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Edson Nery da Fonseca - O eterno Mestre

"Eu não tenho sequer pós-graduação, não tenho mestrado, doutorado, tenho apenas um bacharelado em uma ciência que ninguém leva a sério chamada Biblioteconomia."

Biblioteconomia Social

"A interação entre a técnica e o social me fez conceber o que intitulo de Biblioteconomia Social..."

Shiyali Ramamrita Ranganathan

"A informação necessita encontrar todos os leitores e todos os leitores devem encontrar as informações."

Jean Piaget

"O ser humano é ativo na construção de seu conhecimento e não uma massa 'disforme' a ser moldada pelo professor."

Michel Foucault

"A prisão do jeito que é hoje, é inócua porque “se eu traí meu País, sou preso; se matei meu pai, sou preso; todos os delitos imagináveis são punidos de maneira mais uniforme. Tenho a impressão de ver um médico que, para todas as doenças, tem o mesmo remédio. E um remédio que não cura!”.

16 de dez. de 2017

Biblioteca Prisional é inaugurada em Cajazeiras - PB


Biblioteca Prisional - Sobre a inauguração da Biblioteca no Presídio Padrão de Cajazeiras, Paraíba: Várias pessoas vieram falar comigo em alusão a esta unidade de informação implantada no cárcere, localizada no sertão da PB.

No entanto, por mais que eu lute arduamente para que as Bibliotecas Prisionais possam de fato ser realidade na rotina intramuros prisionais, ainda que eu comemore cada noticia em que os livros atrás das grades deixam de ser raridade e passam a ser alternativa de remição de pena, não posso compactuar jamais com a conotação de "assistencialismo" quando fazem alusão a uma Biblioteca Prisional sob alegação, do tipo: 

"Ah, foi uma ótima ideia"; 
"Qualquer apenado vai poder ter acesso a biblioteca"... 

Existe uma coisa chamada "direito" e isso não está sob concessão que alguém tem que dar, mas sim dentro daquilo que ninguém - em tese - pode tirar, ou seja, os presos não só podem como devem ser presença na biblioteca. Sem contar que "Biblioteca Prisional não é ideia", mas prerrogativa legal. 

Por fim, não consigo conceber que uma "Gerente Regional de Educação" afirme que o "preso está fora da sociedade". Como assim? Não, o apenado está em verdade privado da liberdade, mas jamais deixou de fazer parte da sociedade, ainda que finjam não vê-los como tal. Por isso sou contra o termo "ressocialização". Aliás, os altos muros prisionais, como já bem disse Foucault, não foram feitos exatamente para assegurar que o preso não fuja e sim para que a sociedade não os veja nem de longe, assim fica mais fácil fazer de conta que eles não existem. 

Em suma, fico feliz por cada Biblioteca Prisional inaugurada, compreendida que ela é o verdadeiro laboratório para a Educação no cárcere, bem como a eficácia da remição de pena por meio da leitura. Mas que ela não seja tomada como "boa ação" e sim como aplicação da lei. Ponto! 

Fonte do Vídeo: TV Sertão da Paraíba

4 de dez. de 2017

Desabafo do familiar de um preso sobre o "Bandido Bom é Bandido Morto"

O senso comum tornou-se o maior entendedor do “Sistema Prisional Brasileiro”, conjecturam como se tivessem propriedade de fala e consistência verídica nas fundamentações. No entanto, os mesmos que apregoam que “Bandido Bom é Bandido Morto”, jamais colocaram seus pés numa instituição penal ou tão pouco buscaram informações verídicas sobre como de fato e verdade funcionam e são as prisões brasileiras. A pergunta que a sociedade deveria fazer-se é simples: “Como desejamos que os egressos do sistema penal retornem da restrição de liberdade?” Afinal, se a intenção do cárcere é punir e reeducar, como explicar a grande reincidência? Resposta óbvia: o sistema apenas pune! 

Ao contrário do que dizem os “entendedores de bandidos”, a criminalidade não se resolve tão somente prendendo um individuo , abarrotando os muros prisionais ou mesmo “matando”, pois enquanto o senso comum comemora a prisão do “chefe da boca tal” ou o “líder da quadrilha X”, os grandes fomentadores da criminalidade seguem soltos, sentados nas cadeiras do poder, não fazem uso de armas, mas de canetas e amigos “influenciáveis”, que os mantem livres e agindo como verdadeiros “tubarões” do crime organizado, enquanto o tal senso comum celebra a prisão dos “peixinhos”. 

Sigo bradando: Criminalidade, na raiz do problema, se combate com Educação. Ponto! Agora, para fazer isso, é preciso limpar o país e a sujeira não está no cárcere, mas nos bastidores do poder politico do nosso país. 

Os deixo com o desabafo de um familiar de preso do Estado do Rio de Janeiro, que por uma questão de ética, não será citado o nome. Palavras contextualizadas na integra por quem conhece e convive com a situação prisional na condição direta de família de apenado.


Aqui vai um grande DESABAFO! 

Sabe tô cansada de ouvir ou ler post de pessoa dizendo que Bandido bom e bandido morto, que pelo menos morto não darão gasto ao Governo! 

Primeiramente o Sistema Prisional Brasileiro é medieval, não evoluiu em nada desde a década de 70 e 80, que é quando foi construído , há muitos presídios que foram construídos há mais de 40 anos e nem reforma tiveram, abrigam entorno de 5 vezes a mais que a capacidade limite deles! 

Se forem pesquisar, dizem que um DETENTO dá o gasto de quase R$ 2.000,00 ao Governo !!! Agora a você que reclama disso, QUE FALA MAL E HUMILHA ATÉ OS FAMILIARES e nunca entrou em uma penitenciaria e com certeza não foi atrás de informação! E Pura MENTIRAAAAAAA, Presidio hoje é maquina de lavar dinheiro para ladrão de Terno e Gravata... PRESIDIO é um deposito de pessoas, preso não tem acesso a educação, há cultura nem a saúde! 

A partir do momento que se cai preso já não existe nenhum direito garantido! Higiene lá dentro por parte do governo que DIZ que mantem não existe. Alimentação é péssima, quase todos os dias blindada, marmita ou xepa e entregue azeda, a garantia de saúde não existe, remédio que em pautas dizem que gastam tanto também não há ! Se você não tiver família, você passa fome, quem banca o detento lá dentro é a família! Todo Material de Higiene, toda alimentação, todo remédio, vestimenta ou aquilo que o governo se gaba dizendo que da é mentira! Se não for a gente que esta aqui fora, o preso morre lá! 

Então você que critica , saiba que você está sustentando ladrão sim, mas lá no Senado, lá em Brasília! Porque no presidio quem sustenta e a família...
(Familiar de preso/RJ) 

27 de nov. de 2017

Educação No Cárcere: apenada vence concurso de redação no Piauí

“Me senti desafiada, porque achava que não conseguiria escrever uma redação com esse tema”

diz Fernanda Lima, reeducanda da Penitenciária Feminina de Teresina que venceu a terceira edição do concurso de redação promovido pela Defensoria Pública da União (DPU), que teve como tema “Menos grades e Mais Direitos”. 

O concurso era exclusivo para alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do ensino regular, mas, neste ano, incluiu pessoas privadas de liberdade nas penitenciárias do país. Além de incentivar a leitura e escrita, o concurso é uma oportunidade de mostrar os conhecimentos adquiridos no campo educacional. 

“Quase não acreditei no resultado. Foi muito desafiador fazer uma redação com esse tema, porque, se eu estivesse lá fora, não saberia como escrever. E, aqui no presídio, eu tive a responsabilidade de escrever sobre o que eu e minhas colegas de cela passam e precisam”. - Fernanda Lima - apenada. 

