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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

27 de jul. de 2020

Quarentena Literária: Sites para acessar livros de graça

5 Dicas de leitura e 5 Sites para acessar obras inteiramente de graça

A quarentena tem sido um momento de medos e incertezas para todo mundo. Mas, ao mesmo tempo, traz uma grande oportunidade de reflexão. Por ser um período de distanciamento social, é comum que as pessoas sintam falta do importante convívio em sociedade. Com isso, sintomas de ansiedade ou depressão podem ser percebidos nesse período. É preciso investir em ações que auxiliem na redução do nível de estresse e a leitura pode, até deve, ser uma ótima opção. O surto de coronavírus obrigou o mundo inteiro a ficar em isolamento social. Inicialmente, as pessoas começaram com uma abordagem positiva para combater a situação atual. No entanto, a cada dia que passa, a monotonia está exagerando em sua criatividade. Há um nível de satisfação para quase todas as atividades, como cozinhar, pintar, limpar, jardinar, entre outras coisas internas em que as pessoas realizam dentro da quarentena. No entanto, há algo que não desaparece com o tempo e nem esgota nunca: ler! A leitura não é nada chata e é a porta de entrada para a paz para a qual a mente é criada.
  

Covid19 - Veja por que você deve desenvolver o hábito de ler em quarentena: 


1. Ler é chato – Jamais, isso é um mito 

Muitas pessoas presumem que a leitura é chata, pois lhes dá a sensação de estudar para algum exame ou algo semelhante. Antes de tudo, evite essa ideologia estereotipada, a leitura não é uma responsabilidade que você precisa pressurizar a si mesmo ou a sua mente. De fato, é um exercício para o seu cérebro. 

2. Não leia conteúdo útil 

Como estamos falando de atividades de lazer aqui, não faz sentido antecipar objetivos futuros. Basta escolher o que você ama. Por exemplo, você é uma pessoa de negócios e qualquer coisa relacionada à economia ou mercado beneficiaria você, mas, ao mesmo tempo, você gosta de histórias românticas. A leitura é uma atividade de lazer; portanto, escolha o que seu coração deseja e não o que seu cérebro calcula. 

3. Qualquer gênero está insuflando profundo conhecimento em você 

Não pense que, se você estiver lendo para se divertir, nunca será benéfico para você. O conhecimento nunca é desperdiçado. Ao contrário, aprimora seu talento interior. É uma excelente maneira de se conectar com sua alma e, uma vez conectado, você pode ver claramente o seu caminho. Portanto, a leitura apenas canalizará sua energia na direção certa. Talvez você estivesse no caminho errado a vida toda e esse fosse o momento certo para aproveitar ao máximo seu talento interior. 

4. A leitura aguça a mente 

Já foi comprovado por muitos especialistas que a leitura liga seu circuito principal, ou seja, seu cérebro. É uma ótima maneira de fazer exercícios cerebrais. No entanto, funciona apenas quando você não lê apenas para ler, mas tem prazer no que está lendo. Essa satisfação deve ser alcançada por dentro e você acabará por desenvolver um belo relacionamento com seus livros. 


5. Melhora as habilidades de comunicação

Quando você desenvolve o hábito de ler livros, é capaz de perceber e armazenar as coisas permanentemente em sua mente subconsciente. Portanto, quando você escreve ou fala, é capaz de refletir sobre o que está lendo através de suas palavras. 

5 Sites para acessar e ler livros de graça

O bom é saber que podemos ler bons livros sem gastar um centavo. A web está cheia de opções para que possamos baixar novas leituras e clássicos antigos no conforto do seu tablet, Smartphone ou notebook. Existem sites com inúmeras variedades de títulos e até os Best-Sellers mais famosos do mundo. 

Confira as dicas abaixo: 

Amazon: Para reduzir o estresse, entreter e ainda ocupar sua mente, a Amazon liberou mais de 8 mil Livros grátis para leitura nesta quarentena. Para conferir todos os livros disponíveis grátis, é só acessar aqui. 


