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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

15 de dez. de 2016

Unidade Prisional Feminina de Palmas – TO, realiza formatura de aluna

Sim, não há outro caminho no combate a criminalidade senão a Educação. Prova de que isso é possível está ai, nas palavras de Kelle Silva Barbosa, reeducanda da Unidade Prisional Feminina de Palmas (UPF Palmas), de 24 anos, que realizou a formatura do ensino médio, na manhã desta quinta-feira, 15, na extensão da Escola Estadual do Setor Sul, localizada dentro da unidade:

“Estou surpresa e realizada, porque parei de estudar com 12 anos e, até então, não tinha mais estudado. Após ter sido presa, retornei para a escola e conclui os estudos”.

E ela ainda quer mais, seu grande sonho é fazer diferente: entrar na faculdade, sair da unidade prisional e voltar para o seio familiar. “Eu espero que a minha história sirva de exemplo para muitas pessoas lá fora. Atualmente, a educação anda muito difícil, muitas pessoas não conseguem o que eu consigo e o que consegui dentro do sistema prisional”, ressaltou.

Kelle fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos dias 6 e 7 de dezembro e espera ter tirado uma boa nota para ingressar em uma faculdade. Ela concluiu o ensino médio e terá que parar de estudar, porém gostaria muito que a Secretaria de Estado da Cidadania e da Justiça – SEJICU, pudesse lhe colocar em um programa voluntário para ajudar na alfabetização das reeducandas da UPF, na intenção de que elas continuassem frequentando a escola.

Segundo Zila Parra, diretora de extensão da Escola Estadual do Setor Sul da UPF, a formatura de Kelle Silva Barbosa é a realização de um sonho. “Essa formatura representa um marco dentro da UPF, um acontecimento que, muitos, lá fora, não conseguem e ela pode ter essa oportunidade e muitas ainda terão, comemorou”.

Maria Soares Maione, diretora da unidade, considera a educação muito importante dentro da unidade. “Cada pessoa que se forma, transforma-se em uma pessoa melhor. Tenho certeza de que com cada uma estudando e se profissionalizando com os cursos que oferecemos, aqui na unidade, elas sairão pessoas melhores e com grande comprometimento social”, ressaltou a diretora.

Em 2016, ao todo, 38 reeducandas foram matriculadas na unidade, sendo 18 para cursar o ensino médio e fundamental e 18 transferidas para as unidades de semiliberdade do Estado ao longo do ano. Outras 16 reeducandas concluíram os estudos com êxito.


Exemplos de que a Educação prisional altera rotinas e aponta novos caminhos nós temos, basta ampliar, tornar isso uma meta dentro do sistema prisional. Não é assistencialismo ou benevolência, mas um direito previsto por lei. O cárcere não consiste apenas em tirar o individuo transgressor de leis das ruas e trancafiá-lo na rotina intramuros das prisões, mas sim reeducá-lo, tal como vem sendo feito no Tocantins. Ora, sabemos que no Brasil não existe pena perpétua, uma hora os apenados cumprem o débito para com a justiça e saem. A pergunta que nós, enquanto sociedade devemos fazer é: Como desejamos que estas pessoas saiam do cárcere e voltem ao convívio com a sociedade extramuros?

Fonte: Governo do Tocantins  

14 de dez. de 2016

Dom Paulo Evaristo Arns - O cardeal dos Direitos Humanos

Para os jovens de hoje, Dom Paulo Evaristo Arns foi delineado nos textos baratos da Direita repulsiva como sendo o principal inspirador da política de direitos humanos “que só protege os bandidos”. No entanto, já aqueles que buscam ler a verdadeira e triste biografia da Ditadura de nosso país e que de fato sabem o significado dos Direitos Humanos, Dom Paulo foi um homem imprescindível dentro do que fez neste Brasil de ganância exacerbada e da competição insana. Seu exemplo deve inclusive servir como antídoto para ser ministrado nestes tristes tempos que vivemos, dentro de um país que cada vez mais retrocede aos dias negros da história.

A atuação pastoral de Dom Paulo Evaristo Arns foi voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base (CEB) nos bairros, principalmente os mais pobres, ao cárcere, em especial o Carandiru e à defesa e promoção dos direitos da pessoa humana.

Filho do colono Gabriel Arns, muito humilde da região de Criciúma, antiga colônia de imigrantes alemães em Santa Catarina, Dom Evaristo entrou para o seminário Franciscano. Muito anos depois, quando concluía os estudos na Sorbonne com uma tese sobre a técnica do livro segundo São Jerônimo, o frade mandou um telegrama para seu pai, que lhe disse antes de sair do Brasil, a seguinte frase: “Paulo, nunca se envergonhe de dizer que você é filho de colono”. Ele então respondeu ao pai: “O filho do colono é doutor pela Universidade de Paris e não se esqueceu da recomendação do pai”.

DITADURA - 30 de outubro de 1979: Lá estava o corpo do operário Santo Dias da Silva – cujo desaparecimento só não aconteceu porque sua mulher, Ana Dias, entrou à força no carro dos policiais que o transportaram. Depois de discutir com a PM para que libertasse os militantes presos por organizar uma greve não apoiada pelo sindicato, o metalúrgico foi baleado nas costas diante de uma fábrica na zona sul paulistana.
“Dom Paulo saiu de casa com todos os trajes episcopais e chegou dizendo: ‘Abram a porta. É o arcebispo de São Paulo’. Foi aonde estava o corpo e pôs o dedo na bala, indicando o ferimento feito por um policial”.  O operário só não “desapareceu” porque Paulo Evaristo Arns abriu caminho para que seu corpo pudesse ser sepultado. 
Dom Paulo lutou bravamente contra a ditadura, ele, por exemplo, jamais acreditou na versão de que o jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, houvesse cometido suicídio na cela em que estava detido, no DOI-Codi, outro aparelho da ditadura. Comandou então, na Catedral da Sé, um ato ecumênico que entraria para a história da luta pela democracia e o fim da ditadura no Brasil, missa de sétimo dia da morte de Vlado.