O concurso teve 6.607 redações inscritas, das quais 5.044 foram de reeducandos do sistema prisional. O Piauí inscreveu 20 detentos – sendo 15 da Penitenciária Feminina de Teresina e 5 da Colônia Agrícola Penal Major César. Fernanda está presa há quatro meses e participa de projetos de ressocialização realizados na unidade. Os classificados em primeiro lugar no concurso de redação ganharão um tablet – o prêmio será entregue no dia em que deixarem a prisão – e as respectivas unidades prisionais receberão uma premiação no valor de R$ 10 mil, para serem aplicados em equipamentos e projetos que contribuam para a educação dos detentos. 

Na Penitenciária Feminina, Fernanda Lima participa do programa Mulheres Mil – desenvolvido pelas
secretarias de Estado da Educação e de Justiça e que visa à capacitação profissional de detentas – e está no preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quero fazer Enfermagem”, conta. 


A coordenadora de Ensino Prisional, Jussyara Valente, destaca que “vimos que concorrer a esse prêmio seria uma oportunidade de mostrar os conhecimentos adquiridos pelos reeducandos em sala de aula, além de ser uma forma de motivar e mostrar a importância da educação na humanização do sistema prisional”. 

Na visão da secretária de Educação, Rejane Dias, o Piauí vive um processo de valorização das mulheres e que “o esforço do Governo do Estado é qualificar as reeducandas do sistema prisional, com cursos profissionalizantes, educação básica e dando suporte para que ingressem no ensino superior”.  O secretário de Justiça, Daniel Oliveira, observa que os investimentos em educação no sistema prisional têm proporcionado resultados relevantes. De acordo com a Secretaria de Justiça, pelo menos 36% de detentos estudam, hoje, nos presídios, e houve um crescimento de 292% no número de presos estudando, nos últimos três anos.

“Acreditamos que a educação é capaz de mudar a realidade dessas pessoas, afastando-as da criminalidade e colocando-as no caminho da cidadania. Portanto, nosso intuito é oferecer oportunidades de ensino, trabalho e assegurar direitos, para que elas possam, de fato, mudar de vida”. Daniel Oliveira - Secretário de Justiça


Fonte: Secretaria de Justiça do Piauí

7 de nov. de 2017

Depoimento: A rotina de um bibliotecário prisional americano

Por Andrew Hart, Ohio (EUA)

Andrew Hart, Bibliotecário
Quando alguém menciona algo relacionado a uma biblioteca da prisão, alguns podem imaginar uma sala pequena e escura dentro das entranhas do cárcere e ter até a visão de um bibliotecário cansado, trabalhando entre material antigo e desatualizado, apenados que se arrastam entre as obras das estantes, guardas que alertam para qualquer sinal de problema. Pelo menos, foi assim que imaginei uma biblioteca prisional. Mas isso foi antes de trabalhar em uma por dois anos.

Eu diria a qualquer um que ser bibliotecário da prisão é a atuação de bibliotecário mais difícil, mais gratificante, mais triste, mais feliz, desafiadora, visionária, frustrante e interessante. Eu diria a mim mesmo: "Se você pode sobreviver a esta biblioteca, você pode sobreviver a qualquer biblioteca". As bibliotecas prisionais vêm com uma parcela apertada de desafios, mas, por outro lado, apresentam oportunidades que não são encontradas em nenhum outro lugar na profissão de bibliotecário. A missão de uma biblioteca da prisão é fornecer recursos educacionais e recreativos aos presos. Isso pode assumir a forma de livros, jornais, revistas, filmes e programação de bibliotecas. A esperança é que isso ajude no processo de reabilitação e, o mais importante, fornecer um meio de subterfúgio e distração para que os internos permaneçam sem problemas. Cabeça vazia e mãos soltas é oficina do diabo na prisão.

Um dia normal na biblioteca prisional consistia nos seguintes afazeres: abrir e fechar a biblioteca várias vezes durante o dia enquanto supervisionava cerca de quinze apenados trabalhadores da biblioteca; pedidos, recebimentos e inventários; respondendo cartas dos presos à biblioteca; segregação de visitas; encomendas de periódicos e livros de direito; selecionar doações de livros; esvaziar caixas de empréstimos de livros; responder perguntas de referência; prestação de relatórios; solução de problemas de TI; criação de programação mensal e etc. Como vocês podem ver, esta é uma agenda bastante atribulada e é típica para a maioria dos bibliotecários prisionais. 

Talvez um dos maiores obstáculos para um bibliotecário prisional seja a verba pública para a mesma. Na maioria das vezes, a biblioteca da prisão não faz parte das prioridades governamentais e é negligenciada. As doações de livros são a alma de uma biblioteca prisional. Uma parceria com editoras é uma ótima maneira para uma biblioteca prisional obter livros e substituir o material desatualizado que obstrua as prateleiras. Quando recebia delas as doações de livros, era como manhã de Natal na biblioteca. Os presos apreciavam meus esforços na tentativa de fornecer material novo e a administração prisional gostava das doações porque economizavam dinheiro. Manter obras atuais e novas melhora a imagem da biblioteca para os presos e a torna convidativa.

Na prisão há um lema: "A segurança é priori." Antes de trabalhar em uma, eu tive que me capacitar em como lidar com situações e pessoas dentro do contexto de segurança prisional. O aspecto mais dramático do meu trabalho foi monitorar os internos que visitavam a biblioteca e, ao mesmo tempo, responder perguntas de referência, realizar pesquisas legais e auxiliar os clientes (eu sempre me referi aos internos como clientes quando na biblioteca da prisão). Aprendi a olhar os dois lados ao mesmo tempo e a ser observador de tudo em minha volta. De vez em quando eu parava um agente penitenciário e pedia explicações sobre como identificar uma pessoa suspeita, por exemplo. Em certas ocasiões eu tinha que levantar a voz e outras eu tive que esvaziar toda a biblioteca devido ao mau comportamento.

As oportunidades criativas são abundantes em uma biblioteca da prisão. Workshops, clubes de livros e projetos de serviços comunitários são bem-vindos e necessários. Uma das melhores coisas sobre o meu trabalho foi o prazer imediato que experimentei quando ajudei um preso a encontrar as informações de que precisava ou quando os internos se aproximaram de um workshop e me diziam ter aprendido algo novo naquele dia. Fornecer serviços educacionais, criativos e significativos é primordial. Meu objetivo era encontrar soluções baratas, que incluíam a criação de slideshows e folhetos sobre uma variedade de tópicos, incluindo genealogia, direitos autorais / escrita e astrobiologia - uma recente área de pesquisa científica que busca compreender a origem, evolução, futuro e distribuição da vida na Terra e no Universo (o meu favorito). Eu também supervisionei um programa de serviço comunitário em que os internos receberam certificados para escreverem cartas de encorajamento aos soldados na guerra. 

Os serviços oferecidos pela biblioteca da prisão podem parecer insignificantes, no entanto, em sua maior parte, os internos buscam frequentar a biblioteca na intenção de sair de suas celas e experimentar mudanças na paisagem local. A biblioteca fornece um espaço de encontro para os presos conversarem e conhecerem aqueles que compartilham de interesses comuns. Não era raro que os apenados me explicassem suas histórias de vida; como chegaram à sua situação atual e suas esperanças para o futuro. Naqueles tempos, eu oferecia dicas de livros que correspondiam à sua situação e circunstâncias da vida.

Durante os deveres diários de um bibliotecário prisional, está a seleção de obras para empréstimos aos presos, contudo, vários títulos não são permitidos por uma questão de política institucional. A censura é uma dura realidade para os bibliotecários prisionais e contra a própria ética da nossa profissão. No entanto, a segurança é primordial e, na prisão, alguns direitos foram despojados, incluindo o direito a determinadas obras. 

