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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

31 de mar. de 2017

OAB de Natal, Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, em parceria com o Curso de Biblioteconomia da UFRN, inauguram Biblioteca Prisional

A Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP) no Estado do Rio Grande do Norte, agora conta com um espaço de leitura para os presos. Em uma sala, que antes servia de alojamento para os apenados que trabalham na unidade, foi inaugurada uma biblioteca na manhã do dia 28 de março. A iniciativa é uma parceria da Ordem dos Advogados (OAB) de Natal, com a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SEJUC). O projeto “Releitura”, permite a redução da pena em quatro dias para cada livros lido, dentro do limite de 48 dias por ano. 

O acervo versa entre livros didáticos e paradidáticos. Clássicos da literatura estrangeira, local e nacional. Algumas das obras disponíveis são “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, “Capitães de Areia”, de Jorge Amado e o “Horto” da poetisa potiguar, Auta de Souza. De acordo com o presidente da OAB, Paulo Coutinho, os livros serão catalogados em parceria com o curso de Biblioteconomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Conforme explicado por Coutinho, todos os apenados terão acesso às obras por meio de um catálogo. “O livro será levado até o local em que o preso está. A OAB quer trabalhar a ressocialização, porque é uma maneira de mostrar um novo horizonte a essa pessoa, que um dia voltará ao convívio com a sociedade”, disse Coutinho. O juiz corregedor auxiliar do TJRN, Fábio Ataíde, destacou a iniciativa como um dos passos para a restauração do sistema prisional do RN. “O dinheiro existe, as iniciativas que precisam chegar e elas dependem de projetos simples como esse”, frisou o magistrado.

Na opinião do Secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Wallber Virgolino, o projeto Releitura “demonstra a preocupação do Estado com a recuperação da dignidade do apenado” e deve “suavizar o sistema”. Wallber acrescenta que o objetivo da SEJUC é implantar o projeto em todo o sistema penitenciário do Estado. “Fico feliz que o sistema esteja sendo trabalhado com uma união de esforços”, disse ele.
Condenado a 7 anos de prisão em regime fechado, Rodrigo César da Silva, 33 anos, vê na biblioteca uma oportunidade de diminuir o tempo na cadeia e de aprendizado, ele explica:


  “A Biblioteca é um estímulo para que a gente passe o nosso tempo aqui. 
A vida na cadeia é muito dura. 
Ter uma oportunidade 
como essa é uma chance de amenizar a rotina pesada.”


A regulamentação atende à recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para cumprimento da lei federal de Execução Penal, que instituiu a remição da pena pelo trabalho e estudo. O projeto “Releitura- remição pela Leitura e Produção de Texto na Execução Penal”, desenvolvido na comarca de Mossoró, se tornou lei no Estado no início de março de 2017. O projeto foi iniciado em dezembro de 2015 e implantado inicialmente com vinte detentos da Penitenciária Estadual Agrícola Dr. Mário Negócio.


A lei torna a SEJUC responsável por proporcionar o espaço adequado, integrar o projeto à rotina das prisões e incentivar os detentos, alfabetizados ou não, a participar. Atualmente, a PEP está superlotada. São 616 presos para pouco mais de 300 vagas. Os apenados estão soltos em dois pavilhões, não existe separação por cela.

SOBRE O PROJETO RELEITURA

"Remição pela Leitura e Produção de Texto na Execução Penal, foi desenvolvido na comarca de Mossoró e agora é Lei no Estado do Rio Grande do Norte. Com redação do juiz coordenador e criador da inciativa, Cláudio Mendes Júnior, e proposição do deputado Kelps Lima, a ideia posta em prática pela Comarca de Mossoró e o Tribunal de Justiça foi promulgada pelo deputado Gustavo Carvalho, presidente em exercício da Assembleia.

Para fazer parte do projeto, o apenado deve ser alfabetizado e ter condições de escrever uma resenha. Segundo o texto da lei, todos os presos custodiados alfabetizados do Sistema Penal do Estado do Rio Grande do Norte, inclusive nas hipóteses de prisão cautelar, poderão participar das ações do Projeto “Remição pela Leitura”, preferencialmente aqueles que ainda não têm acesso ou não estão matriculados em Programas de Escolarização. A lei estadual foi promulgada em 21 de fevereiro.