Google Books: Na seção gratuita da Google Books, você encontrará muitos livros gratuitos de diversos gêneros. Procure aqui best-sellers, clássicos favoritos e muito mais. Os livros estão disponíveis em vários formatos e você também pode conferir as avaliações e comentários de outros usuários. O sistema deste site é o mais simples, apenas o acesso ao seu domínio, o título necessário é colocado e pronto. 

eBooks Brasil: Entendemos que muitos dos sites para baixar livros online grátis em PDF não contam com exemplos em nosso idioma, mas isso não significa que não existam. O eBooks Brasil é um exemplo disso. Funcionando por meio de doações, ele permite a qualquer visitante usar as obras e usarem a seu bel prazer, exceto para fins comerciais e políticos. A entrada é livre e não precisa se registrar para baixar as obras. Além do PDF, também pode baixar livros no formato MOBI – ideal para o leitor de ebook Kindle -, eBookPro e MS Reader, entre outros. 

Portal Domínio Público: Um portal do governo brasileiro dedicado a disseminar obras clássicas de maneira livre e gratuita, o Portal Domínio Público conta com obras de licença livre. Ou seja, pode baixar sem culpa ou achar que está pirateando. Nesse portal, pode encontrar obras clássicas como A Divina Comédia e a obra completa de Machado de Assis, por exemplo. Também é possível encontrar material complementar como vídeos de entrevistas de autores ou personalidades na área de educação. Para buscar por uma obra em domínio público, basta acessar o site e procurar pelo nome do livro ou autor! 

BaixeLivros: É uma espécie de biblioteca virtual que oferece um maior relacionamento entre o leitor e o autor. O acervo disponível para leitura em seu site é composto, em sua grande maioria, por obras que se encontram em domínio público ou que contam com a devida licença por parte dos titulares dos direitos autorais. O site possui vários livros online disponibilizados na íntegra, de diversos temas, como livros infantis, didáticos, cursos, religiosos, receitas, romance, ação e aventura, gibis, literatura de cordel e muito mais. Os livros infantis são categorizados por idade, facilitando a busca da leitura adequada para cada fase do desenvolvimento infantil e todos eles são disponibilizados para download gratuito. 

OBS: Todos os sites, aqui disponibilizados, respeitam a Lei do Direito Autoral e dispõem de obras em Domínio Público, exceto a Amazon que abriu mão de seus rendimentos para ofertar leitura na quarentena. 

30 de jun. de 2020

Livros além das grades: por que focar nas Bibliotecas Prisionais?


Entrevista com Lisa Krolak, do "Instituto para a Aprendizagem ao Longo da Vida" da UNESCO

Sem dúvida, as prisões são alguns dos ambientes mais difíceis nos quais as bibliotecas podem ser encontradas, trabalhando com leitores que enfrentam problemas complexos. No entanto, ajudando a desenvolver novas habilidades e a preparar apenados para a vida do lado de fora, elas podem ter um grande impacto. Para descobrir mais, trazemos a entrevista feita com Lisa Krolak, bibliotecária-chefe do Instituto para a Aprendizagem ao Longo da Vida da UNESCO na Alemanha.

Lisa é autora do livro "Books Beyond Bars: The transformative potential of prison libraries" (Livros Além das Grades: O potencial transformador das bibliotecas prisionais), lançado no Congresso Mundial da IFLA (WLIC) em 2019 na capital da Grécia, Atenas. 

Ela preside o Grupo de Trabalho da IFLA sobre Bibliotecas Prisionais, estabelecido sob a Seção de Serviços de Biblioteca para Pessoas com Necessidades Especiais (LSN). Para mais informações, você pode contatá-la diretamente.


1) Por que focar nas bibliotecas prisionais em particular?
De acordo com padrões internacionais, os presos têm o direito de acesso à educação e informação, incluindo serviços de bibliotecas de qualidade. No entanto, na realidade, a maioria das bibliotecas prisionais não possui recursos suficientes e trabalha isoladamente. A opinião pública geralmente não é a favor de tratar bem os prisioneiros e vê o encarceramento como punição ou dissuasão. No entanto, um dia, a maioria dos prisioneiros é libertada e deve ser do nosso interesse que eles possam viver vidas livres de crimes depois. É mais provável que os presos venham de grupos e comunidades pobres, discriminados e marginalizados, e é mais provável que tenham tido uma experiência educacional limitada ou inexistente do que o resto da sociedade. Muitos têm dificuldades em ler e escrever e provavelmente nunca ou raramente usaram uma biblioteca antes. Oferecer oportunidades educacionais, incluindo serviços de biblioteca de qualidade, é uma maneira de apoiar sua reabilitação.