Se você tem interesse em alguma parceria com a biblioteca prisional de sua cidade, não tenha medo de buscar isso e oferecer assistência. Acreditem em mim, os bibliotecários da prisão recebem toda e qualquer ajuda que possam obter. As bibliotecas prisionais não são masmorras como eu descrevi no início do artigo, mas lugares de aprendizagem, recreação e reabilitação. Um livro pode literalmente mudar uma vida na prisão, eu já constatei isso! Considere a parceria com o sistema prisional do seu estado e ajude a mudar o mundo aqui fora mudando vidas lá dentro.

Aqui estão algumas observações  feitas na biblioteca prisional: 

Autores populares: James Patterson, Louis L'Amour, Patricia Cornwell, JK Rowling, David Baldacci, William Johnstone, Jim Butcher, Stephen King, Dan Brown, Dean Koontz.

Tópicos Populares: Qualquer coisa do Naruto, administração de empresas, autoajuda, cozinha, crochê, línguas, super-heróis.

Pergunta mais comum: "Você pode me ajudar a obter uma estratégia de negócios?"

Pergunta de referência mais inusitada: "Qual é o tempo de gestação para um ratinho de estimação?"

Momento favorito: a hora de recitar poesia na biblioteca.

Pedido de obra mais estranha: um livro sobre agricultura de enguias.

Inesperado: Os presos roubando canetas, embora estivessem amarradas à mesa. 







23 de out. de 2017

Ex-presidiário ministra palestra ao lado de professor universitário no maior e mais importante congresso da área de Biblioteconomia

Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação – Itamar chega nervoso, pergunta se pode mesmo falar sobre sua história, da trajetória que o levou do submundo criminoso às salas de aula na condição de professor. Eu apenas disse a ele: “Seja você mesmo, esqueça a cientificidade e mostre que os livros atrás das grades podem sim fazer a diferença”

Itamar Xavier de Camargo
Ele começou sua fala e eu assumo, chorei copiosamente, afinal, em cada descrição de sua história, vinha à mente os tantos “Itamares” que temos nas prisões brasileiras, impossível não lembrar o meu trabalho a frente da biblioteca prisional e naquele palco pensar: “Sim, chegamos ao principal evento da Biblioteconomia, dos bibliotecários e das bibliotecas. Já não somos invisíveis ou negligenciados”.

O Itamar Xavier de Camargo dedica sua vida a fazer com que as pessoas tenham acesso à cultura, arte e informação. Ele, melhor do que ninguém sabe da importância que isso tem na vida de cada um, pois trilhou um árduo caminho, da infância pobre na periferia de São Paulo, passando pela violência, crime e depois o cárcere, até se tornar um semeador de livros e formar bibliotecas comunitárias em áreas carentes de Presidente Prudente. Sua trajetória de vida é um exemplo do poder de transformação pelo conhecimento e da determinação de um homem e sua luta na busca de sair de uma situação sem qualquer perspectiva de futuro. Quer saber mais sobre o Itamar? Leia seu livro “A Verdade que Liberta”


Professor Jonathas Carvalho
Logo após a emocionada fala de Itamar, tivemos o professor Jonathas Carvalho, do curso de biblioteconomia da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Mestre e Doutor em Ciência da Informação que há anos vem debatendo a questão da importância das Bibliotecas Prisionais e buscando inseri-las também dentro da formação do futuro bibliotecário. De acordo com o professor Jonathas:

“Mais do que uma ampliação de mercado, o reconhecimento da atuação pedagógica da Biblioteconomia em presídios é uma expressão altiva e ativa do trabalho social da área do conhecimento em questão”. 
Leia na íntegra um artigo completo do professor sobre o tema. 

Jonathas encerra sua palestra chamando a academia de Biblioteconomia para o engajamento desta pauta, ressaltando que as Bibliotecas Prisionais são tão bibliotecas quanto as bibliotecas escolares ou universitárias, por exemplo. Bem, pessoalmente sou suspeita para falar deste Mestre, uma vez usei inúmeras falas dele em vários de meus projetos de Biblioteconomia Social e em especial nas bibliotecas prisionais. Tê-lo junto do Itamar, criador e criação, foi realmente emoção que palavras não descrevem. 

Workshop

Workshop
Num segundo momento, aconteceu outra reflexão sobre o assunto, com a presença do Itamar e da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), dentro do “Workshop” que discutia o papel das Bibliotecas Prisionais: utopia ou realidade dentro do cenário brasileiro? 

Com a participação de bibliotecários, professores e estudantes de Biblioteconomia. Deparamo-nos com relatos maravilhosos de pessoas engajadas em projetos dentro do sistema penal, bibliotecas e pesquisas, além da participação de profissionais de outras áreas, como foi o caso dos Assistentes Sociais e Pedagogos. Sabemos que não é utopia, no entanto, ainda longe de ser uma realidade nacional. 

Cleide Fernandes (SNBP/MG); Catia Lindemann (Presidente da CBBP);
Guilherme Relvas (DLLLB); Renata Costa (SNBP/RJ)
Assim, aos poucos, vamos ganhando força e formando parcerias para que, de fato, as unidades de informação no cárcere possam ser aplicabilidade e não tão somente lei no papel. Para tal, ainda no CBBD, realizamos diálogo e obtivemos o apoio do atual Diretor do Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB) do Ministério da Cultura (MinC), Guilherme Relvas. Do mesmo modo aconteceu com o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Rio de Janeiro, sob coordenação de Renata Costa, que já efetua projetos de remição da pena por meio da leitura nas penitenciárias do Estado do Rio e atua diretamente na supervisão das bibliotecas prisionais do RJ. Por fim e não menos valiosa, obtivemos outra ponte, desta vez no Estado de Minas Gerais. Trata-se da bibliotecária Cleide Fernandes, diretora do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas Municipais de MG.

Foi assim que as bibliotecas prisionais  ganharam espaço neste que é o principal evento da área de Biblioteconomia. Pela primeira vez na história, em décadas de realização, tivemos os livros na rotina intramuros das prisões como pauta de discussão. Em suma, comprovamos que 2017 foi literalmente o ano de “renascimento” das Bibliotecas Prisionais. Digo renascer porque em verdade elas já completaram 33 anos, mas apenas agora se tornaram visíveis e foco de atenção, tanto da academia quanto da sociedade – neste caso de modo mais módico e discreto. Mas seguimos nossa luta pelas Bibliotecas Prisionais, agora mais
fortalecidos, bradando que as mesmas não são assistencialismo, mas prerrogativa prevista em lei.

Carlos Wellington (CBBP/MA); Adriana Ferrari (Presidente da FEBAB);
Catia Lindemann (CBBP/RS)
Fica nossa gratidão a  Adriana Ferrari, presidente da Federação Brasileira das Associações de Bibliotecários (FEBAB), entidade que além de ser a responsável pelo CBBD, também montou a primeira Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP), oportunizando representatividade para que estas pudessem verdadeiramente ter voz e inserção dentro da área de Biblioteconomia e no país como um todo. Agora é respirar e seguir em frente porque a luta continua. Inspiremo-nos!

13 de out. de 2017

Redução de Pena por Meio da Leitura e o Ensino Superior abrem nova perspectiva dentro do Sistema Prisional



             Projeto de educação transforma vida de reeducandos em Alagoas
FOTO: JORGE SANTOS/ASCOM

Quando eu vim preso, perdi tudo. Eu pensava só em como iria recomeçar, não tinha em mente como faria isso. A maneira que eu achei foi por meio da educação, porque quando a gente começa a estudar, começa a focar em algo, as ideias vão fluindo, vão vindo projetos e tudo mais, e você vai tendo uma visão do que vai fazer quando sair", conta o reeducando Cícero Júnior, de 34 anos.


