 

Que esta iniciativa sirva de inspiração e exemplo, comprovando de que não é preciso muito para levar informação e cultura às comunidades, basta querer e arregaçar as mangas. Acompanhe, ajude, divulgue o trabalho deste belíssimo projeto... Você os encontra no Facebook e também no Blog Borrachalioteca

FONTE: Borrachalioteca de Sabará