2) Que diferença as bibliotecas prisionais podem fazer?
O acesso à educação e, mais especificamente, bibliotecas e materiais de leitura podem ajudar a quebrar o ciclo de desvantagens educacionais, pobreza, violência e crime. Além de apoiar a aprendizagem ao longo da vida e a oportunidade de melhorar os níveis educacionais, as bibliotecas prisionais podem fornecer serviços que ajudem os prisioneiros em suas vidas diárias e os auxiliem em planejar sua liberação. Fornecer materiais para a leitura de prazer e outras oportunidades de entretenimento é uma maneira construtiva de passar o tempo livre e pode ser um meio de distração e fuga das preocupações diárias. As bibliotecas prisionais também apoiam a coesão social, atuando como locais de encontro com um ambiente calmo, descontraído e seguro, além de espaços para leituras, debates e cultura. Além disso, há o potencial transformador de participar de atividades de alfabetização (como círculos de leitura ou oficinas de escrita criativa), que propiciam o pensamento crítico e permitem que os apenados reflitam sobre sua vida. Usar os serviços da biblioteca da prisão é uma das poucas oportunidades nas quais os presos têm autonomia e responsabilidade de fazer suas próprias escolhas, selecionando o que ler e como se informar.


3) Que fatores os impedem de conseguir isso?
Pouquíssimos países têm sistemas bem estabelecidos de bibliotecas prisionais administrados por bibliotecários profissionais. Na maioria dos lugares, elas são administradas por funcionários designados da prisão, com a ajuda de reclusos ou voluntários da comunidade que não receberam ou receberam pouco treinamento em biblioteconomia prisional.


4) Que escopo existe para a aprendizagem e o intercâmbio mútuos entre bibliotecários penitenciários e outros bibliotecários?
As bibliotecas prisionais fazem parte da comunidade mais ampla de bibliotecas. Idealmente, os presos devem receber os mesmos serviços de biblioteca que as pessoas que vivem fora da prisão. Existem sistemas em que as bibliotecas prisionais são ramificações da rede de bibliotecas públicas locais. Isso garante padrões profissionais e a chance de introduzir prisioneiros em um serviço público que, esperançosamente, eles continuarão usando quando forem libertos. Em outros países, o sistema de bibliotecas públicas fez um esforço organizado para modernizar as bibliotecas prisionais de acordo com seus padrões. De qualquer forma, bibliotecários públicos e prisionais devem se conectar e trabalhar juntos. Eles podem se reunir regularmente, compartilhar materiais e planejar atividades comuns, como leituras de autores dentro e fora das prisões. As bibliotecas prisionais também podem participar de atividades culturais da comunidade em geral, como noites de leitura ou eventos de leitura em voz alta, que podem servir como uma ponte perfeita entre os dois mundos.


5) Que medidas você planeja tomar para garantir que os tomadores de decisão compreendam o valor de bibliotecas prisionais eficazes? O que você espera que eles façam?
No meu Instituto, o Instituto para a Aprendizagem ao Longo da Vida da UNESCO, publicaremos em março um resumo de políticas sobre bibliotecas prisionais destinadas a tomadores de decisão. Ele será distribuído no próximo Congresso do Crime da ONU em abril de 2020, alcançando autoridades penitenciárias de todo o mundo. Este mês, meu livro sobre bibliotecas prisionais foi publicado em alemão. Enviaremos para todas as prisões de língua alemã na Alemanha, Áustria e Suíça. Duas cópias cada, uma para a administração penitenciária e uma para o serviço de biblioteca da prisão. Além disso, forneceremos a todos os ministros federais alemães e senadores da Justiça uma cópia gratuita.
Para enfatizar ainda mais o potencial transformador das bibliotecas prisionais precisamos realizar e coletar mais pesquisas sobre os benefícios e os impactos das bibliotecas prisionais e encontrar maneiras de compartilhar essas descobertas com os tomadores de decisão. Os documentos de políticas internacionais já pedem o estabelecimento de bibliotecas prisionais, mas não fornecem diretrizes ou padrões de qualidade, particularmente sobre financiamento. Os tomadores de decisão podem ter a melhor intenção e consultar as políticas mais bem escritas, mas se no final do dia eles não fornecerem orçamento suficiente para materiais, atividades e treinamento contínuo para os funcionários da biblioteca da prisão, o serviço da biblioteca simplesmente não alcançará seu potencial.