Condenado por roubo a 20 anos de prisão, hoje Cícero é estudante do sexto período de administração. Aprendeu com os erros que cometeu e já faz planos ousados para mudar a sua história, pelas mãos da educação.


"Fui envolvido num assalto que aconteceu em 2009 e terminei parando aqui no sistema prisional por conhecer pessoas erradas. É como eu sempre digo, errar é humano, o errado é continuar no erro, nunca é tarde para recomeçar. Então hoje eu pretendo terminar minha faculdade, fazer meu mestrado e se Deus permitir chegar a meu doutorado".

Cícero Junior é só um dos exemplos de reeducandos do sistema prisional alagoano que estão tendo a oportunidade de escrever uma nova história. Como ele, outros 12 detentos cursam o ensino superior dentro do sistema, divididos entre os cursos de administração, geografia, história, educação física, análise e desenvolvimento de sistemas e gestão de recursos humanos.


Realidade de reeducandos de Alagoas está sendo transformada
FOTO: JORGE SANTOS/ASCOM
Os cursos são 100% online e acontecem na sala de informática do Núcleo Ressocializador da Capital, com acesso nos horários programados e mais uma hora disponibilizada no horário noturno para estudos na biblioteca da unidade. A iniciativa partiu dos próprios reeducandos e de gestores do núcleo, que solicitaram à Vara de Execuções Penais de Alagoas autorização para que os detentos participassem do vestibular da Universidade do Norte do Paraná - Unopar. O projeto deu certo e desde então o número de presos interessados em cursar faculdade tem crescido a cada ano.

A mensalidade dos cursos é paga pelos próprios detentos com a remuneração que eles recebem pelo trabalho desempenhado dentro do sistema. O número de estudantes do ensino superior só não é maior justamente porque alguns ainda não têm condições de pagar essa mensalidade, por isso, o estado tem buscado parcerias para ampliar as oportunidades, como nos explica o chefe do Núcleo de Ressocialização, Élder Rodrigues.

Secretário Marcos Sérgio fala sobre a parceria com instituições de ensino superior
FOTO: ASCOM

"Nossa meta é tentar chegar a 30 universitários até o final do ano, hoje temos 13 e mais 20 que concluíram o ensino médio, mas infelizmente não têm condições de pagar uma universidade. Por isso estamos indo agora buscar parcerias. Fomos contemplados pelo Senai, com cursos de iniciação profissionalizante e cursos técnicos. Estamos também fechando com o Senac. Se conseguirmos, teremos não só curso superior, mas também pós-graduação e cursos técnicos", diz o gestor.

A oferta de educação formal no sistema prisional alagoano teve início em 2011, impulsionada por alterações na Lei de Execuções Penais (LEP). Nesse período, inúmeras transformações ocorreram e o acesso ao conhecimento através da educação tem sido uma ferramenta fundamental para mudar a vida dos reeducandos.

Como a de Jadielson Barbosa da Silva, de 46 anos. Envolvido em um homicídio nos anos 90, Jadielson foi condenado a 105 anos de prisão. Chegou a ser solto em 2001, mas voltou ao presídio após ser julgado em definitivo em 2012. Durante esses anos, foi gerente de uma rede de açougues em São Paulo e por isso escolheu o curso de administração. Ele espera por recursos que estão em andamento na justiça e se um dia voltar à sociedade, quer buscar novamente seu espaço no mercado de trabalho.

"Como eu já era dessa área de administração, foquei nela para quando eu sair, se demorar ou não, quando eu tiver com o diploma eu já terei um espaço maior para trabalho. Se o espaço já é restrito para pessoas normais, para o egresso é ainda mais. Quando eu sair, quero continuar tomando conta da família, como vinha desde 2001, agora com diploma e uma vivência muito maior, pois quando você entra no sistema prisional você não sai a mesma pessoa".


Atualmente, o Sistema Penitenciário de Alagoas possui mais de 1.100 vagas para a assistência educacional, divididas entre educação básica, ensino superior, qualificação profissional e preparação para o mercado de trabalho, além de atividades complementares. A busca agora é aumentar ainda mais esses números, como nos fala o secretário de Ressocialização e Inclusão Social, Marcos Sérgio Freitas, que destaca o papel da academia nesse trabalho.

"A gente está aumentando esse número trazendo a academia para o sistema prisional. As academias, como parte da sociedade, tinham também um pouco de preconceito, mas a gente está trazendo a Universidade Federal de Alagoas, a Unopar, o Cesmac, dentre outras. A gente tem essa participação tanto das academias privadas, quanto as públicas, trazendo essa diretiva. Assim como o trabalho, é uma conquista muito grande", comemora o secretário.


Outro exemplo de boa iniciativa é o projeto Lêberdade, um programa que incentiva a leitura, interpretação e construção de textos nos presídios. Como consequência, a ação amplia a educação e cultura dos internos que têm ainda suas penas remidas atendendo aos requisitos do projeto. A iniciativa deu tão certo que está concorrendo ao prêmio anual do Concurso Ações Inovadoras, promovido pela Secretaria do Planejamento, Gestão e Patrimônio do Estado, e tem ajudado ainda a melhorar também os índices de saúde mental dentro do sistema, como nos explica a gerente de educação, produção e laborterapia da Seris, Andrea Rodrigues.

"Esse projeto realmente é bastante promissor, porque ele alcança o maior número de pessoas, uma vez que o livro vai até as pessoas. Durante o período de leitura, o reeducando fica com o livro na cela e aí a gente tem uma oficina que ensina a fazer a resenha ou o relatório, dentro do nível de escolaridade", explica. "


Presos lendo na Biblioteca (Fotos: Jorge Santos)
Está sendo um sucesso. A gente estava com histórico de tentativa de suicídio muito grande e percebemos que depois de começar o projeto essa incidência diminuiu. O Lêberdade tem proporcionado essa liberdade mental", celebra a gerente. Infelizmente, as boas ações ainda esbarram na falta de recursos humanos. A carência de agentes penitenciários atrapalha o desenvolvimento de projetos como o Lêberdade e a oferta da educação dentro do sistema prisional, mas isso é assunto para a próxima reportagem, onde também conheceremos o modelo de unidade prisional que serve de exemplo em todo o Brasil e está inserido no sistema prisional de Alagoas, o Núcleo Ressocializador da Capital, centro da maioria das boas iniciativas apresentadas ao longo desta série de reportagens.

Fonte:  Eduardo Vieira e Adelaide Nogueira - Rádio Gazeta


25 de jul. de 2017

Carta a um Jovem Preso

Caro Luís: suas palavras me emocionam pela força e ousadia. Como um grito no meio da noite. Carta luminosa, escrita com tinta azul, mais ordenada que a caligrafia de seu destinatário. Dividimos a mesma terra, o mesmo céu e a mesma lei. A infância que vivemos nos aproxima um do outro. Irmãos de um tempo sensível, aberto para um mundo indiviso.

Você me lembra um amigo que, dentro do cárcere, e no início do século, também me escreveu, leitor voraz. A essa altura terá deixado a prisão, assim como você vai cumprir a pena, antes dos trinta anos de idade. 

A biblioteca prisional é a descoberta de um novo continente, onde literatura e liberdade coincidem.

Concordo: a literatura abre todas as celas, que são muitas e sutis, quando não invisíveis, dentro das quais vivemos, todos, sem exceção, mais ou menos conscientes da liberdade que precisamos conquistar. Não diminuo, apesar disso, um milímetro de sua dor e inquietação. A sua história acusa a ausência do Estado e o caminho áspero e solitário que o levou ao cárcere. Somos todos culpados, em certo grau, sem exceção, embora o artigo e a pena recaiam sobre o indivíduo. E aqui também nos solidarizamos um com o outro.