Cada apenado tem o prazo máximo de 30 dias para a leitura de um livro e deve apresentar uma resenha a respeito do título. Após avaliação do trabalho, o apenado recebe a diminuição equivalente em sua pena. De acordo com o texto aprovado, o custodiado deve manter a estética no texto, se limitar ao tema do conteúdo do livro e ser fidedigno, evitando plágio. Para garantir a remissão, o apenado deve atingir nota igual ou superior a 6, conforme Sistema de Avaliação adotado pela Secretaria de Estado de Educação e da Cultura (SEEC).

COMO FUNCIONA

A remissão consiste no abatimento de quatro dias de pena para cada obra literária lida, limitando-se a 12 obras por ano, uma obra por mês, e 48 dias de remição por ano. Os relatórios de leitura e resenhas permanecerão arquivados pela coordenação de educação penal no estabelecimento prisional no qual desenvolve as ações de Remição da Pena por Estudo através da Leitura até o arquivamento dos autos dos presos custodiados inscritos.

A lei aprovada determina que a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SEJUC) será responsável por propiciar espaços físicos adequados às atividades educacionais, por integrar as práticas educativas às rotinas dos Estabelecimentos Penais e por difundir informações incentivando a participação dos presos custodiados alfabetizados nas ações do Projeto “Remição pela Leitura”, em todos os Estabelecimentos Penais do Estado do Rio Grande do Norte. O texto também considera a possibilidade do governo firmar convênios, termos de cooperação, ajustes ou instrumentos congêneres, com órgãos e entidades da administração pública direta e indireta para a execução das ações do projeto.

“A leitura, na medida que enaltece o espírito de criatividade, melhora a visão de mundo, permite uma fluência maior nas comunicações interpessoais, potencializa do senso crítico e desenvolve a inteligência emocional e a capacidade de reflexão sobre os problemas sociais, ou melhor, torna a pessoa mais próxima do meio social, criando um verdadeiro sentimento de pertencimento ao meio. Isso é inserção social”, destaca o magistrado Cláudio Mendes Júnior, juiz da 3ª Vara Criminal de Mossoró.

Fonte: Jornal Tribuna do Norte 



25 de mar. de 2017

Lançada a Primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais - CBBP

No Brasil, a criação de bibliotecas prisionais é legitimada por meio da Lei de Execuções Penais (LEP – Lei Federal nº 7.210 de 11 de Julho de 1984) que diz em seu art. 21, Capítulo V, que: “Cada estabelecimento penal deve ser dotado de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”.


Apenados Lendo na Biblioteca Prisional/Fonte: Arquivo Pessoal/Catia Lindemann

Preocupada com a ausência de debates e reflexões concernentes à temática das bibliotecas prisionais e tendo como respaldo a relevância pertinente que envolve as unidades de informação presentes no cárcere, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) reuniu profissionais bibliotecários com atuação em instituições penais brasileiras para formar Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), respeitando os critérios de envolvimento, comprometimento e acima de tudo atuação dentro das bibliotecas prisionais. Neste sentido, a formação inicial conta então com a presença dos bibliotecários Catia Lindemann (como Presidente da Comissão), Carlos Wellington Martins, Cristiane Garcia, Daniella Pizarro e a representante Discente de Biblioteconomia Flávia Petterson

A iniciativa nasceu da Presidente da FEBAB, Adriana Ferrari, bibliotecária com vários projetos aplicados no cárcere, buscando sempre levar a informação para os intramuros prisionais. Adriana explica:

Fonte: Arquivo Pessoal/Adriana Ferrai
"Esta comissão nasceu da premente necessidade de discutir e informar mais sobre o tema aos bibliotecários 
e equipes de bibliotecas. 
É um assunto importante para a FEBAB e temos a certeza de que podemos contribuir e enriquecer debates e ações 
dentro de tudo que envolve as 
Bibliotecas Prisionais."

A Presidente da FEBAB também esclarece que o objetivo geral desta empreitada será "Promover as bibliotecas e a presença do bibliotecário nas unidades penais, a fim de assegurar o direito à educação e ao desenvolvimento humano dos apenados, respeitando e fazendo cumprir a legislação vigente no país."