6) Como você planeja levar esse trabalho adiante na IFLA?
No Congresso Mundial da IFLA em Atenas, em agosto de 2019, iniciamos um Grupo de Trabalho sobre Bibliotecas Prisionais. No momento, compreendemos cerca de 40 bibliotecários penitenciários e bibliotecários públicos, acadêmicos e pessoas que trabalham em organizações da sociedade civil com foco em apoiar as bibliotecas penitenciárias. O grupo já forneceu informações valiosas para o as políticas acima mencionadas para as bibliotecas prisionais. Em uma próxima etapa preencheremos a página do projeto recém-criado das bibliotecas prisionais, localizado no site da Seção da IFLA sobre Serviços de Biblioteca para Pessoas com Necessidades Especiais (LSN), com informações relevantes.
No início do verão, começaremos a atualizar e revisar as Diretrizes da IFLA para a prestação de serviços de biblioteca para apenados, pois as atuais diretrizes datam de 2005. As novas Diretrizes serão apresentadas em uma sessão sobre bibliotecas prisionais, que ocorrerá no Congresso Mundial da IFLA em Roterdã em agosto de 2021, onde esperamos também poder visitar uma biblioteca prisional.



A maioria das bibliotecas prisionais enfrentam desafios significativos. Elas geralmente são insuficientemente financiadas, não são muito atraentes e estão localizadas em locais inadequados e inacessíveis. Além disso, elas geralmente precisam contar com materiais doados e frequentemente desatualizados que não refletem os interesses, níveis de leitura, habilidades linguísticas ou necessidades da população carcerária. Em muitas bibliotecas prisionais um foco especial deve ser dado aos prisioneiros com baixos níveis de alfabetização e com formação em idiomas não nativos. Isso pode ser feito fornecendo materiais fácil leitura e em vários idiomas, mas esses materiais específicos não estarão disponíveis em muitas bibliotecas prisionais.

Entrevista originalmente feita pela IFLA (Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias). 
Tradução: Anderson Santana, Bibliotecário, Chefe Técnico do Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). 

9 de jun. de 2020

Bibliotecas Prisionais Francesas




Ler é um direito

Na França, os direitos fundamentais dos presos, incluindo acesso a livros e leitura, são firmemente defendidos pela Controladoria Geral dos Locais de Privação de Liberdade (CGLPL), sob coordenação de Adeline Hazan, membro do Parlamento Europeu. Hazan luta para garantir o respeito dos direitos fundamentais das pessoas privadas de liberdade e foi responsável pela publicação de uma lista de recomendações para o livro e a leitura nas prisões francesas. O documento saiu no Diário Oficial francês, em 4 de junho de 2020. 


As Bibliotecas Prisionais, da França,  estão sujeitas a restrições específicas de tempo e espaço. Embora as bibliotecas sejam locais de educação, informação, cultura e intercâmbio, no cárcere, elas estão em lugares fechados, de difícil acesso e enfrentando muitas dificuldades humanas e econômicas. As administrações penitenciárias receberam uma liminar para facilitar a Educação dos condenados. Além disso, a leitura é, portanto, um direito fundamental não limitado por uma decisão judicial e “cada estabelecimento penal (prisão) deve ter uma biblioteca […]”. A obrigação de disponibilizar uma biblioteca é um caso único na França e específico para o ambiente fechado prisional. Nada exige, por exemplo, funcionários específicos para disponibilizar aos cidadãos uma estrutura de leitura pública. 


Na prisão, onde a liberdade de ir e vir estão limitados, a administração penitenciária, de cada instituição penal francesa,  deve "garantir o desenvolvimento cultural" por meio de parcerias com Bibliotecas Municipais, Departamentos Regionais de Ação e Cultura (DRAC) ou o Centro Nacional do Livro (CNL).


As missões dessas bibliotecas na prisão, estão claramente estabelecidas na circular do Ministério da Justiça de 03 de maio de 2012 e no relatório nº 9712 de 2006 da Federação Internacional da Associação de Bibliotecários (IFLA). São elas:

- luta contra o analfabetismo;

- treinamento e profissionalização;

- recursos educacionais;

- informação;

- lazer;

- socialização.

