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23 de out. de 2017

Ex-presidiário ministra palestra ao lado de professor universitário no maior e mais importante congresso da área de Biblioteconomia

Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação – Itamar chega nervoso, pergunta se pode mesmo falar sobre sua história, da trajetória que o levou do submundo criminoso às salas de aula na condição de professor. Eu apenas disse a ele: “Seja você mesmo, esqueça a cientificidade e mostre que os livros atrás das grades podem sim fazer a diferença”

Itamar Xavier de Camargo
Ele começou sua fala e eu assumo, chorei copiosamente, afinal, em cada descrição de sua história, vinha à mente os tantos “Itamares” que temos nas prisões brasileiras, impossível não lembrar o meu trabalho a frente da biblioteca prisional e naquele palco pensar: “Sim, chegamos ao principal evento da Biblioteconomia, dos bibliotecários e das bibliotecas. Já não somos invisíveis ou negligenciados”.

O Itamar Xavier de Camargo dedica sua vida a fazer com que as pessoas tenham acesso à cultura, arte e informação. Ele, melhor do que ninguém sabe da importância que isso tem na vida de cada um, pois trilhou um árduo caminho, da infância pobre na periferia de São Paulo, passando pela violência, crime e depois o cárcere, até se tornar um semeador de livros e formar bibliotecas comunitárias em áreas carentes de Presidente Prudente. Sua trajetória de vida é um exemplo do poder de transformação pelo conhecimento e da determinação de um homem e sua luta na busca de sair de uma situação sem qualquer perspectiva de futuro. Quer saber mais sobre o Itamar? Leia seu livro “A Verdade que Liberta”


Professor Jonathas Carvalho
Logo após a emocionada fala de Itamar, tivemos o professor Jonathas Carvalho, do curso de biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Mestre e Doutor em Ciência da Informação que há anos vem debatendo a questão da importância das Bibliotecas Prisionais e buscando inseri-las também dentro da formação do futuro bibliotecário. De acordo com o professor Jonathas:

“Mais do que uma ampliação de mercado, o reconhecimento da atuação pedagógica da Biblioteconomia em presídios é uma expressão altiva e ativa do trabalho social da área do conhecimento em questão”. 
Leia na íntegra um artigo completo do professor sobre o tema. 

Jonathas encerra sua palestra chamando a academia de Biblioteconomia para o engajamento desta pauta, ressaltando que as Bibliotecas Prisionais são tão bibliotecas quanto as bibliotecas escolares ou universitárias, por exemplo. Bem, pessoalmente sou suspeita para falar deste Mestre, uma vez usei inúmeras falas dele em vários de meus projetos de Biblioteconomia Social e em especial nas bibliotecas prisionais. Tê-lo junto do Itamar, criador e criação, foi realmente emoção que palavras não descrevem. 

Workshop

Workshop
Num segundo momento, aconteceu outra reflexão sobre o assunto, com a presença do Itamar e da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), dentro do “Workshop” que discutia o papel das Bibliotecas Prisionais: utopia ou realidade dentro do cenário brasileiro? 

Com a participação de bibliotecários, professores e estudantes de Biblioteconomia. Deparamo-nos com relatos maravilhosos de pessoas engajadas em projetos dentro do sistema penal, bibliotecas e pesquisas, além da participação de profissionais de outras áreas, como foi o caso dos Assistentes Sociais e Pedagogos. Sabemos que não é utopia, no entanto, ainda longe de ser uma realidade nacional. 

Cleide Fernandes (SNBP/MG); Catia Lindemann (Presidente da CBBP);
Guilherme Relvas (DLLLB); Renata Costa (SNBP/RJ)
Assim, aos poucos, vamos ganhando força e formando parcerias para que, de fato, as unidades de informação no cárcere possam ser aplicabilidade e não tão somente lei no papel. Para tal, ainda no CBBD, realizamos diálogo e obtivemos o apoio do atual Diretor do Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) do Ministério da Cultura (MinC), Guilherme Relvas. Do mesmo modo aconteceu com o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Rio de Janeiro, sob coordenação de Renata Costa, que já efetua projetos de remição da pena por meio da leitura nas penitenciárias do Estado do Rio e atua diretamente na supervisão das bibliotecas prisionais do RJ. Por fim e não menos valiosa, obtivemos outra ponte, desta vez no Estado de Minas Gerais. Trata-se da bibliotecária Cleide Fernandes, diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais de MG.

Foi assim que as bibliotecas prisionais  ganharam espaço neste que é o principal evento da área de Biblioteconomia. Pela primeira vez na história, em décadas de realização, tivemos os livros na rotina intramuros das prisões como pauta de discussão. Em suma, comprovamos que 2017 foi literalmente o ano de “renascimento” das Bibliotecas Prisionais. Digo renascer porque em verdade elas já completaram 33 anos, mas apenas agora se tornaram visíveis e foco de atenção, tanto da academia quanto da sociedade – neste caso de modo mais módico e discreto. Mas seguimos nossa luta pelas Bibliotecas Prisionais, agora mais
fortalecidos, bradando que as mesmas não são assistencialismo, mas prerrogativa prevista em lei.

Carlos Wellington (CBBP/MA); Adriana Ferrari (Presidente da FEBAB);
Catia Lindemann (CBBP/RS)
Fica nossa gratidão a  Adriana Ferrari, presidente da Federação Brasileira das Associações de Bibliotecários (FEBAB), entidade que além de ser a responsável pelo CBBD, também montou a primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), oportunizando representatividade para que estas pudessem verdadeiramente ter voz e inserção dentro da área de Biblioteconomia e no país como um todo. Agora é respirar e seguir em frente porque a luta continua. Inspiremo-nos!

2 comentários:

Muito lindo esse trabalho, parabéns aos envolvidos! Um mundo melhor é possível sim!

O CBBD2017 superou às expectativas dos participantes. Foram muitas emoções, crescimento profissional e pessoal! Saímos de lá com um leque de possibilidades onde podemos contribuir para uma sociedade inclusiva. Se Deus permitir vou sair do meu quadrado e alçar voos nunca imaginado! Obrigada Adriana Ferrari e Equipe pelo excelente trabalho desempenhado no #CBBD2017

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