MISSÃO 
Segundo a CBBP, a intenção é:

Dar ao Brasil uma representatividade oficial no que tange as bibliotecas prisionais, por meio da disponibilização de fontes de informação concernentes a temática das bibliotecas de estabelecimentos penitenciários,  alinhando as diretrizes já existentes no âmbito da biblioteconomia com a legislação vigente no país. 

O Manifesto da IFLA/UNESCO[1] sobre bibliotecas públicas 1994 entende que o acesso à informação é fundamental para o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade como um todo. Neste sentido, encoraja as autoridades nacionais e locais a comprometerem-se no desenvolvimento das bibliotecas públicas, que devem oferecer serviços para todos, sem distinção de idade, cor, raça, religião ou condição social, inclusive pessoas privadas de liberdade. Ao final, o Manifesto faz um convite à comunidade de bibliotecários para que seus princípios sejam implementados. Considerando as discursões atuais sobre as bibliotecas de estabelecimentos penitenciários, bem como a possibilidade de remição da pena através da leitura, ao criar a Comissão Brasileira deBibliotecas Prisionais, a FEBAB busca cumprir com os princípios estabelecidos no Manifesto.

A intenção da Comissão é seguir em sintonia com a Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA), que através da publicação “Ferramenta para o planejamento, implementação e avaliação de serviços de biblioteca prisional[2]” estabelece diretrizes que orientam e amparam os bibliotecários inseridos neste contexto em tudo o que se refere a estas unidades de informação. Cabe ressaltar que tais diretrizes foram reconhecidas e corroboradas pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). A IFLA recomenda que as mesmas sejam aplicadas em países onde exista a obrigatoriedade de biblioteca no cárcere, no entanto, observa que países em que exista uma Federação de Biblioteconomia, como é o caso do Brasil, esta pode subsidiar suas próprias diretrizes ou ainda, adotar e incrementar as já existentes. Do mesmo modo, a Associação Americana de Bibliotecas (ALA), também mantem uma comissão[3] destinada a todos os assuntos que envolvem bibliotecas prisionais, apresentando suas próprias diretrizes através das publicações "Library Standards for adult correctional institutions” e “Library Standards for Juvenile Correctional Facilities[4]”; além oferecer capacitação aos profissionais da informação (bibliotecários) para que possam atuar nas bibliotecas intramuros do cárcere, uma vez que estas possuem suas especificidades únicas.
Leia mais sobre... 

[1] Manifesto da IFLA/UNESCO (http://www.ifla.org/files/assets/public-libraries/publications/PL-manifesto/pl-manifesto-pt.pdf)

[2] Diretrizes da IFLA para Bibliotecas Prisionais (http://www.ifla.org/publications/ifla-professional-reports-92)

[3] Associação de Agências de Bibliotecas Especializadas e Cooperativas – ASCLA (http://www.ala.org/ascla/)

[4] Diretrizes da ALA para Bibliotecas Prisionais (http://www.ala.org/ascla/search/site/prison?f%5B0%5D=hash%3Altox0g)

16 de mar. de 2017

Bandido Bom é Bandido Professor, Mestrando, autor e que cria Bibliotecas

Itamar Xavier de Camargo, 37 anos, é professor de artes, aluno de mestrado, dá palestras e até escreveu livro. Mas sua realidade já passou bem longe do ambiente acadêmico. Parou de estudar aos 13, se envolveu com drogas e só foi concluir o supletivo após cumprir pena por assalto. Desde 2011, comanda o projeto Leitura Campeã, que já arrecadou cerca de 20 mil livros e criou 11 bibliotecas na região de Presidente Prudente (SP). Ele narra um pouco de sua história de vida:

Cresci numa favela de São Paulo. Adorava assistir TV na casa dos vizinhos, 
já que na minha não tinha. 
Outra diversão era brincar na água que descia pelos córregos nos dias de chuva, mesmo com todo o lixo e esgoto. Parecia aqueles toboáguas que achava que nunca iria ver na vida. 
Tinha seis anos quando testemunhei um assassinato pela primeira vez. 
Estava na mercearia do bairro quando ouvi os tiros. Ensanguentado, vi o homem agonizar no chão até parar de respirar.
Meus pais eram moradores de rua –ele era alcoólatra, e ela sofria de transtornos mentais.  
Fui criado por um casal de tios que brigava diariamente. Além de insultá-la, ele também batia nela. 
Nunca presenciei nenhum tipo de afeto entre eles.