Você me impressionou ao falar de Crime e castigo:

Dostoievski continua vivo nas bibliotecas prisionais, requisitado desde o título, com uma visão aberta sobre as humanas vicissitudes. 

Volte ao ponto em que Raskólnikov abre o coração para Sônia. Com lágrimas nos olhos, ela promete acompanhá-lo até a prisão na Sibéria. Como a sua noiva, Luís, que não o abandonou, como reserva de esperança e antídoto contra o isolamento.


O cárcere é um índice de barbárie, com a lógica de uma privação excessiva, avalizada por um Estado ausente, no qual milhares de apenados aguardam, sem advogado, numa interminável de um injusto purgatório, o julgamento a que têm direito, como se fossem almas penadas e não cidadãos. Quem vai responder por uma espera infinita? Sou a favor do fim do cárcere, não somente através dos números sem rosto, das estatísticas, mas pelas visitas que faço a nossos presídios. É preciso enfatizar as penas alternativas, recorrendo ao isolamento somente em caso extremo.

O caminho passa pela mudança do sistema prisional num polo de educação integrada, com escolas e bibliotecas, construindo lá dentro o que não se fez aqui fora. Ler os livros para ler o mundo. Não se pode subestimar o papel da leitura e de sua força libertadora, a mesma que levará você, estou certo, a cursar a faculdade de Direito.

É preciso responder ao desafio de um Brasil mais fraterno. Imagino como queima o desejo de retomar as rédeas de sua própria vida, assumindo-se como sujeito do futuro. Como quem se liberta do passado e de cabeça erguida. Um colega de utopia, capaz de promover a justiça e o acesso aos mais elementares direitos do homem no sistema prisional. Caro Luís: aqui começa uma vida nova.  

Marco Lucchesi


Marco Lucchesi é um poeta, escritor, romancista, ensaísta e tradutor brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras (desde 2011) e também da Accademia Lucchese delle Scienze, Lettere e Arti, na Itália. É professor titular de Literatura Comparada da UFRJ, pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e foi professor visitante de diversas universidades da Europa, da Ásia e América Latina. É colunista do jornal O Globo e colaborador de diversos outros órgãos de imprensa no Brasil e no exterior. Foi editor da revista Poesia Sempre, atualmente é diretor da Revista Brasileira da ABL. 

Destacou-se na área de pesquisa e editoração da Biblioteca Nacional, foi responsável pela edição de catálogos, obras raras e fac-símiles. Foi curador de exposições da Biblioteca Nacional, como as que celebraram os cem anos da morte de dois escritores brasileiros: Machado de Assis, cem anos de uma cartografia inacabada (2008), e Uma poética do espaço brasileiro, sobre Euclides da Cunha (2009). Em 2010, foi o responsável pela grande exposição Biblioteca Nacional 200 anos: uma defesa do infinito. Graças ao seu amplo conhecimento de mais de 20 idiomas, ocidentais e extra ocidentais, destacam-se suas traduções das obras de Rûmî, Khliebnikov, Rilke e Vico. 

Recebeu diversos prêmios, dentre os quais destacam-se o Prêmio Alceu Amoroso Lima, pelo conjunto da obra poética (2008), o prêmio Marin Sorescu, na Romênia, e o Prêmio do Ministero dei Beni Culturali da Itália. Obteve por três vezes o Prêmio Jabuti.


Fonte:  O Globo, 07/06/2017

30 de jun. de 2017

Leitura Livre: Projeto do Piauí possibilita a transformação de pessoas privadas de liberdade por meio da leitura

Como parte da política de ressocialização de reeducandos do sistema prisional do Piauí, a Secretaria de Justiça do Estado realizou, na última quinta (29), a entrega de certificados de conclusão aos participantes do primeiro ciclo do projeto Leitura Livre, na Casa de Detenção Provisória de Altos.

Com o objetivo de possibilitar a transformação de pessoas privadas de liberdade por meio da leitura, o projeto resulta de parceria entre a Secretaria de Justiça do Estado com a Secretaria de Educação, Tribunal de Justiça e a Corregedoria Geral de Justiça do Piauí, sendo atualmente desenvolvido em seis penitenciárias, com previsão de extensão a mais quatro presídios.

No Leitura Livre, os reeducandos são incentivados à leitura de obras da literatura piauiense, brasileira e estrangeira a partir da qual elaboram resumos que são avaliadas por uma comissão técnica. Com a inserção no projeto, o detento possui ainda o direito a remição de pena. Dina Carvalho Miranda, pedagoga coordenadora do Leitura Livre, afirma: 

“O projeto abre um mundo de possibilidades para os reeducandos que estão aqui. Nós sabemos do poder transformador dos livros, da leitura e, com isso, são notáveis as mudanças e a expectativa de ressocialização desses homens.”


Renato César de Carvalho, reeducando participante do Projeto Leitura Livre, fala da importância do projeto no seu cotidiano no presídio, segundo ele:

“O Leitura Livre é muito importante porque visa a busca de conhecimento.
Então é uma iniciativa de incentivo a nós, detentos, para que busquemos essa leitura. É uma iniciativa saudável, haja vista que quando você busca conhecimento, você termina esquecendo um pouco do que é vivenciado aqui dentro do sistema prisional.”

Para o secretário estadual de Justiça, Daniel Oliveira, a iniciativa resulta do compromisso da secretaria na busca pela ressocialização dos detentos. “Esse é mais um projeto onde nós buscamos humanizar o sistema prisional do Piauí, trazendo de volta a dignidade a essas pessoas que, hoje, se encontram privadas de liberdade. É uma prioridade dentro da nossa gestão trabalhar de forma a ampliar cada vez mais a ideia e mostrar que ressocializar é possível”, frisa Daniel Oliveira.

A Secretaria de Justiça do Piauí, em parceria com a Secretaria de Saúde, lançou, na terça-feira (13), os projetos Nortear e Abordagem e Tratamento ao Tabagista. A inauguração solene dos projetos aconteceu na Colônia Agrícola Penal Major César Oliveira, no município de Altos.

Fonte: Ascom Sejus

23 de jun. de 2017

Projeto prevê acesso de presos a curso superior dentro de penitenciária em Mato Grosso

Um projeto que prevê a ressocialização de presos detidos na Penitenciária Central do Estado (PCE), no Bairro Pascoal Ramos, em Cuiabá, por meio do acesso ao ensino superior, deverá ter início em julho deste ano. Inicialmente, serão ofertadas 18 vagas para cursar administração pública, na modalidade de Ensino à Distância. O curso tem duração de quatro anos e os presos interessados deverão passar por um vestibular.

O projeto piloto, chamado “Liberdade de Direito e de Fato”, foi idealizado pelo diretor-adjunto da PCE, Reges da Rocha, como forma de resgatar os reeducandos que cumprem pena em regime fechado por meio da educação. A medida é aponta como uma experiência inovadora e a expectativa é de que o projeto sirva de modelo para as demais unidades penitenciárias do país.

O curso será ofertado pela Universidade Aberta do Brasil, por meio de uma parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). No projeto piloto, apenas 100 reeducandos que já integram um projeto educacional e preenchem requisitos exigidos pela UFMT poderão participar do processo seletivo.

As aulas deverão acontecer em um espaço de 88 m², já construído dentro da PCE. O local deverá abrir três salas de aula, um espaço para tutoria e uma biblioteca.