MORADORES DE RUA – Em 1973, alguns anos depois de se tornar arcebispo de São Paulo, Dom Evaristo tomou uma atitude que até hoje soa como surpreendente no meio católico. Ele simplesmente vendeu por US$ 5 milhões o Palácio Episcopal Pio 12, um imponente imóvel usado como residência oficial da autoridade católica e mudou-se para uma casa simples no bairro do Sumaré. Mais radical ainda, ele com o dinheiro arrecadado com a venda do imóvel, determinou a construção de 1.200 centros comunitários na periferia de São Paulo, abrigando assim várias famílias sem moradia e também construindo lá ambientes informais para reuniões das paróquias locais. 
Eram barracos de madeira, a maioria construída em mutirão, que os próprios morados incentivados por ele fizeram e assim também organizaram creches, escolas, transporte e postos de saúde, dentre tantas outras coisas.
Tempos depois, junto da Pastoral do Povo da Rua, ocorreu um episódio em que um grupo de moradores de rua estava na iminência de passar mais uma noite fria do inverno paulistano debaixo de um viaduto. A Prefeitura de São Paulo, então administrada por Paulo Maluf, havia fechado um abrigo e, naquela noite, dom Paulo disse que dormiria no local enquanto não fosse reaberto. Imagine só, o arcebispo embaixo de um viaduto, Maluf então ordenou que fossem tomadas providências para abrigar a população de rua.

PAULO FREIRE - "Quanto ao Paulo Freire, eu fui a Genebra para convencê-lo a voltar ao Brasil, depois de 10 anos de exílio. Garanti que eu iria cuidar da chegada dele aqui. 
E mandei toda a nossa Comissão de Justiça e Paz, que eram mais de 40 pessoas, junto com amigos, para recebê-lo em Campinas. De fato a polícia o prendeu, mas, depois de duas horas de interrogatório, eles viram que todos estavam contra eles e soltaram o Paulo Freire, que ficou conosco, com uma grande amizade comigo, até o momento da sua partida”. (Dom Paulo Evaristo Arns)

CARANDIRU - Dom Evaristo Arns percorreu por muitos anos Casa de Detenção de São Paulo, então o maior complexo penitenciário da América Latina com 7.500 presos (mais que o dobro da sua capacidade). Lá ele ouvia os apenados, realizava missas e projetos sociais com os presos. 

Pós o massacre, ele considerou os fatos trágicos e únicos na História do país. Junto com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP), formou uma comissão para investigar a chacina dos presos.

Como reconhecimento por sua obra humanitária, Dom Paulo recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior, como o Prêmio Nansen do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), o Prêmio Niwano da Paz (Japão), e o Prêmio Internacional Letelier-Moffitt de Direitos Humanos (EUA). 

Criou também a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo e foi o grande artífice do projeto Brasil: Nunca Mais (livro sobre as violações de direitos humanos durante o regime militar), integrando também o movimento Tortura Nunca Mais, dele decorrente. Acesse aqui para ler a obra digital. 

Em outubro de 2012, o jornalista Ricardo Carvalho lançou a biografia “O cardeal da resistência – As muitas vidas de dom Paulo Evaristo Arns”.

Uma de suas últimas menções, já na UTI – Unidade de Terapia Intensiva -, foi: “Confiança, vamos avante. De esperança em esperança. Na esperança sempre. A gente pode desanimar sofrer, esmorecer, mas desistir jamais. A esperança não é o ópio do povo, mas o motor que modifica o mundo.”

Perdemos hoje mais do que um emérito arcebispo, em verdade se foi um bravo militante dos Direitos Humanos, um homem que lutou contra a Ditadura, acolheu os pobres e levou consolo e esperança aos presos. Fica o seu legado e a esperança que ele tanto nos ensinou à nunca perder. Infelizmente, dentro da nossa lamentável contemporaneidade Brasileira, é tudo de que mais necessitamos: Esperança de que o Brasil possa sair desta crise que nos assola, esperança de que o golpe caia por terra e que não venhamos a retroceder mais do que já estamos... Esperança de não precisar voltar a lutar dentro da Ditadura que Dom Evaristo tanto combateu. Vá em paz Paulo, na paz que tanto desejou à humanidade, e nos céus da paz olhai e rogai por nós. 


Fonte:
Memórias da Ditadura
Pastoral de Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo

Instituto Dom Paulo (http://www.dompaulo.org.br/)

9 de dez. de 2016

Biblioteconomia Social: discutindo e refletindo a identidade de gênero

Será que os Bibliotecários estão preparados para atender a demanda de informação no que tange a "Identidade de Gênero"? 

Foi o que eu e a Dandara abordamos neste artigo. Buscamos refletir sobre o assunto e assim trazer à tona esta pauta por demais relevante e pertinente. 

Fica nosso agradecimento ao Luis Mahin Domingues (transgênero)  pelo depoimento que nos forneceu, infelizmente, mostrando o quanto ainda há preconceito e ausência lamentável de informação... Mas o que mais constrange é que muitas vezes essas informações são lacunas exatamente dentro dos locais sob gestão dos bibliotecários: as Bibliotecas. E mais, bibliotecas universitárias. 

"No ambiente acadêmico a prática do “silenciamento” e da ‘’naturalização’’ em virtude de nossa presença é arma eficaz utilizada por aqueles que preferem omitir seus preconceitos a admiti-los". (Luis M. Domingues)