A vida infeliz que minha tia levava fazia com que me tratasse com impaciência e intolerância. A forma como somos criados tem influência sobre o adulto que nos tornamos, mas as escolhas que me levaram pelo caminho que tomei sempre foram minhas.
Na casa deles tinha o que comer e foi lá que aprendi a tomar banho todos os dias. Mas o convívio com meus tios foi piorando. Fui crescendo enquanto eles perdiam o controle sobre mim. 
Aos 13 anos, fui morar com a minha avó.


Consegui um emprego como office boy, mas não me sentia motivado. Logo depois, conheci uns rapazes que me perguntaram se eu já tinha usado droga. Menti que sim, para ser aceito. Queria pertencer a um grupo. Conheci traficantes e fui me afastando do convívio social. Passava dias sem dormir, usava todo o tipo de droga e já quase não via minha avó. 
Comecei a precisar vender o que tinha para sustentar meu vício. 
Me desfiz de sapatos, roupas e, quando não tinha mais nada, passei a roubar.


O começo no mundo do crime: Detido pela primeira vez aos 16 anos, Itamar foi para a Febem - Fundação Casa, ele lembra sobre discorrendo:

Dormíamos amontoados, com os pés na cabeça do outro. Lá dentro, só enxergávamos o dinheiro que traficantes e criminosos ganhavam e tudo mais que não parecia ser possível de conseguir com trabalho honesto. Mas, nos períodos de ócio, comecei a tomar certo gosto pela leitura. Foi quando conheci um professor de artes que me incentivou a aprender algumas técnicas de pintura.
Um dia, durante uma rebelião, fugi. Me senti como um herói. As mulheres pareciam se atirar em meus braços. Para quem está na periferia, é bacana ser criminoso.

Do lado de fora do muro, deixei os livros e voltei para o crime. Tentei assaltar um casal e fui baleado pelo homem, que era policial. Mesmo ensanguentado, consegui fugir e me esconder.
Quando me recuperei, senti olhares de admiração me cercando, o que satisfazia a carência que sentia. Era conhecido, e a polícia queria me pegar de qualquer jeito. Aos 22 anos, fui preso por assalto a mão armada e formação de quadrilha. Cumpri a minha pena no interior de SP.


A vida no Cárcere:
Estar preso é como viver um dia interminável. Tiram sua liberdade, 
e você fica dias sem aprender nada. É um pesadelo, no qual sair em liberdade é como acordar.
E quando a gente sai, tem a sensação de que tudo ainda está como quando deixamos. Acompanhando a crise dos presídios, vejo que a situação dos encarcerados 
não é nada muito diferente do que eu vivi. 
Muitos não sabem nem ler e saem sem nenhuma formação ou perspectiva de vida.


Vi morte, vi brigas, apanhei, conheci os maiores integrantes de facções criminosas. Dormi sem roupa no chão das celas, sem colchão. Mas foi na prisão que virei um rato de biblioteca. Cumpri minha pena, em torno de cinco anos, e fui solto em Presidente Prudente, onde vivo até hoje.
Em liberdade, fiz um supletivo e logo depois ganhei uma bolsa de estudos para cursar pedagogia. Decidi que queria mudar. Recentemente, revi amigos de 20 anos atrás que não saíram do lugar. Acho que as pessoas precisam mudar diariamente. Precisam viver um processo de transformação diário. A todo momento, precisamos ser alguém novo.

Passei dias da minha vida preso, baleado em uma cama de hospital ou usando droga. 

Atualmente, pós liberdade: 

Hoje curso mestrado em educação e sou professor. Além de ministrar palestras para egressos do sistema penitenciário, suas famílias, e estudantes de ensino médio e superior, toco projetos de incentivo a leitura arrecadando livros para escolas e comunidades –desde 2011, já foram mais de 20 mil. Não me reergui da noite para o dia. Esse processo deveria começar no período de detenção, mas lá o único interesse é punir e parece que tudo é feito para dar errado. Mesmo assim, superei as adversidades e mudei de vida para transformar outras.