Como o curso tem duração de quatro anos, os aprovados que conseguirem a liberdade antes da conclusão poderão terminar a faculdade fora da PCE, no polo presencial da UAB na capital. Com isso, outro vestibulando aprovado no processo seletivo, no cadastro reserva, pode passar a cursar o ensino superior.

Termo de cooperação

O projeto já possui a confirmação da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e apoio da UFMT e da Associação dos Servidores da Penitenciária Central (Aspec). Agora, o projeto aguarda a assinatura do termo de cooperação por parte da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh).

Após a assinatura do termo, deverá ser dado início ao processo de aquisição dos equipamentos e títulos necessários.

Campanha

A Comissão de Direito Carcerário da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Mato Grosso (OAB-MT) visitou as instalações onde o curso superior deverá ser ofertado, na PCE, e iniciou uma campanha para arrecadar livros para equipar a biblioteca da unidade prisional.

Reeducandos

Segundo o diretor da PCE, Roberval Ferreira Barros, a penitenciária é a unidade prisional com o maior número de alunos na Escola Estadual Nova Chance, que atende o sistema prisional em Mato Grosso. Dos 3,4 mil reeducandos cursando os ensinos fundamental e médio em todo o Estado, 450 cumprem pena na Penitenciária Central.

Ao todo, existem 18 turmas - da alfabetização ao ensino médio –, que ocupam 11 salas de aula dentro da PCE.

Fonte: Por G1 MT

14 de jun. de 2017

Xadrez que Liberta: Jogo de xadrez reduz penas de presos


Xadrez que Liberta

O Xadrez Que Liberta já foi eleito o melhor projeto socioesportivo, em 2012, no prêmio Spirit of Sports, concorrendo com 140 projetos de diversas modalidades esportivas e de diversos países. A premiação é concedida pela Sportaccord, órgão que reúne federações esportivas internacionais como a Federação Internacional de Futebol (Fifa) e o Comitê Olímpico Internacional (COI). O prêmio Spirit of Sports foi criado, em 2002, como forma de reconhecimento ao compromisso e ao espírito humanitário dos membros da Sportaccord que utilizam o esporte como ferramenta para a mudança social.

No Brasil, as aulas de xadrez já são realizadas em várias instituições penais. Elas acontecem dentro das bibliotecas prisionais para os reeducandos do regime fechado e semiaberto. Um dos percussores desta iniciativa é  o professor de xadrez Ferreira Júnior, que além de Psicólogo é também campeão de xadrez e ministra aulas de xadrez para os condenados a reabilitação na APAC (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), em Itaúna- MG. De acordo com Ferreira "os objetivos iniciais propostos foram largamente alcançados. Hoje temos livros de xadrez adequado em nossa biblioteca, enquanto as nossas próprias peças e as placas são feitas pelos presos, com tampas de plástico e garrafas pet”. Ele explica que a ideia principal é que, por meio do xadrez, com as suas muitas vantagens, os recuperandos sejam capazes de desenvolver hábitos positivos e exercício da sua capacidade para tomar decisões.

Competições: Apenados do Espírito Santo em disputa Internacional

Quatro internos do sistema prisional do Espírito Santo participaram- em Maio último, do “Intercâmbio Internacional de Xadrez”. Eles disputaram partidas online contra detentos da Cook County Jail, de Illinois, Chicago, nos Estados Unidos. Dos quatro internos, dois são da Penitenciária Agrícola do Espírito Santo (Paes) e dois do Centro de Detenção Provisória da Serra (CDPS). Eles fazem parte do projeto “Xadrez que Liberta”, realizado desde 2008 pela Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) em parceria com a Confederação Brasileira de Xadrez. Atualmente, a iniciativa envolve 160 detentos, de seis unidades prisionais: Centro de Detenção Provisória da Serra (CDPS), Penitenciária Agrícola do Espírito Santo (Paes), Centro de Detenção Provisória de Guarapari (CDPG), Centro de Detenção Provisória Feminino de Viana (CDPV), Centro de Detenção Provisória de Vila Velha (CDPVV) e Penitenciária Estadual de Vila Velha II (PEVV II). Na Cook County Jail também é desenvolvido um projeto de xadrez com os internos. Eles já participaram de um torneio em que jogaram com detentos da Rússia e agora enfrentaram os brasileiros.


Regras


Nas competições, cada jogador participa de duas partidas contra o mesmo oponente. Os jogos são realizados nas Escolas Penitenciárias com a presença de representantes da Confederação Brasileira de Xadrez. Os eventos contam com apoio da Confederação Internacional de Xadrez. 

Pará: Xadrez como remição de pena


Um projeto que ensina xadrez a um grupo de 20 detentos do regime semi-aberto, na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel do Pará, complexo penitenciário de Americano, na Região Metropolitana de Belém, traz uma novidade no âmbito da execução penal no País: a possibilidade de redução de pena para os que participam das aulas. A cada 12 horas de estudo, os detentos reduzem um dia de pena. E como poderão também, após o curso, participar de competições na modalidade, a cada dia de competição são menos 12 horas de pena. Três deles, selecionados em certame interno, participarão do II Torneio Aberto do Brasil do Clube de Xadrez da Cidade Velha, competição internacional que ocorrerá no Hotel Beira Rio, em Belém, nos dias 7, 8 e 9 de julho, com o apoio da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer (Seel) do governo do Pará. A expectativa é de que o torneio reúna em torno de 50 competidores, com a participação de mestres de porte internacional e jogadores amadores do País e do Estado.

Juiz titular da 4ª Vara Criminal de Belém, Flávio Leão elaborou a tese jurídica que embasa o projeto “Prática Desportiva do Jogo de Xadrez como Meio de Remição de Pena”. Fundamentada na Lei de Execução Penal (LEP) e em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), a proposta enquadra, por analogia, o curso de xadrez no escopo das exigências previstas na LEP, que prevê a remição por meio do trabalho e da frequência em curso regular educacional.

Tese

“Há decisões do STJ que permitem a remição pela leitura e pela prática de esportes. O xadrez é esporte e é leitura, porque obriga a ler textos teóricos que te ensinam a jogar melhor, textos que a gente vai distribuir pra eles durante o curso. Se estão jogando xadrez, estão praticando esporte, estão lendo ao mesmo tempo, então por analogia tu podes aplicar o código das execuções penais sobre o trabalho e a frequência num curso regular”, resume o magistrado. A tese jurídica foi apresentada ao juiz titular da Vara de Execução Penal, João Augusto de Oliveira, que a aprovou e expediu portaria validando o curso e estabelecendo as regras para a remição das penas.


O Clube de Xadrez da Cidade Velha, dirigido pelo juiz Flávio Leão, apresentou o projeto, que recebeu o apoio da Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e da Seel. “A tese jurídica fui eu que fiz, eu e o professor José Wilson, que é professor de matemática, funcionário da Susipe, e o professor Orlando Souza, da UFPA”, informa o juiz, professor voluntário do projeto piloto, que dá aulas de xadrez três vezes por semana aos detentos na Colônia Penal.
O curso foi aberto a todos presos do semi-aberto, na Colônia Agrícola, onde a filosofia do regime é de auto-disciplina e auto-responsabilidade, não há grades, muros ou presença ostensiva da PM. “Se ele sai é considerado foragido e se for preso, regride para o fechado”, observa o juiz. O magistrado explica que nada impede que, no futuro, avaliada essa primeira experiência, o curso seja aplicado também aos presos do regime fechado. Segundo o juiz: 

“A gente pode aplicar também no presídio feminino. A gente que é enxadrista sabe que é um jogo que transforma a vida da gente, que estimula o respeito ao adversário, onde tu não agrides, a não ser no tabuleiro, com os ataques, mas tu tens que respeitar teu adversário; às vezes eu comparo o xadrez com um processo judicial, onde um advogado tem que prever qual vai ser a jogada do outro advogado, da outra parte, e aqui também tens que prever duas ou três jogadas adiante, o que exige estratégia e cálculo”.