Cada uma dessas missões tem como objetivo a reintegração dos presos e cada uma encontra sua emblemática. Por exemplo, os funcionários que trabalham nessas estruturas, apontam, dentre tantos problemas: instalações apertadas, acessibilidade limitada, falta de recursos financeiros e humanos, alto índice de analfabetismo, ausência de locais para exercícios físicos e profissionalizantes, inexistência de salas de aula, locais de informação/lazer/socialização.

A falta de recursos alocados pela administração penitenciária às bibliotecas é um fator importante na explicação das dificuldades de funcionamento das Bibliotecas Prisionais. O orçamento médio de aquisição é de cerca de 1.000 Euros por ano. Essa soma é claramente insuficiente para fornecer coleções novas, diversas e de qualidade. A idade média das coleções, quase exclusivamente composta por doações em determinados estabelecimentos, é de 5 a 10 anos. Os livros costumam ser o único meio disponível, embora outros meios, como o audiovisual, sejam preferidos por causa do alto índice de analfabetismo e da complicada relação que a maioria dos prisioneiros tem com a leitura. Sob essas condições, é muito difícil oferecer uma oferta de qualidade e em quantidade suficiente. A oferta de atividades culturais é menos impactada por essa falta estrutural e de meios, na medida em que é possível solicitar financiamento público ou privado. Diferentemente das aquisições, os projetos culturais da biblioteca podem ser levados em consideração na programação do estabelecimento. Ressaltando que os DRACs podem participar no financiamento dessas ações, além de fundos europeus. O que não pode deixar de prevalecer é que “Ler é um direito” de todo e qualquer indivíduo. 



Artigo, originalmente, publicado no "Boletim de Bibliotecas da França". 


Referências: 

6 Código de Processo Penal, art. D 441-2.

Constituição de 4 de outubro de 1958, art. 66

Código de Processo Penal. Op. Cit.



FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DE ASSOCIAÇÕES E INSTITUIÇÕES BIBLIOTECÁRIAS. Bibliotecas / bibliotecas de mídia em estabelecimentos penais, ficha técnica 4, 3ª edição, relatório nº 97, 2006.

Código de Processo Penal, art. D44-1: "Um programa cultural, resultante da representação mais ampla dos setores culturais, é implementado em cada estabelecimento penal".

Este artigo foi retirado de: "Toda prisão tem sua janela". Bibliotecas Prisionais, Islã e Secularismo ”em Bibliotecas, religiões, secularismo / sob a supervisão de Fabienne Henryot. Editora: Paris: Hémisphères: Maisonneuve & Larose, DL 2018. Descrição: 1 vol. (281 p.): Il., Mapas, gráfico., Capa eu vou. na cor. ; 24 cm

5 de mai. de 2020

Primeiro Doutorado sobre Bibliotecas Prisionais


No Brasil, a criação de Bibliotecas Prisionais é legitimada por meio da Lei de Execuções Penais (LEP – Lei Federal nº 7.210 de 11 de Julho de 1984) que diz em seu art. 21, Capítulo V, que: 

“Cada estabelecimento penal deve ser dotado de uma biblioteca, para uso de todas as categorias de reclusos, provida de livros instrutivos, recreativos e didáticos”. 

Quatro anos mais tarde, o direito a informação é assegurado a todo e qualquer cidadão, conforme a Constituição Brasileira de 1988, prescrito no Artigo 5º, inciso XIV, o que solidifica ainda mais a LEP das Bibliotecas Prisionais, corroborando para que todo o individuo brasileiro, inclusive os encarcerados, tenham acesso à informação.

Passadas mais de três décadas, em 2017, a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) deu voz e representatividade para as unidades de informação no cárcere, ao montar a primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP). Foram trinta e três anos de negligenciamento biblioteconômico e, não obstante ao descaso do governo, apenas agora temos a primeira Tese, no Brasil, sobre a temática.