Fonte Original da Matéria: Folha de S. Paulo 

12 de mar. de 2017

Dia Do Bibliotecário

E você olha a lista dos candidatos classificados e lá está seu nome. Uauuu...Você conseguiu, vai cursar a área que lhe dará o diploma de bibliotecário, afinal, você antes pesquisou o que um profissional da informação faz e decidiu que seguiria por este caminho. Mas você precisa dividir sua alegria com os demais, corre com um sorriso de orelha a orelha para sua mãe e diz:

- Mãeeeeeeeeee, passei! Meu nome está na lista dos aprovados no Sisu.
- Que felicidade, filho! Nem acredito. Vai fazer Medicina é?
- Não, mãe. Farei Biblioteconomia.
- Biblio o quê? Tá, importante é que você vai pra faculdade.

Aí as tias ficam sabendo que você passou, elas sempre sabem de tudo. Ligam sem nem dar um “oi”, e de cara já disparam:

- Orgulho da Titia. Tô muito feliz. Será nosso futuro advogado, né?
- Não, Tia. Eu serei bibliotecário.
- Ah tá... Tipo bancário que mexe com Bíblia né?
- Nossa, Tia! Viajou legal hein... É assim, vou lhe explicar, tá?
(Tu tu tu tu...)
- Tia... Alô, tia? Eita... desligou!

Ah, que se dane a Tia. Vou postar logo nas redes sociais que sou “bixo” em Biblioteconomia. Gente, nem acredito, serei um universitário.

“Fala âehhh galera. Sou o mais novo #Bixo do pedaço. Facul que me aguarde”.

Meia-hora depois você já tem mais de 300 curtidas... O post bombou, afinal, curso superior não é para qualquer um. Até que aquele seu amigo chato resolve perguntar:

- Parabéns, brother! Foi aprovado em qual curso?

Você vai lá e, com o peito estufado, responde:

- Brigadão aí, mano! Vou fazer Biblioteconomia.

Silêncio na rede social. Nenhum like mais. Mas sempre tem um primo inconveniente para ajudar a piorar. Então ele dispara:

- Putz, moleque! Sua nota foi tão ruim assim? Biblioteconomia, véio?

Ninguém quer saber que você passou em primeira chamada ou que sua nota poderia lhe colocar em outro curso. Saco isso! Mas pera aí... Faltou contar para seu pai. Sim, o velho vai gostar, ele é seu grande fã. 

- Pai, seu filho aqui foi aprovado e vai entrar pra faculdade. Serei um futuro bibliotecário. Não é massa, velho?
- O que faz um profissional desses? Tá, não importa. Do que jeito que está nosso Brasil, diploma lhe rende ao menos uma cela especial na cadeia. Engole essa, Eike Batista! 

De cabeça baixa, com a autoestima lá no pé, você vai procurar colo de vó. Conta para ela tudo que aconteceu e eis a surpresa, sua vó conhece tudo de Biblioteconomia.

- Caraca, vó! Que legal! Você manja de Biblio, então? Sabe o que faz um bibliotecário?
- Claro, meu querido. Sempre frequentei muito as bibliotecas, e bibliotecário é aquele que olha bem sério pra sua cara e faz “pssssssiuuuuuu, silêncio”. 

Não tem jeito. Mesmo assim, contra tudo e todos, você vai lá e encara o curso com todo o amor que você tem, afinal, é o seu sonho. Danem-se os outros. E por não ter desistido, você agora pode se orgulhar e dizer:
“Sim, eu sou um bibliotecário e 12 de Março é o meu dia. Parabéns pra mim!”


4 de mar. de 2017

Do Submundo do Crime à imortalidade dos livros – Luiz Alberto Mendes

Fato é que nosso sistema prisional Brasileiro já nasceu praticamente morto, ainda que seu propósito de recuperação esteja incluído como objetivo geral da Lei de Execução Penal. Mas são raros os casos em que os presos se apresentam preparados para a reinserção no mundo aqui fora e tão pouco no mercado de trabalho. Isso ocorre porque não há uma preparação para o regresso do apenado, ainda que esta esteja garantida por lei.