Expectativas

Fábio Alex, 45 anos, três meses na Colônia Agrícola, avalia o curso de xadrez como uma oportunidade a mais pra ele encurtar o tempo de prisão: “Entrei na remição pela leitura e agora estou aproveitando o xadrez pra agilizar minha volta pra casa, pra família. Quero começar a minha vida novamente, com a família, com a sociedade, eu trabalhava com comércio”, diz ele.

Lucas Rodrigues da Silva, 19 anos, há dois meses na Colônia Penal, diz que o curso é a oportunidade de um reencontro com o xadrez, que ele começou a jogar quando tinha 12 anos. “Só que eu tinha dado um tempo, né, tinha parado, que eu me meti no crime, e agora voltei a jogar de novo” disse ele, que foi preso por homicídio. A expectativa para quando sair “é trabalhar, cuidar do meu filho e, se eu tiver tempo, ainda, jogar xadrez de novo”, promete.

Jônatas dos Santos Sousa, 25 anos, dois meses na Colônia Agrícola, já cumpriu um ano e meio de uma pena de oito anos, por tráfico, e avalia que o xadrez é mais um aprendizado para ajudá-lo até o ano que vem, quando ele aguarda a progressão para o regime aberto. “Voltar de novo pro mundão, né? Tô nessa expectativa aí, tenho meu filho pra cuidar.”

Luiz Gustavo Pinto do Nascimento, 27 anos, nove meses na colônia penal, aguarda ser transferido para o regime aberto em agosto, porque foi aprovado pelo Sisu para o curso de licenciatura plena em geografia do IFPA e irá para a Casa do Albergado, em Val-de-Cans, para frequentar as aulas em Belém. “Eu não jogava xadrez, eu sabia alguma coisa, mas nunca tive a oportunidade de jogar. A expectativa é a melhor possível, porque o xadrez expande a mente, você acaba tendo rapidez no raciocínio, ajuda na memória e também tem a remição, então é muito bom”, resume.

Daniel Marques, 33 anos, 40 dias na Colônia Penal, foi condenado por assalto e avalia mais essa oportunidade de remição como um meio de “ir embora mais cedo, não ficar muito tempo aqui. Eu tenho três remições: o xadrez, a da escola e eu trabalho aqui na acerola, faltam mais quatro meses e eu tou indo embora, já. Pretendo mudar minha vida, arrumar um trabalho, quando eu fui preso não tinha um emprego fixo, quando eu sair daqui, quero ter um emprego fixo, eu trabalho com música, sou DJ de boate, eu tava desempregado, por isso que eu me envolvi em assalto”, relata.

Fontes: Tribunal de Justiça do Estado do Pará; Jornal Folha de Vitória; Equipe Academia de Xadrez Rafael Leitão.


17 de mai. de 2017

Bibliotecas Prisionais - Boletim Informativo

1º Boletim Informativo da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais. Acesse, leia, informe-se, saiba mais sobre as "Bibliotecas Prisionais". Dúvidas, ajuda ou qualquer outro assunto pertinente sobre o assunto, mande-nos um mail: cbbp.febab@gmail.com

3 de mai. de 2017

Livros que Libertam - Detento bate record no Programa Remição pela Leitura

Um apenado conseguiu reduzir sua pena em 112 dias após elaborar 28 resenhas de livros que leu. Ele é o recordista do programa Remição pela Leitura, do sistema penitenciário federal, que prevê a redução de quatro dias da pena pela leitura de cada obra, desde que as resenhas feitas pelos detentos atendam a critérios de estética (usar parágrafos, letra legível), fidedignidade (ou seja, não plagiar) e limitação ao tema. As informações são do Ministério da Justiça, que não divulgou o nome do detento, mas apenas suas iniciais: M.A.R.. Aos 40 anos, ele está preso há 17 e deve chegar ao limite máximo de permanência na cadeia previsto na lei brasileira, de 30 anos, já que sua pena total é de 197 anos. Com quase metade da vida atrás das grades, M.A.R. fez em reclusão o que outros fazem em liberdade. Na penitenciária federal de Mossoró (RN), onde passou os últimos quatro anos, completou o Ensino Fundamental, fez três cursos profissionalizantes, prestou o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) três vezes e até se casou. O contato de M.A.R. com os livros se deu apenas em 2016, quando ele leu desde best-sellers como "A última música", de Nicholas Sparks e "Quem mexeu no meu queijo", de Spencer Johnson, até clássicos como "Memórias de um sargento de milícias", de Manuel Antônio de Almeida, e "O apanhador no campo de centeio", de J.D. Salinger. 

Presos brasileiros já fizeram mais de 6.000 resenhas Coincidência ou não, um dos livros mais requisitados pelos internos das quatro penitenciárias federais é "Crime e castigo", de Dostoiévski. Um clássico da literatura mundial, a obra conta a história de um jovem que enfrenta dilemas morais e existenciais após decidir matar uma agiota. "Nota-se, nessa obra, a que ponto o ser humano pode chegar por causa do dinheiro", escreveu um detento em uma resenha sobre o livro. "Crime e castigo" foi a primeira obra a ser doada para o projeto, que foi criado em 2009 na penitenciária federal de Catanduvas (PR). A doação partiu de juízes federais do Paraná. Desde então, se espalhou por diversas cadeias pelo país. 

Já a Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais (CBBP) salienta que livros no cárcere são sempre bem vindos, seja por meio de doação ou não, no entanto, eles não são beneméritos assistenciais e sim um direito legal do preso:  

“Juízes Federais doando obras e fazendo dos livros uma espécie de assistencialismo no cárcere, quando deveriam em verdade dar o exemplo ao exigir que seja aplicada a Lei que coloca como obrigatória a presença das bibliotecas dentro de toda e qualquer instituição penal”. 
( Catia Lindemann, Presidente da Comissão Brasileira de Bibliotecas Prisionais)

Um dos objetivos iniciais do Projeto Remição de Pena pela Leitura era ocupar os presos, que no caso dos presídios federais passam 22 horas sozinhos nas celas. Segundo a coordenadora-geral de Assistências das penitenciárias federais, Jocemara Silva, é possível perceber que a leitura melhora o desempenho dos detentos que estudam e inclusive fez alguns deles despertarem para a escrita literária. Os livros também trazem aos presos, em certos casos, reflexões morais. "Nas falas de alguns, a gente conseguia perceber noções de moralidade, de perceber que estava ali por causa das suas atitudes", disse.

Resenha sobre "A menina que roubava livros", de Markus Zusak Apesar de as penitenciárias terem bibliotecas com centenas de títulos, as obras que fazem parte do programa Remição pela Leitura são cerca de 20, explica Jocemara. 

Já a CBBP salienta que dentro das quatro penitenciárias federais, três de fato possuem biblioteca, conforme roga a lei. Porém, os números em nível de Brasil para as demais instituições penais são de menos de 50%. 

A adesão dos presos à remição pela leitura nas penitenciárias federais é de praticamente 100% entre os que não são analfabetos. Tem gente que vai ter, na cadeia, o primeiro contato com a escola. No momento, está em andamento uma licitação para a compra de cerca de 100 novos títulos para o projeto. Eles serão diferentes entre si por penitenciária, para que seja possível revezar as obras entre as unidades. 