O Doutor - Ciro Monteiro é Agente Penitenciário, foi Diretor substituto do setor educacional do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP); Formado em História (UNESP), Biblioteconomia (USP), Mestre em Ciência da Informação (UNESP) e Doutor em Ciência da Informação (UNESP). Ele também faz parte da CBBP, convite que lhe foi feito ainda dentro do “Primeiro Fórum Brasileiro de Bibliotecas Prisionais”, ano passado. Sua linha de pesquisa partiu da sua própria experiência com os livros e a leitura intramuros das prisões e abarcou justamente os espaços de leitura na prisão. A Tese foi defendida no final do ano passado, 19 de novembro. Segundo o próprio Ciro, é preciso refletir sobre as possibilidades de atuação do bibliotecário no interior do cárcere. 

E ele conta um pouco se sua trajetória: 

Fui funcionário da prisão por 10 anos, atuando diariamente como mediador de leitura, estruturação de bibliotecas e projetos de incentivo à leitura e produção do conhecimento. A prisão é também nosso espaço de atuação. Deixo um trechinho do meu diário de campo para despertar curiosidade em vocês:

"Hoje algo que emociona qualquer pessoa vinculada à ideia de educação como forma de transformação da humanidade, tomou conta do meu ser. Era final do dia e ainda faltava coletar assinatura dos presos em documento que autorizava o setor de educação a publicar suas poesias para o evento Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto, o qual a unidade foi convidada a participar e levar a produção de poesia dos educandos feitas por meio do projeto Rompendo as grades com poesia”. 


A ideia, discorre Ciro, era fazer um varal de poesia com as melhores poesias que foram depositadas na “caixa de poesia” para serem expostas no evento. 

"Fui até o pavilhão onde estavam todos os presos soltos e falei o nome de quais educandos tiveram a poesia selecionada. A reação foi impressionante. O caminho do educando até chegar para assinar o documento que estava em minha mão na porta do pavilhão, lembrava a passagem de um astro de futebol. Os demais reclusos gritavam, batiam palmas e passavam a mão na cabeça do contemplado. Toda essa glória por conta da produção de conhecimento é o que mais satisfaz o coração de um educador". 



Atualmente, Ciro é coordenador da  Biblioteca Pública Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto (SP. Ele pediu exoneração do Sistema Penitenciário para se voltar exclusivamente nos fazeres bibliotecários dedicados ao social, com atividade totalmente inclusivas. "Aqui fizemos chá das pretas, rodas de preconceitos na literatura e conferência sobre pessoas com deficiência...", relata Ciro. 


Em março deste ano, Ciro organizou um evento em comemoração ao dia do bibliotecário, 12 de março: "Livro, Leitura e Biblioteca na Prisão". Levou para ministrar fala, um egresso do sistema prisional e o atual monitor (reeducando) da sala de leitura do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) de Jardinópolis (SP), Florindo Cassimiro Junior. 

Florindo Cassimiro Junior

"Ele é um monitor excelente, que faz um ótimo trabalho", afirma Ciro, acrescentando que o reeducando atualmente cursa graduação de Biblioteconomia (secundarista) na modalidade Ensino a Distância (EAD).

Para grande parte dos bibliotecários, a Biblioteconomia Social é redundância, afinal, a Biblioteconomia por si só é social. No entanto, embora tenha nascido completamente humanista e com viés erudito, pós o tecnicismo Deweyniano, que visava apenas a organização das obras do conhecimento, nós perdemos a nossa nascente, para não dizer a identidade. Simplificando, no sentido figurado, seria como alguém dizer seu nome sem citar o sobrenome. Ora, quantas pessoas de mesmo nome têm por aí? Então é necessário inserir o sobrenome, para então dar a origem evolutiva de nossa história. Da mesma forma acontece com a Biblioteconomia. Atribuindo o “Social”, conotamos a essência, almejando exclusivamente mostrar que a técnica bibliotecária não pode ser avessa ao social e sim parceira, andando lado a lado. Não exercemos, em tese, nossa aplicabilidade bibliotecária para os pares e sim para o leitor. Eis a base da Biblioteconomia Social: um fazer bibliotecário voltado ao povo e pelo povo, principalmente aos excluídos da sociedade, às comunidades em vulnerabilidade social. E este é o trabalho do Ciro Monteiro que nos enche tanto de orgulho e admiração.

E sim, a representatividade das Bibliotecas Prisionais tem um "Doutô SimSenhô ". Orgulho define. Inspiremo-nos! 

Apenados utilizando a Biblioteca Prisional