Segundo Michel Foucault (1993), “O essencial da pena não consiste em punir, o essencial é procurar corrigir e reeducar.” As palavras de Foucault já não encontram eco na realidade, na medida em que estamos nos afastando do propósito da pena, que é o da reeducação do apenado. Já Bonneville (1846), afirmava que: “A pena não deve ter unicamente uma função de exemplaridade, mas, sobretudo promover a correção e reinserção social dos criminosos.” É por meio da educação que se pode e deve preparar o indivíduo encarcerado para a liberdade, acarretando assim um índice menor de reincidência no crime.

Com base nos argumentos acima e acreditando que não há outro caminho no combate da criminalidade senão a Educação, resolvi, há alguns anos atrás, montar uma Biblioteca no Cárcere. A ideia nasceu, quando ainda no mundo das artes me chamaram para ajudar numa festividade da Penitenciária local aqui de minha cidade. E lá descobri que aquela instituição penal não contemplava um espaço para os livros. Aliás, foi assim que fui parar na Biblioteconomia.

Escrevi um projeto que tinha como proposta a implantação de uma biblioteca naquele espaço prisional. Mas como convencer, com exemplo, de que os livros poderiam de fato somar e até alterar rotinas intramuros? Eu precisava de algum elemento que já tivesse dado certo, que de fato pudesse fazer as pessoas acreditarem na minha iniciativa, afinal, apenas citações de pesquisadores me eram rasas enquanto aplicabilidade. Eu sabia que a empreitada seria árdua e que eu seria questionada sobre isso, mas não desisti e segui em frente. Os livros são ponte para a Educação e até alento para o espirito de quem está atrás das grades. 

Foi ai que tomei ciência, depois de muito pesquisar, sobre a história de vida de Luiz Alberto Mendes e busquei inspiração em sua trajetória de vida e no milagre que os livros fizeram com ele. O Luiz é um exemplo vivo do quanto à leitura pode resgatar a autoestima do encarcerado, independente de qual seja seu delito. “Memórias de um Sobrevivente” (2001), A obra, escrita por ele próprio, relata o seu caminho pelo mundo do crime. Ex-presidiário que foi condenado a mais de cem anos de prisão por assalto à mão armada e homicídio. Cumpriu 31 anos e 10 meses de prisão, aprendeu a ler e escrever na cadeia, tendo encontrado na literatura o refúgio para vencer as barreiras do cotidiano prisional. Além de passar no vestibular, conquistou a liberdade há poucos anos. Atualmente é escritor e já publicou seis livros, além de palestrante e colunista.

A narrativa de Mendes se dá após um período de nove meses de confinamento na cela-forte (solitária) da Penitenciária Estadual do Estado de São Paulo, onde Luiz Alberto Mendes entra em contato com a literatura através de um amigo que por meio do encanamento do esgoto lhe passava a leitura de vários livros. Essa imersão no universo literário foi uma das principais razões que provocou uma mudança de paradigma na vida dele, ou seja, ele passou há dedicar seu tempo e esforços em prol da literatura, o que certamente auxilia outros presos a seguirem seu caminho. Foi à literatura a grande responsável pelo seu processo de emancipação e, consequentemente, pela formação da sua nova identidade que, mais uma vez, deu-se pelo ato da diferenciação, pois:

A partir dos romances, comecei a me interessar por livros mais profundos. As relações criminosas já não me satisfaziam mais. Pouco tinha a me acrescentar. [...] O submundo do crime começou a me parecer estreito, limitado, e eu já não cabia mais só ali. Voava alto, conhecera novos costumes, novos países, novas relações com a vida. ( MENDES, 2001, p.445)

O exemplo de Luiz Alberto Mendes ilustra o quanto a literatura é capaz de alavancar a autoestima dos encarcerados e devolver-lhes os sonhos até então enclausurados tanto quanto o detento. Com a leitura, homens e mulheres a quem foi imposta uma medida restritiva de liberdade provam ser, sobretudo indivíduos que permanecem com suas potencialidades intelectuais.

Mendes comprovou que, por meio da educação literária, o apenado encontra o combustível necessário para que sua identidade seja salvaguardada e passa a nutrir o alento de que mudar é possível e os livros podem e devem ser o caminho que o levará de volta para a liberdade. O conhecimento pode tornar-se uma diretriz para seguir sem que o estigma de ser um ex-detento lhe seja um fardo tão pesado que o faça sucumbir ao delito novamente.