"Não vou ser utópica, dizer que a gente vai transformar o mundo com um projeto. Mas o preso vai voltar para a sociedade. A pessoa desocupada tem tempo de sobra para pensar em crime. Todos nós saímos ganhando se esse indivíduo, no mínimo, atenuar o nível de violência. Em geral, são livros escolhidos para provocar algum tipo de reflexão ou clássicos da literatura brasileira, voltados principalmente para os presos que querem 
prestar vestibular ou o Enem". 
Jocemara Silva, Coordenadora-geral de Assistências das Penitenciárias Federais 

Segundo o Ministério da Justiça, entre os títulos preferidos estão "Crime e castigo"; "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago; "Dom Casmurro", de Machado de Assis; e "Sagarana" e "Grande Sertão Veredas", de Guimarães Rosa. Os presos têm 30 dias para ler um livro e fazer a resenha. Cada detento pode elaborar até 12 textos por ano, o que representaria uma redução de 48 dias na pena. 

A produção dos internos é avaliada por pedagogos, psicólogos e professores. De acordo com o Ministério da Justiça, 6.004 resenhas foram produzidas pelos detentos das unidades federais desde 2010. Delas, 5.383 foram aprovadas pela equipe pedagógica. "O nível de escolaridade é muito heterogêneo, então temos critérios básicos para abarcar o maior número de presos. A gente faz a avaliação de acordo com o nível de escolaridade e com os critérios básicos: fidedignidade, estética e não fugir do tema", disse Jocemara. 

Fonte: Conselho Nacional de Justiça; UOL Notícias. 



31 de mar. de 2017

OAB de Natal, Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, em parceria com o Curso de Biblioteconomia da UFRN, inauguram Biblioteca Prisional

A Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP) no Estado do Rio Grande do Norte, agora conta com um espaço de leitura para os presos. Em uma sala, que antes servia de alojamento para os apenados que trabalham na unidade, foi inaugurada uma biblioteca na manhã do dia 28 de março. A iniciativa é uma parceria da Ordem dos Advogados (OAB) de Natal, com a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SEJUC). O projeto “Releitura”, permite a redução da pena em quatro dias para cada livros lido, dentro do limite de 48 dias por ano. 

O acervo versa entre livros didáticos e paradidáticos. Clássicos da literatura estrangeira, local e nacional. Algumas das obras disponíveis são “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, “Capitães de Areia”, de Jorge Amado e o “Horto” da poetisa potiguar, Auta de Souza. De acordo com o presidente da OAB, Paulo Coutinho, os livros serão catalogados em parceria com o curso de Biblioteconomia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Conforme explicado por Coutinho, todos os apenados terão acesso às obras por meio de um catálogo. “O livro será levado até o local em que o preso está. A OAB quer trabalhar a ressocialização, porque é uma maneira de mostrar um novo horizonte a essa pessoa, que um dia voltará ao convívio com a sociedade”, disse Coutinho. O juiz corregedor auxiliar do TJRN, Fábio Ataíde, destacou a iniciativa como um dos passos para a restauração do sistema prisional do RN. “O dinheiro existe, as iniciativas que precisam chegar e elas dependem de projetos simples como esse”, frisou o magistrado.

Na opinião do Secretário de Estado da Justiça e Cidadania, Wallber Virgolino, o projeto Releitura “demonstra a preocupação do Estado com a recuperação da dignidade do apenado” e deve “suavizar o sistema”. Wallber acrescenta que o objetivo da SEJUC é implantar o projeto em todo o sistema penitenciário do Estado. “Fico feliz que o sistema esteja sendo trabalhado com uma união de esforços”, disse ele.
Condenado a 7 anos de prisão em regime fechado, Rodrigo César da Silva, 33 anos, vê na biblioteca uma oportunidade de diminuir o tempo na cadeia e de aprendizado, ele explica:


  “A Biblioteca é um estímulo para que a gente passe o nosso tempo aqui. 
A vida na cadeia é muito dura. 
Ter uma oportunidade 
como essa é uma chance de amenizar a rotina pesada.”


A regulamentação atende à recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para cumprimento da lei federal de Execução Penal, que instituiu a remição da pena pelo trabalho e estudo. O projeto “Releitura- remição pela Leitura e Produção de Texto na Execução Penal”, desenvolvido na comarca de Mossoró, se tornou lei no Estado no início de março de 2017. O projeto foi iniciado em dezembro de 2015 e implantado inicialmente com vinte detentos da Penitenciária Estadual Agrícola Dr. Mário Negócio.


A lei torna a SEJUC responsável por proporcionar o espaço adequado, integrar o projeto à rotina das prisões e incentivar os detentos, alfabetizados ou não, a participar. Atualmente, a PEP está superlotada. São 616 presos para pouco mais de 300 vagas. Os apenados estão soltos em dois pavilhões, não existe separação por cela.

SOBRE O PROJETO RELEITURA

"Remição pela Leitura e Produção de Texto na Execução Penal, foi desenvolvido na comarca de Mossoró e agora é Lei no Estado do Rio Grande do Norte. Com redação do juiz coordenador e criador da inciativa, Cláudio Mendes Júnior, e proposição do deputado Kelps Lima, a ideia posta em prática pela Comarca de Mossoró e o Tribunal de Justiça foi promulgada pelo deputado Gustavo Carvalho, presidente em exercício da Assembleia.

Para fazer parte do projeto, o apenado deve ser alfabetizado e ter condições de escrever uma resenha. Segundo o texto da lei, todos os presos custodiados alfabetizados do Sistema Penal do Estado do Rio Grande do Norte, inclusive nas hipóteses de prisão cautelar, poderão participar das ações do Projeto “Remição pela Leitura”, preferencialmente aqueles que ainda não têm acesso ou não estão matriculados em Programas de Escolarização. A lei estadual foi promulgada em 21 de fevereiro.

Cada apenado tem o prazo máximo de 30 dias para a leitura de um livro e deve apresentar uma resenha a respeito do título. Após avaliação do trabalho, o apenado recebe a diminuição equivalente em sua pena. De acordo com o texto aprovado, o custodiado deve manter a estética no texto, se limitar ao tema do conteúdo do livro e ser fidedigno, evitando plágio. Para garantir a remissão, o apenado deve atingir nota igual ou superior a 6, conforme Sistema de Avaliação adotado pela Secretaria de Estado de Educação e da Cultura (SEEC).

COMO FUNCIONA

A remissão consiste no abatimento de quatro dias de pena para cada obra literária lida, limitando-se a 12 obras por ano, uma obra por mês, e 48 dias de remição por ano. Os relatórios de leitura e resenhas permanecerão arquivados pela coordenação de educação penal no estabelecimento prisional no qual desenvolve as ações de Remição da Pena por Estudo através da Leitura até o arquivamento dos autos dos presos custodiados inscritos.

A lei aprovada determina que a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (SEJUC) será responsável por propiciar espaços físicos adequados às atividades educacionais, por integrar as práticas educativas às rotinas dos Estabelecimentos Penais e por difundir informações incentivando a participação dos presos custodiados alfabetizados nas ações do Projeto “Remição pela Leitura”, em todos os Estabelecimentos Penais do Estado do Rio Grande do Norte. O texto também considera a possibilidade do governo firmar convênios, termos de cooperação, ajustes ou instrumentos congêneres, com órgãos e entidades da administração pública direta e indireta para a execução das ações do projeto.

“A leitura, na medida que enaltece o espírito de criatividade, melhora a visão de mundo, permite uma fluência maior nas comunicações interpessoais, potencializa do senso crítico e desenvolve a inteligência emocional e a capacidade de reflexão sobre os problemas sociais, ou melhor, torna a pessoa mais próxima do meio social, criando um verdadeiro sentimento de pertencimento ao meio. Isso é inserção social”, destaca o magistrado Cláudio Mendes Júnior, juiz da 3ª Vara Criminal de Mossoró.

Fonte: Jornal Tribuna do Norte