Recentemente (2015), Mendes publicou mais um livro: "Confissões de um Homem Livre", lançado pela Companhia das Letras, encerra a sua trilogia de 2001, seguida de "Às cegas" em 2005. Assim como nos outros livros – em que narrou suas primeiras passagens pelas prisões e a experiência que o levou até à escrita -, o seu relato do mundo do crime é um dos poucos que não doura a pílula. O discurso é seco, nervoso e direto. Sua honestidade, desconcertante. E são essas qualidades que aparecem de modo mais contundente nesta história sobre os anos que antecederam a sua liberdade.

Até hoje faço questão de ressaltar o quanto fui e sou grata a Mendes por servir de exemplo para que a Biblioteca no Cárcere se tornasse realidade, concretizei o meu sonho e ainda inspirada por ele, consegui transformar apenados em autores. Presos que até então jamais haviam lido um só livro na vida e que pós a biblioteca foram da prisão à imortalidade dos livros, de leitores para autores, tal como ele próprio.

Quer saber mais sobre o Luiz Mendes? Leia aqui, seus artigos são imperdíveis.

P.S. Tempos depois de escrever sobre ele no projeto, eu o encontrei numa Rede Social e quase não acreditei quando começamos a conversar, literalmente trocar figurinhas. Ao finalizar meu texto, fui até ele pedir autorização para publicar e eis que recebo mais noticias boas:

Com toda certeza e ainda assino em baixo. Vai fundo, o quanto servir é o máximo para mim. Que minha existência seja importante para as pessoas, é o meu esforço.Vou ganhar o Prêmio “Trip Transformadores” pela minha luta pessoal e pelo meu trabalho nas prisões. Estou com um projeto que eu e meu parceiro já aplicamos o piloto e deu super certo, no CR de Limeira (Centro de Ressocialização), agora começaremos a ensinar um grupo de estagiárias de psicologia a multiplicar o projeto para toda a unidade prisional, e vamos para outras prisões. O projeto tem 20 módulos e elenca 37 assuntos que eu e o parceiro (Maurício que é psicólogo e coaching) consideramos essenciais para debate e discussão com os homens aprisionados. Ao final eles ficam voando baixo, empoderados críticos e autocríticos, filosofando. Tenho orgulho desse projeto, foram 12 anos aqui fora batalhando e finalmente consegui. (MENDES, 2016)

1 de mar. de 2017

CBBD 2017 – Biblioteconomia Social? Presente!

XXVII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação 2017 será realizado na cidade de Fortaleza (CE), nos dias 17 a 20 de outubro – Tema: “Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas: como as bibliotecas podem contribuir com a implementação da Agenda 2030”.

O maior evento na área dos profissionais da Informação abordará – pela primeira vez -, o tema Biblioteconomia Social

O eixo 4 dos trabalhos será todo destinado ao contexto social de camadas da sociedade com vulnerabilidade, buscando a inclusão de todos no que tange ao acesso à informação. Não é novidade ter o social como peça chave nos debates bibliotecários, no entanto, nosso destaque fica por conta da ênfase oferecida a nomenclatura “Biblioteconomia Social”, termo que hoje, para nossa felicidade, cada vez tem sido mais discutido, ponderado e até de fato aplicado dentro dos fazeres biblioteconômicos. 

O Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação – CBBD, é promovido desde 1954, sendo considerado o mais importante do segmento e tem como objetivo discutir o estado da arte da Biblioteconomia e da Ciência da Informação e integrar os profissionais das bibliotecas brasileiras de todas as tipologias: escolares, públicas, comunitárias, universitárias e especializadas.

O evento é responsabilidade da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários - FEBAB, detentora dos direitos da marca do CBBD e de acordo com a FEBAB, nesses mais de 50 anos de trajetória tornou-se um espaço privilegiado para a apresentação de experiências, práticas e difusão da produção técnico-científica relativa a bibliotecas, unidades de informação, ensino e pesquisa.


A cada edição é escolhido um tema central e uma cidade sede. Fortaleza será a anfitriã pela terceira vez o CBBD. Então, para você que se identifica com a Biblioteconomia Social, que desenvolve fazeres com o social ou tem projetos sobre o tema, que tal mandar o seu trabalho para este eixo incrível? Saiba mais clicando aqui...

Fonte: Febab (http://febab.org.br/)